legolas_ 17/09/2023
O auto corre, Eugênio sofre, as estrelas cintilam.
Erico Verissimo não entendia o sucesso desse livro, e eu não entendo como esse livro não é mais conhecido do que já é.
Em Olhai os Lírios do Campo a gente acompanha um protagonista MUITO humano; Eugênio não é só uma pessoa muito frustrada, como também um cego em forma social, o complexo de inferioridade se personificado. Ele não vê as coisas boas porque está sempre sufocado pelo lado negativo da vida, ele culpa, se culpa e não cresce, não amadurece. Mesmo diante de uma realidade muito rara (uma criança pobre tendo a sorte de estudar em um colégio de elite e se formar como médico posteriormente), ele ainda não enxerga o prestígio disso e não vê o esforço de ninguém, nem o de si próprio.
Seu irmão mais novo não estuda em bom colégio e não vai pra faculdade, é uma criança abandonada pela vida e um adulto arruinado. Mas pra Eugênio, ele é um peso.
Não existem qualidades nesse protagonista, porque alguém cometeria o erro de amar ele? Pergunte à Olivia.
Olivia foi a única mulher a se formar na turma de medicina de Eugênio. Ela era apaixonada por ele, e ele não aceitava amar ela. “Porque ela era socialmente inferior, não tinha sede de sucesso, arrastaria ele para baixo”. (como se ele precisasse de alguém além de si próprio para se enterrar na lama)
Olivia era uma mulher idealizada e ela foi o ponto de ebulição durante toda a vida de Eugênio, as filosofias e os pensamentos, conselhos que ela dava ao protagonista não só impactaram sua moral, como moldou seu antro por anos. Pode-se dizer, que se não fosse por ela, esse protagonista não teria motivações.
Erico Verissimo explora muito a realidade do tempo em que escreveu esse livro, levanta questões sociais de extrema importância, cria situações e personagens que fazem o leitor pensar, se enraivecer e se lamentar. Eu me senti mais lendo um diário do que uma história montada, foi além de lindo, perfeitamente colocado.
“Precisamos, entretanto, dar sentido humano às nossas construções. E, quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu.”