Larissa 30/01/2022
Publicado em 1938, "Olhai os Lírios do Campo" está inserido em um contexto pré-guerra. Nesta época o mundo já via a ascenção de Hitler como líder nazista e esse clima de animosidade e discussões políticas adentra a narrativa de Érico que, ao retratar o cotidiano da vida urbana no Rio Grande do Sul, mostra como a sociedade lidava diariamente com discursos de ódio e opressão.
É neste cenário que conhecemos Eugênio, um jovem médico ambicioso que sofre de um forte complexo de inferioridade. Existe em seu passado uma série de episódios capaz de abalar a autoconfiança de qualquer um e, apesar de parecer exagero em alguns momentos, a dor de Eugênio é a dor de muitos. Quantas vezes pensamos que não somos bons o suficiente por sermos como somos? Ou para executar alguma tarefa? Pois bem, para mim a relação que o leitor constrói com a personagem de Eugênio é o que torna esse livro tão famoso. Isto porque, apesar de todas as tolices que faz, Eugênio recebe a sua "redenção".
Junto a Eugênio encontramos Olívia, uma espécie de personificação da esperança. Olívia é quase uma santa, é o tipo de personagem que você olha e diz "não existe na vida real", mas ainda assim é impossível conhecê-la e não ter vontade de ver o mundo como ela o vê: sempre buscando o lado bom das coisas. O fato é que, dentro do que a narrativa propõe, a personagem de Olivia funciona muito bem e provoca no leitor uma sensação parecida com a que provoca em Eugênio: a de fazer algo que vale a pena nesse mundo!
Agora, deixe-me trazer esse texto para um lado mais pessoal...Sou gaúcha e, apesar de ouvir o nome "Érico Veríssimo" desde criancinha, apenas agora tive real interesse em ler uma de suas obras. Quando comecei "Olhai os Lírios do Campo" eu não tinha muita certeza do que iria encontrar, mas terminei com a certeza de que lerei outros livros do autor.
A escrita de Érico me comoveu, especialmente na primeira parte da obra, que aborda o passado de Eugênio e a origem de seus traumas. Quando li a cena da tempestade, (que por sinal é minha passagem favorita do livro), me reconheci na angústia de Eugênio. É como se Érico colocasse em palavras todo o desespero de uma ansiedade que não cessa, que nada consegue amenizar e que os outros, neste caso o colega de quarto de Eugênio, não conseguem compreender. O desfecho dessa cena é igualmente sensível e assustador. Foi ela, mais do que qualquer outra, que me fez dar 5 estrelas para a obra.
Vale lembrar que na reta final existe um caráter quase religioso na história, o que também aproxima o livro da grande massa. No entanto, apesar do grande sucesso comercial, o livro divide opiniões entre resenhistas por aí e o próprio Érico Veríssimo já afirmou não gostar muito dele. Isso me deixou intrigada quando li a sua apresentação, mas ao decorrer do texto fui compreendendo.
Por fim, depois de tantos devaneios, me resta apenas deixar uma recomendação: leia os clássicos nacionais! Pode ser Veríssimo, Jorge Amado, Machado de Assis, o que lhe for mais instigante! Porém, não leia por obrigação, por "precisar conhecer". Leia por curiosidade, por prazer, por vontade de saber mais sobre a história desse nosso país maluco. A literatura é também história! Ela nos faz conhecer costumes de outras épocas e a entender um pouco mais sobre nossas próprias origens e anseios.