spoiler visualizarCamila 18/04/2024
Essa não é uma história de amor comum
Isso aqui é um diário, acho que contém muito spoiler. ?
Por ser apenas um registro, pode parecer confuso, nao quero fazer sentido, apenas explanar o senti durante a leitura.
Li o livro todo procurando pelo conteúdo da carta que Jeremiah de Saint-Amour deixou para Juvenal Urbino ?.
Observar o tempo passar e a vida mudar é um exercício que pouco faço. Foi bonito abrir essa reflexão sobre o que já se passou e não é mais, ao mesmo tempo que me trouxe mais para viver o presente conscientemente.
Diante do título, esperava uma história de amor, mas soou mais como uma história sobre a espera, e nisso, não considero que foi demasiado monótono. Por vezes, achei obsessivo. Florentino ?fora sustentado pela ficção de que era o mundo que passava, os costumes, a moda: tudo menos ela.
Mas naquela noite viu pela primeira vez de forma consciente como a vida de Fermina Daza estava passando, e como passava a sua própria, enquanto ele nada fazia além de esperar.? Sobre a parte do amor, pode-se dizer que fala do amor guardado ao outro, mas também ao amor à si, já que a protagonista, ao meu ver, passa toda história procurando sua individualidade como mulher para que se sentisse mais satisfeita.
Florentino Ariza viveu suas paixões durante toda a vida, mas sempre pensando em ?como poderia ser se?? ou em ?como seria se ?? e a velhice chegou de súbito. Quando notou, precisava de uma bengala.
No mundo de hoje vivemos um pouco assim, esperando certos acontecimentos para um viver pleno, mas nos meus 30 anos, posso afirmar que a conquista de metas não traz a calmaria. A vida parece mesmo ser o turbilhão do inesperado, quase todo tempo, considerando nossas crises existenciais que chegam para nos tirar no monótono, e lá vamos novamente em busca de algo mais. Seres desejantes!
Dedicar toda a vida unicamente à família não era o que ela queria, mas teve que cumprir com as imposições sociais. Teve sua juventude roubada e seus desejos tolhidos pela coletividade da época, que não permitia a existência de uma mulher para além do próprio lar. Ainda assim, Firmina conseguiu sobressair-se em muitos pontos, mas continuou reprimida em muitos outros, à exemplo dos estudos.
Não era satisfeita, não me pareceu que tinha um brilho no olhar diante da própria vida. Ela precisava de si mesma na juventude, e não conseguiu manter-se com o casamento.
?Queria ser outra vez ela mesma, recuperar tudo que tivera de ceder em meio século de uma servidão que a fizera feliz, sem dúvida, mas que uma vez morto o marido não deixava a ela nem traços da sua identidade. Era um fantasma numa casa alheia que de um dia para outro se tornara imensa e solitária, e na qual vagava à deriva, perguntando a si mesma angustiada quem estava mais morto: o que tinha morrido ou a que tinha ficado.?
Apesar disso, terminei o livro com um delicioso frio na barriga e uma sensação de conforto. Firmina viveria seus dias como realmente desejava, fazendo o que quisesse de seus dias, inclusive, amor, já que: ?o amor é amor em qualquer tempo e em qualquer parte, mas tanto mais denso ficava quanto mais perto da morte?.
A parte da velhice dos protagonistas me abraçou. Senti que Florentino, apesar de sempre agir com muita cautela e sempre de caso pensado, nessa última fase, trouxe bem estar para alma de Firmina e sentia-se realizado como nunca antes. E fez muitas tentativas: ?tinha que ensina-lá a pensar no amor como um estado de graça que não era meio para nada, e sim origem e fim em si mesmo?. Logo o amor é só o amor, que pode ser conciliado com todas as outras adversidades da vida sem se perder, e apenas por ele mesmo, não é o suficiente para proporcionar felicidade.