Lethycia Dias 07/07/2020Redenção"Olhai os lírios do campo" foi o primeiro livro de Erico Verissimo que eu li, quando tinha 16 anos. Na época, a história me encantou bastante. Hoje, numa releitura, tive uma experiência bem diferente.
O livro acompanha o protagonista Eugênio, um médico de origem pobre casado com uma mulher de família rica, que recebe a notícia de que Olívia, a mulher que ele ama, está prestes a morrer. E com isso, passa a relembrar seu passado e questionar suas escolhas - inclusive a de se casar por interesse.
O livro é dividido entre duas partes. Na primeira, Eugênio viaja de volta para Porto Alegre, para visitar Olívia no hospital e relembra toda a sua vida. Na segunda, Eugênio decide pedir o desquite, sair da casa do sogro, abandonar a vida de luxos e se dedicar à medicina de uma forma mais humana. Durante boa parte do livro, tanto o leitor quanto Eugênio tentam compreender quem era Olívia e por que ela encarava a vida de uma forma otimista, serena e bondosa.
Tive alguns problemas para me conectar com essa parte da história. O livro não é religioso, embora o título faça referência a uma fala de Jesus Cristo. Mas penso que esse livro conversa de forma mais direta com pessoas religiosas do que com pessoas que não são assim. E senti dificuldade para compreender Olívia e a mudança que ela inspira em Eugênio, especialmente por não concordar com alguns dos pensamentos que ele passa a acreditar. Por exemplo: não acho que Eugênio fosse uma pessoa ruim no início do livro. Ele era com certeza interesseiro, mesquinho e covarde; mas isso não o torna ruim, e ter mudado algumas atitudes não o torna imediatamente bom.
Além da vida dramática de Eugênio e de sua redenção, o livro também aborda alguns temas da época em que foi escrito (1938), e critica, especialmente, as elites brasileiras e seus preconceitos. Algumas das maiores críticas são às desigualdades sociais, ao racismo, à intolerância religiosa e também a uma parte da elite brasileira que reagia com indiferença ao nazismo e ao fascismo em ascensão na Europa, ou pior: tinha admiração por esses sistemas opressores. Essa, para mim, foi a parte mais interessante e relevante do livro.
Por fim, ainda considero um livro bom, apesar da experiência inesperada que tive. Recomendo esse livro para quem quiser começar a ler Erico Verissimo.
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