Jess.Carmo 05/05/2021
Homem forte x Homem do ressentimento
Aqui podemos encontrar uma forte influência do darwinismo social em Nietzsche. Para ele, a moral do homem comum venceu, porque houve "um envenenamento do sangue (ela misturou entre si as raças)" (p. 25). É esse “envenenamento” que levou o gênero humano a se render à cristianização e plebeização.
Segundo o filósofo, a moral cristã tem como princípio o ressentimento como aquilo que cria e gera valores. Esse ressentimento só pode obter algum tipo de reparação por uma "vingança imaginária". O que vemos nessa obra não é o enfrentamento de duas morais exteriores uma à outra, mas o desdobramento de uma única moral que polariza uma super raça (Homem forte) e sub-raça (Homem do ressentimento).
Não podemos esquecer que a Bíblia (ou, nas palavras de Nietzsche, a moral do homem do ressentimento) foi o que deu forma para se articular "objeções religiosas, morais, políticas, ao poder dos reis e ao despotismo da Igreja. [...] A Bíblia foi a arma da miséria e da insurreição [...] contra a lei injusta dos reis e contra a bela glória da Igreja" (FOUCAULT – 1975 - 1976, p. 60). Portanto, foi esse discurso bíblico que deu condições de possiblidade para o surgimento de um novo discurso histórico oposto ao poder soberano. Portanto, foi essa moral bíblica que possibilitou uma contra-história, oposta à história romana que conservava o poder do rei e da Igreja.
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Em alguns trechos encontramos Nietzsche falando sobre pulsão (trieb), o que terá influência no pensamento freudiano, e que tem forte influência da vontade schopenhauriana. As considerações acerca do esquecimento, como sendo necessário a todo animal, também tem certa articulação com a produção freudiana do conceito de recalque. Também encontramos aqui alguns desenvolvimentos acerca da evitação do desprazer.
Outro ponto de convergência entre Nietzsche e o vienense o assunto é a formação de grupos. Para Nietzsche, os fracos sentem vontade de formar rebanho, comunidade. O crescimento da comunidade faz com que esse homem fraco fortaleça um interesse que o eleva acima do seu desalento, a saber, de sua aversão a si mesmo. Em contraponto, o homem forte busca se dissociar.
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Algumas passagens acerca da neutralidade da ciência são interessantes. Segundo o autor, a produção científica sempre "se encontra sob a sedução da linguagem" (p. 33).
Também encontramos na obra algumas passagens críticas a Hegel, como "não existe ciência 'sem pressupostos', o pensamento de uma tal ciência é impensável, paralógico: deve haver antes uma filosofia, uma 'fé'" (p. 130), uma fé metafísica, já que a verdade é sempre divina.
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A velha preocupação do filósofo se casar ou não também está presente na filosofia nietzschiana. Ele toma partido entre aqueles que acham que o filósofo não deve se casar. Entretanto, o autor dá poucas justificativas.
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Ps.: A paginação das citações presentes nessa resenha é da edição de bolso da companhia das letras.
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