Lennon.Lima 06/07/2018
A estória de Olhai os lírios do campo trata da trajetória de Eugênio Pontes, jovem humilde da Porto Alegre dos anos 30 com aspirações de grandeza, que se esforça para se formar em medicina as custas dos sacrifícios dos pais e que decide dar um passo pragmático e polêmico: casar-se por interesse com uma refinada integrante da alta sociedade para ascender socialmente, ignorando os apelos do seu lado emotivo que apontam que sem dúvida alguma irá abdicar da companhia da mulher da sua vida. Decisão que ditará o rumo de sua vida e o colocará em debates constantes consigo mesmo, especialmente quando o passado retorna de forma abrupta e violenta o colocando em desesperadora agonia.
O que achei positivo
A linguagem que dá forma ao romance é um dos grandes trunfos do livro por conseguir em poucas linhas, com termos cirúrgicos e simples, retratar quadros vívidos de personagens e ambientes, qualidade que imprime dinâmica na narrativa mesmo quando se detêm em situações de cadência mais lenta, diálogos circunstanciais, avulsos, reflexões sobre aspectos secundários a trama, introduções de personagens e ambientes, resultando em uma leitura agradável de rápido consumo.
Ao menos em sua primeira metade.
A estrutura da narrativa é bem trabalhada e exitosa, o que merece destaque, porque, a meu ver, não se trata de uma execução simples, pois na primeira parte do livro o autor não segue uma narrativa linear. Veríssimo alterna, entre um capítulo e outro, relatos da infância, juventude e do presente de Eugênio, construindo um mosaico de memórias que traçam um panorama rico sobre a personalidade do mesmo e das principais figuras que viviam e vivem em seu entorno.
O esmiuçamento do lado psicológico do personagem, o seu modo de pensar, suas reflexões, seus medos, suas angústias, seus desejos é materializado no papel de forma muita competente. Não chega a se equiparar ao monumental trabalho de Hermann Hesse, no que concerne a esse aspecto, em seu Lobo da Estepe, mas o resultado nesse campo de Olhai os lírios do campo é exitoso.
Um dos motivos que faz com que a primeira parte do livro seja mais cativante, atrativa, é a situação de constante emergência na qual o personagem está inserido no tempo presente, uma corrida contra o tempo, que apesar de eu ter achado que esticou um pouquinho a mais do que deveria, embora também ache compreensível, porque a resolução só poderia ser apresentada no último instante para fazer sentido e escantear o momento presente por muito tempo poderia provocar esquecimentos de detalhes importantes para a trama, gerando confusão no leitor, inseriu eficientemente atmosfera de apreensão, de angústia crescente, que praticamente obriga o prosseguimento da leitura até a resolução dessa crise.
Outro ponto favorável em Olhai os lírios do campo são os momentos que exigem as virtudes de um olhar arguto e sensível que normalmente destaca os grandes escritores da multidão. O professor se destaca por saber transmitir conhecimentos, o médico se destaca por fazer diagnósticos precisos, o escritor de pedigree se destaca por desnudar a alma humana, revelando o que ela tem de melhor e pior, horrorizando e comovendo o público a ser entretido.
Confira o restante da resenha no blog Cartola Cultural. Confira o link.
site: https://cartolacultural.wordpress.com/2018/07/06/resenha-olhai-os-lirios-do-campo/