Tami 05/06/2012Publicada em: http://gavetaabandonada.blogspot.com.br/2012/06/resenha-o-passaro.htmlO problema quando a gente gosta de um livro é tentar passar em poucas palavras o porque disso, já que cada detalhe parece essencial. A resenha sempre parece que "falta" algo que não sabemos o que é. Isso já aconteceu com outros livros, e voltou a acontecer hoje.
"Europa, século XIII. Época dos vestidos pomposos, das charretes elegantes e das extensas propriedades de terra com seus castelos, onde perambulavam serviçais, condes, duques, barões e segredos" (Epílogo, pág. 9)
A história se passa no ano de 1227, uma época marcada por grandes senhores feudais com muitos servos, onde mulheres tem como única obrigação ficar calada diante dos mandos de seus pais e maridos.
Caroline Mondevieu é uma de nossas personagens principais. Filha de Enézio Mondevieu - um barão com muitas riquezas - e Antonelle, uma esposa obediente como qualquer mulher deveria ser, Caroline sempre fugiu um pouco do convencional e, em questão de personalidade, sempre foi muito diferente de sua irmã Elizabeth.
Aos sete anos ela tem uma conversa com um servo do castelo que muda sua visão de vida para sempre. O menino abre os olhos de Caroline para as diferenças sociais que existem no lugar que ela vive e como o seu pai trata os empregados. No momento em que ela percebe isso, decide que não quer viver do mesmo jeito da sua família. Porém esses questionamentos a levam a uma péssima situação, que muda a sua vida e os seus desejos: ela decide ser livre.
Só que para a sua época, isso é quase impossível. Então ela tem que decidir entre viver uma vida tranquila do lado do seu grande amigo Filip (com quem deve se casar) ou correr atrás de sua liberdade - e, para isso, precisando fugir com a ajuda de Bernardo, aquele que abriu seus olhos anos antes e mesmo assim ainda a irrita tanto.
"E, como todo homem, tinha uma imagem a zelar. E amar não era nada notório, não lhe garantia títulos nem o engrandecia perante os grandes nomes da sociedade. Amar era fraqueza, como seu pai sempre lhe dissera, e ele devia se prevenir desse mal." (pág. 108)
A trajetória deles e dos outros personagens é muito interessante e vai se transformando a medida que lemos. Personagens submissas como Elizabeth e Antonelle ao poucos vão entendendo tudo o que a menina sempre disse. A própria Caroline aprende a quebrar alguns de seus preconceitos. São personagens reais com características e mudanças que nos convencem.
Temos um número razoável de personagens, e ao mesmo tempo conhecemos bem todos. Não sei qual foi o meu favorito, mas posso dizer que senti muita pena de Filip o tempo inteiro. Caroline as vezes me parecia ser uma menina meio egoísta mesmo. Dinamene (empregada da casa) me pareceu muito querida... e a serpente uma bela piriguete!
A história, apesar da época em que se passa, é narrada de forma leve e simples. É um livro que flui. No início de cada capítulo, logo abaixo do número, temos uma frase do mesmo - normalmente bem instigante -, o que muitas vezes me fez seguir a leitura na mesma hora. Achei isso uma ótima sacada. A capa também é muito bonita e achei a edição bem feita.
Gostei muito do livro, em vários momentos não consegui parar de ler. É um romance bonito, com personagens interessantes e reflexões melhores ainda. Chorei, sorri e fiquei com muita raiva hora ou outra. Seria perfeito para uma novela das 18h. Ou para um mini-seriado.
"A velhice não me trouxe sabedoria alguma. Quem a trouxe foi a vivência. Poderia ter passado todos os anos da minha vida apenas assistindo ao passar dos dias diante dos meus olhos, mas me recusei a isso. Não devo tudo o que sou aos meus anos de idade, e sim à maneira como decidi vivê-los" (pág. 320)
Recomendo: para quem gosta de romance, romance bonito sem tanta melação, é mais do que recomendado!
PS: uma pequena curiosidade. Esse livro veio para mim como book tour, o que geralmente afasta minha mãe de ler por ter pouco tempo. No dia que esse livro chegou ela pegou, leu a sinopse e pegou para ler! Foi a primeira exceção!