Matheus 10/04/2021No ambiente, o que sinto; Na cabeça, o que vivo... Buscando uma cena edipianaIntenso e contemplativo. O simbolismo impera nas descrições dos sentimentos de cada um dos personagens. Há muitas referências à arte e à história japonesas ao longo do livro. Apesar de se iniciar a história com um aparente clichê de triângulo amoroso, vemos que o desenvolvimento é muito mais profundo.
A história se desenvolve dando um olhar especial para cada uma das personagens principais, dando descrições da natureza que constroem uma metanarrativa sobre os envolvidos nas cenas. É lindo pensar como ambiente nos diz sobre o que sentimos e a construção sobre as reflexões a partir do que vemos é maravilhosa. Mas também é triste pensarmos a tragédia que culmina. A morte de Taichiro, para mim um fato, consagra a vingança de Keiko. No fundo, temos uma terceira envolvida, Keiko, querendo instaurar a vingança de sua amada e por isso persegue Oki. Vemos que as partes que mais sofrem na história, por este ponto de vista, são Fumiko e Taichiro. Por outro lado, os protagonistas Oki e Otoko assumem uma posição de resginação quanto ao sofrimento do passado: Otoko, com 16 anos, se apaixonou elo escritor Oki, casado.
Otoko era jovem, estudante e abnegada. Keiko se torna sua devota, também estudante e discípula de Otoko nas artes. Nesse jogo de submissões, Keiko pretende subverter a história de Otoko, a qual acredita estar ainda envolvida em sentimentos com Oki. Nisso busca a vingança, não acreditando que sua "mãe" não mereça tamanho sofrimento. Como uma reação inconsciente, Keiko precisa acreditar que sua amada teve bons pais. Aqui há uma referência de que Otoko represente o passado do autor da obra, que perdeu seus pais muito cedo. Além disso, a mãe de Otoko se ressente com o amor proibido e falido de Otoko por Oki. Keiko, tão presa a Otoko, acreditando ser ela mesma, não aceita a relação com Oki e instaura o perigo no triângulo em que está envolvida, repetindo um evento passado: a morte do filho de Oki com Otoko se repete na morte de Taichiro, filho de Oki com a atual esposa, com a qual nunca se separou e manteve vivo o drama da amante no seu romance.
Há também muitas referências à dor enquanto um prazer sádico: mordidas nas orelhas, mordidas nos dedos, inclusive mordidas que causam sangue. É notável o quanto o sofrimento que um tenta impelir ao outros se mostra nas relações de afeto. Isto em meio a tantas outras referências aos sentimentos e suas descrições no ambiente. A água é como um rio que flui e jamais para. As emoções vão tendo suas vazões permitidas, crescendo e decrescendo... Ora se agigantando, ora se apequenando. Mas será que a água de um rio não pode se repetir? Nesta obra, o prazer de Keiko se repete na dor de Otoko. Tristemente belo em suas ausências...
O prefácio não curti muito, achei denso demais e discorre sobre aspectos da artes e da literatura. O posfácio me esclareceu algumas questões e as outras resenhas que li colaboraram para o entendimento da obra.