Pavozzo 25/02/2024
Você acredita em magia?
É uma verdade universalmente reconhecida que, após a leitura de dois ou três livros de um certo autor cuja obra nos agrada, suas expectativas diante de qualquer material novo do mesmo que lhe chega às mãos sejam bastante elevadas - ainda mais tratando-se de uma obra da maturidade, que tem clássicos como "O Hobbit" e "O Senhor dos Anéis" como predecessores. Talvez seja esse o motivo pelo qual não achei este conto grande coisa.
Lembremos, é claro, de que se trata de uma história infantil, da qual não se espera muitas explicações para os acontecimentos narrados. Não obstante, sendo Tolkien, pode-se sempre apostar na presença de pérolas de sabedoria e no uso de alguma linguagem simbólica.
Na vila de Bosque Maior acontece a tradicional "Festividade das Boas Crianças" a cada 24 anos, na qual 24 crianças são convidadas (nem sempre justamente) para comerem uma fatia do "Grande Bolo" - principal iguaria da festa. Nesta edição do festival que acompanhamos, o filho de um ferreiro acaba comendo junto, sem saber, uma pequena estrela oriunda de um lugar semi-desconhecido chamado "Feéria". Ao fazer isso, o garoto passa a ter "acesso" a esse reino, explorando-o e, por tal, tornando-se mais sábio e mais afável às outras pessoas.
Convém refletir aqui, brevemente, no que a dita estrela poderia significar. Uma estrela é um ponto luminoso no céu que permite que nos orientemos à noite. Ao mesmo tempo, ela não faz parte de nossa realidade "física" como uma árvore ou um rio, por exemplo. É intocável, etérea mesmo. Tal estrela permitiu que Ferreirinha visitasse um reino fantástico e saísse de lá mais sábio e "maior", contrastando enormemente com o então Mestre-Cuca, um homem prático e indolente que não acredita em fadas ou magia.
Tolkien parece fazer aqui uma defesa da fantasia e dos contos de fada, sem os quais não só o mundo perderia a graça mas também nos emburreceria, limitaria e nos faria insolentes. A "estrela" seria uma disposição e boa vontade para procurar, acreditar no fantástico e aprender com ele - tanto é que, uma vez ciente de que a ingerira, a mesma vai parar na testa de Ferreirinha, como um "terceiro olho", que o permite ver coisas que os outros não veem.
Uma pena ser tão curta e Tolkien não ter, aparentemente, se interessado em trabalhá-la de modo mais profundo. Para os fãs de Tolkien, para as crianças, e... não; melhor dizendo: para todos que estejam precisando se (re)lembrar de que o limite entre o real e o fantástico é bastante tênue, vale a leitura.