spoiler visualizarRick Shandler 01/02/2024
A outra volta do parafuso - Henry James
Cada volta que o parafuso dá aumenta a pressão. A tensão. Cada volta do parafuso o prende mais. Assim que se aperta um parafuso e é assim que se conta uma história de terror. Henry James sabe disso como ninguém.
O início do livro já nos mostra a que ele veio. Aquela clássica cena da roda em volta do fogo onde as melhores histórias de terror são contadas. Henry já começa suas voltas no parafuso ao nos fazer esperar para que a história enfim seja contada. Inicia-se assim toda a antecipação e cria-se a tensão que irá nos acompanhar perante o resto do livro. Henry vai nos dando, aos poucos, pistas de sua história, a conta-gotas. Nos deixa ansiosos, nos faz questionar e quando responde as nossas perguntas o faz de forma cadenciada, parcial, dúbia, ou até mesmo não as responde.
O que dá mais medo: uma mansão longe de tudo, fantasmas, crianças ?estranhas?, o sobrenatural? Ou seria a incerteza? Henry joga com tudo isso, mas é a incerteza e o desconhecido que realmente movem o seu livro, apavorando sua jovem narradora e por tabela apavorando nos leitores. Henry habilmente passa as dúvidas de sua narradora para nós. O que realmente houve com os pais das crianças? Porque o tio delas não queria o menor contato? Porque Miles foi expulso? O que aconteceu com os antigos moradores da casa? Eles estão de volta? As crianças estão em contato com eles? Por quê? O que está acontecendo?
Não faltam dúvidas, não faltam incertezas, não faltam inseguranças, não falta apreensão, não falta medo. Cada volta no parafuso piora a situação. No fim nos questionamos até mesmo sobre a nossa narradora, será que tudo isso aconteceu, mesmo? Será que tudo isso foi criação da cabeça dela? Henry não nos responde e assim fecha com maestria um livro que nos perturba durante sua leitura, mas é capaz de perturbar ainda mais após a leitura.
A outra volta do parafuso é terror feito por gente grande. É o gênero do terror levado ao seu auge. Não é à toa toda a influência que essa obra tem, sendo lida e relida um século após sua escrita. Tem que ler.