Rangel 02/07/2015
DE UMA MORAL IDEALISTA PARA UMA ÉTICA MAIS RACIONAL EXISTENCIALISTA
Friedrich Nietzsche, filósofo provocador e polêmico, deixou sua obra “Genealogia da Moral: uma polêmica” para analisarmos o conhecimento de que nós não conhecemos e procurarmos nos conhecer. A chave da sua obra é a busca pelo autoconhecimento, através da esperança e do resgate de valores ainda não estabelecidos pela cultura vigente. Nietzsche, ao rebater a filosofia socrática, sempre se apoiou em Heráclito, que enfatizava a razão demonstrar a própria razão.
No decorrer da sua obra, Nietzsche discorre sobre juízos de valor entre bem, mal e ideais ascéticos, o qual sempre esbarra no idealismo cristão. Assim, ele dividiu seu livro em três dissertações, que preceituam morais do próprio homem.
Na 1ª. Dissertação, ele fala sobre o bom e o mau, que considera existir duas classes: a dos senhores nobres (guerreiros e sacerdotes) e a dos escravos. Os guerreiros são a classe dominante, que cultuam a virtude do corpo, e os sacerdotes cultivam o espírito. Assim, no primeiro momento, distingue-se a moral dos senhores nobres e a moral dos escravos. O nobre é o indivíduo com afirmação positiva de si mesmo como ser bom, belo e forte, e por isso, que são conquistadores e poderosos. Não dependem de nada e de ninguém para se sentirem felizes, apenas de si próprios. E deste conceito, há a contraposição do que é ruim, como feio e fraco, que pode ser característico de um plebeu ou pessoa vulgar. Já, a moral de escravos é a moral do ressentido, o qual para ser feliz, considera outras pessoas como superioras a ele, e considera os valores dos senhores maus. Assim, o escravo considera que o bom é fraco e o forte é mau, porque ele inferioriza. E por esse prisma, a cultura ocidental demonstra ser uma cultura de ressentimento, que herdou do povo judeu, o cristianismo, que era ressentido com os romanos. A vitória dos escravos sobre os senhores fortes e dominadores fez prevalecer que os bons são os sofredores e escravizados, assim transmutou-se a ideia de que impotência é bondade, baixeza é humildade, covardia é paciência. Entretanto, a dúvida é a bondade dos escravos, que utilizam de sua imagem de fracos vulneráveis para um contra-ataque e tomada de poder. Foi o que houve com a vitória dos cristãos no Império Romano, que utilizaram a imagem de Cristo como líder, aparentemente vencido, mas vencedor no final, o que deteriorou a moral dos nobres senhores, que tiveram sua moral predominante por muitos séculos. Assim, negar a bondade dos senhores é tomar posse da inferioridade, como figura niilista, o que na verdade, é negar a potência natural do ser humano e se conformar com ressentimento como algo moralmente bom. Daí, a necessidade de preservar a figura do nobre senhor na sua pessoa, no sentido de viver o seu ser criança em buscar de amadurecer e ser adulto, a fim de que se sentir forte, é sentir ser uma espécie como indivíduo que aprende a ser libertado da infantilização.
A 2ª dissertação é a concepção da consciência, de culpa e ideia de dívida, uma vez que o esquecimento é saudável e a memória não é algo natural na concepção da subjetividade da dor. Se Deus é infinitamente bom, a ingratidão é sinal de impureza e sinal de prestação de contas. Assim, o castigo é visto como forma de compensar o sentimento de culpa do ser humano. E a obrigação só é existente entre credor e devedor, a qual foi adaptada feita pelos sacerdotes nas trocas realizadas na antiguidade, sendo Deus, o credor, e os acontecimentos de benefício um acordo de troca, se os homens forem obedientes aos seus ensinamentos e vontade. Entretanto, a cultura ocidental foi inculcada pelo catolicismo, que sempre doutrinou a purificação da alma como renúncia aos impulsos, ou seja, reprimir os instintos, o que faz o indivíduo ter um conflito interno entre desejo e restrição, o que pode levá-lo ao adoecimento. Assim, para escapar desta culpa ressentida, o antídoto é a experimentação, ou seja, o esquecimento de toda carga de culpa pela da dor.
Na 3ª. Dissertação, os ideais ascéticos são tratados como renúncia aos desejos e mortificação das vontades humanas, uma vez que o ideal ascético é o imaginário do bom cristão expressado pelo sacerdote, que prega a negação das vontades terrenas e realizar a vontade de Deus, a fim de encontrar a salvação futura. Tal ideal fez o homem negar a si mesmo em prol de uma recompensa espiritual. Então, o sacerdote cria o querer a nada e nada querer, o que é uma concepção objetiva de querer dominar a vontade e dominar o desejo. Através de tal querer, o sacerdote controla as pessoas pela promessa da recompensa espiritual, e faz isso para evitar o suicídio coletivo e a melancolia. Então, este ideal é a ponte para uma vida futura, ou seja, após a morte, que se abdica da vida hoje querer o nada para viver uma vida eterna feliz. Assim, as pessoas vivem a religião por códigos simbólicos que no futuro, os sofrimentos atuais encontrarão a felicidade certa. Pode-se então concluir que conhecer é desconstruir o que foi assimilado na vida e tentar reconstruir preceitos morais na própria existência.
Assim, conclui-se que Nietzsche faz uma crítica ao catolicismo por exaltar a moral ética dos fracos e subestimando a necessidade ética de ser forte na vida, propõe uma psicologia da consciência em distinguir de ser cruel ou não, nas tomadas de decisões de modo mais racional, e expõe uma crítica ao ascetismo de não querer o nada, mas que o ser humano deveria buscar novos valores existenciais.
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