Ednelson 04/12/2012
Análise:
“Nunca fracassei, pensou Angel. Sou Angel. O anjo da morte.”
—Pág. 119.
“Não sou mais a mesma pessoa que era quando cheguei aqui [...] Eu era inocente.”
—Pág. 421 e 422.
Saudações, caros leitores do Policial da Biblioteca! O livro que resenharei hoje é obviamente um sucesso de vendas e isso não é algo de se admirar, considerando que seu autor é Sidney Sheldon! Autor célebre por ter conseguido escrever obras que atingiram facilmente a marca dos milhões de exemplares vendidos.
Este foi o primeiro livro dele que tive o prazer de ler, confesso que antes disso pensava que o seu sucesso fosse baseado em livros completamente comerciais e sem um conteúdo que justificasse o dinheiro que é desembolsado para adquiri-lo, mas, como vocês provavelmente já deduziram, me enganei profundamente e agora estou aqui para dizer os motivos que me levaram a gostar deste livro e mudar minha perspectiva sobre o “mágico” Sheldon que a cada livro tirado de sua mente deixava o mercado dos livros se perguntando: Quanto tempo será que o Sheldon vai demorar para sair da lista dos mais vendidos?
Esse livro me chegou às mãos por meio de um vizinho que é um grande fã de Sidney Sheldon e frequentemente me empresta vários livros. Quando ele me ofereceu “Um Capricho dos Deuses” relutei um pouco em aceitar este empréstimo, pois a minha singela montanha de livros para ler iria ficar ainda mais tempo em seu atual tamanho, contudo acabei acolhendo este livro em minhas mãos e concedendo aos meus olhos e mente um banquete.
Trilhar as páginas desse livro foi uma experiência super divertida, pois realmente conhecia pouquíssimas coisas sobre o autor e cada característica que notei em seu estilo de escrever para mim foi uma novidade que fez minhas mãos se moverem freneticamente para puxar meus olhos a uma nova página.
Uma das singularidades desse livro é que o centro do enredo é uma personagem feminina que ao longo da história se desenvolve bastante, apesar disso não acompanhamos os acontecimentos somente pelo seu olhar. A colaboração de outros personagens, alguns de identidade indefinida até as últimas páginas do livro, foi imprescindível para criar o mistério que cerca os eventos narrados e, como seria de se esperar, a incerteza que domina os pensamentos do leitor.
A protagonista deste livro se chama Mary Ashley, uma mulher completamente dedicada ao trabalho e família que em um momento inesperado recebe um convite direto do presidente dos EUA para se tornar a embaixadora do país na Romênia, mas alguns fatores, como ter de se mudar com a família e abandonar o atual emprego, além do fato da Romênia ser um território perigoso por estar situado (na época da história) na cortina de ferro, a fazem relutar sobre a decisão, porém um evento a faz embarcar nessa aventura inesperada e mesmo em meio à um turbilhão de sentimentos confusos ela busca se focar em sua nova missão. A partir desse ponto começamos a ver a figura da heroína sendo esboçada.
Como se não bastasse a sua atual condição sentimental confusa, após o evento que antecedeu a nomeação como embaixadora, Mary tem de lidar com seus dois filhos, Beth (12 anos) e Tim (10 anos), que, como muitas crianças, possuem personalidades amiúde complicadíssimas de lidar. Entretanto, Beth e Tim, mesmo sendo personagens muito próximas da protagonista, não são um dos focos da trama e como tal não são muito explorados e servem mais para complementar o tom dramático do texto e reforçar o caráter forte de Mary.
A inicial “pequenez” de Mary é confrontada com uma conspiração internacional da qual já tomamos conhecimento no início do livro e que poderá decidir literalmente o futuro do mundo! O jogo de interesses políticos é muito forte e cada movimento de personagem, mesmo sem sabermos no instante em que acontece, é regido por desejos alheios. Nesse tabuleiro do poder é inevitável que suspeitemos de quase todos ao nosso redor, mas o que fazer quando somos uma das peças da partida e não temos consciência disso? Pior...e quando temos em nosso encalço um assassino com uma genialidade estupenda e que não mede esforços para cumprir seus contratos? Eis a fórmula para uma história excelente sobre conspiração e ação, mas, como todo bom autor, Sidney Sheldon não se prende ao óbvio e consegue inserir na trama drama, romance e até mesmo um pouco de humor.
Mary até a metade do livro é uma personagem que se sente perdida e isso deixa o leitor também um pouco desorientado, pois constantemente vemos uma mudança em seu humor. Ela busca uma cura para o seu sofrimento em diversos meios, todavia isso só a faz se sentir ainda pior e gastar seu tempo até conseguir colocar a cabeça no lugar, respirar, olhar para frente e traçar o caminho a percorrer. Aos poucos Mary vai ganhando a nossa simpatia e a sua personalidade de guerreira fica mais evidente e a mocinha frágil se transforma em uma leoa para proteger seus ideais e aqueles a que ama.
Como já disse um famoso chefão de máfia dos cinemas: "Mantenha seus amigos perto, e seus inimigos mais perto ainda." Isso é uma realidade em “Um Capricho dos Deuses”, pois cada passo da mais nova embaixadora americana é monitorado, tanto por pessoas que desejam protege-la, quanto por pessoas que querem ceifar a sua vida e de todo aquele que se colocar no caminho. Quando se está entre lobos, parecer uma ovelha é algo perigoso e a doce Mary aprenderá isso da forma mais direta possível.
A separação entre o que é verídico e pura paranoia na história não é clara, pois o clima da Guerra Fria permeia o mundo e é ressaltado em alguns dos personagens. O desfecho é totalmente inusitado e com certeza fará você, caro leitor, pensar até que ponto a sua vida é determinada pelo governo e outras autoridades. Cuidado, vocês também podem ser instrumentos em caprichos de pessoas que se acham deuses. Boa leitura a todos e até outro momento!
Escrevo no: http://leitorcabuloso.com.br/