bobbie 06/07/2023
Uma jornada fascinante e cansativa.
A orelha desta edição explica que a história de Florentino Ariza e Fermina Daza foi inspirada nos pais do próprio autor. Os desavisados mergulham de cabeça na história crendo piamente que serão regalados com a terna história de um amor que deu, como fruto principal, o próprio Gabriel García Marquez. Então, os desavisados, como eu, são arrancados de seu devaneio quando percebem, ao longo da narrativa, que a insistência inicial do jovem casal apaixonado foi, de fato, apenas inspiração, pois o restante da narrativa não poderia ser menos fiel à realidade. A história mostra que o amor verdadeiro (ou Verdadeiro?) é o sentimento mais resiliente que existe, pelo menos enquanto não é confundido com teimosia. O leitor vai se compadecendo de Florentino, por vezes se irritando com ele, ao mesmo tempo em que pasma com Fermina, fica sem entendê-la, ou entende-a plenamente, até que é jogado num barco com os dois para que resolvam, de vez, sua pendência meio secular. O romance abre suas páginas com o tema do cheiro, o cheiro do veneno misturado ao da morte, o que determina o tom da história que perpassa guerras civis intermináveis e epidemias infindáveis do cólera. A todo momento nos colocamos em guarda para que os protagonistas vençam a morte em vida e finalmente tornem a se encontrar (no sentido mais amplo da palavra, porque pouco tempo se perderam de vista). Enquanto isso, vamos nos envolvendo com figuras adoráveis - ainda que falhas -, como o doutor Juvenal Urbino. Apresentado a nós como pessoa honrada e de caráter, ora nos vemos torcendo para que seu casamento apenas frutifique, ora pensando que já é hora que se retire dignamente para ceder espaço ao sofrido Florentino. Em meio a tudo, tiro uma estrela de minha humilde avaliação apenas devido aos capítulos extremamente longos, sem ponto certo para pausa (algo que começou a me incomodar de tempos para cá; deve ser a iminência da velhice), e ao miolo da narrativa, que em determinado momento parece se arrastar.