Carla.Parreira 14/09/2024
A Outra volta do parafuso (Henry James). É um livro que oferece diversas possibilidades de interpretação, o que o torna um desafio para os leitores e um clássico da literatura mundial. James, nascido em Nova York em 1843, passou por vários países europeus, alimentando sua paixão pela literatura antes de se estabelecer na Inglaterra. Publicado em 1898, a história começa na véspera de Natal, onde um grupo de amigos se reúne para contar histórias aterrorizantes. Um dos participantes, Douglas, menciona que conhece uma história mais assustadora e, em seguida, lê um manuscrito que revela a história de uma jovem que aceita um emprego como cuidadora de duas crianças, Flora e Miles, em uma mansão no interior da Inglaterra. As crianças, descritas como encantadoras e bem-educadas, logo se revelam envolvidas em mistérios. A jovem cuidadora recebe notícias preocupantes sobre a expulsão de Miles do colégio, e eventos paranormais começam a ocorrer, com a aparição de dois fantasmas que foram funcionários da casa. A narradora suspeita que os fantasmas têm um propósito maligno em relação às crianças, enquanto tenta entender se elas têm uma ligação oculta com esses espíritos ou se estão apenas fingindo. Enquanto a história se desenrola, a jovem se depara com situações que desafiam sua percepção da realidade e questiona a sanidade das crianças, levando à construção de uma tensão psicológica intensa. O autor habilmente provoca a dúvida sobre o que é real e o que não é, criando ambiguidades que permeiam a narrativa. Além disso, a obra discute temas como a luta entre o bem e o mal, o racional versus o irracional e a loucura versus a sanidade. A complexidade e as interpretações variadas geradas pela trama já levou a diversas adaptações, como o filme britânico "Os Inocentes", lançado em 1961, que, apesar de trazer algumas mudanças, mantém-se fiel à essência da história original. A adaptação cinematográfica de "Outra volta do parafuso" traz uma atmosfera de terror que se inicia já na música, criando um clima propício para a narrativa. A trilha sonora é um elemento crucial que auxilia na construção da tensão e na imersão do espectador no enredo sombrio. Eis um resumo mais detalhado:
No primeiro capítulo a protagonista reflete sobre suas emoções e experiências ao chegar a uma nova casa, onde será governanta de duas crianças, Flora e Miles. Ela se sente desconfortável e insegura, mas a beleza do lugar e a presença encantadora de Flora ajudam a restabelecer sua confiança. Ao se aventurar pela casa, ela começa a especular sobre o ambiente e as crianças, sentindo-se atraída e ao mesmo tempo intrigada por suas características misteriosas. Conforme os dias passam, a jovem governa, estabelecendo um laço com Flora, o que intensifica sua curiosidade sobre o estado do menino Miles, que foi expulso da escola por razões que a protagonista não entende completamente. Em um momento de apreensão, ela encontra uma correspondência que parece indicar algo sinistro envolvendo as crianças e um outro ser desconhecido que a observa. Ao compartilhar suas preocupações com a senhora Grose, a outra governanta, ela é confrontada com a resistência de sua colega em discutir os eventos passados que cercam a casa e as crianças. A tensão aumenta quando a protagonista revela ter visto um homem misterioso na torre, que parece estar relacionado a Miles, intensificando suas suspeitas e criando um clima de medo e desconfiança. As interações com as crianças se tornam mais intensas e estranhas, à medida que ela percebe que há segredos entre eles. A relação entre a governanta e Flora amadurece, mas novos mistérios e medos emergem enquanto se desenrolam os eventos que ameaçam o bem-estar da casa. A jovem é cada vez mais consumida pela ideia de que Miles pode ser um centro de estranheza e que existe um espectro de influências malignas ao redor deles. A atmosfera de suspense se intensifica, à medida que ela lida com a realidade dos eventos que se desenrolam sob seu olhar, provocando um forte conflito interno enquanto tenta proteger as crianças e descobrir a verdadeira natureza do que está acontecendo em sua nova vida. A protagonista reflete sobre sua situação, sacrificando sua própria tranquilidade em nome da proteção das crianças, Flora e Miles. A relação com a senhora Grose se intensifica enquanto a governanta busca entender os mistérios que cercam a casa e a influência do falecido patrão nas vidas dos pequenos. Na conversa reveladora, a senhora Grose confirma a natureza maligna de um homem que tinha forte influência sobre as crianças, revelando que ele era muito próximo de Miles e que essa relação era preocupante. O clima de tensão aumenta quando a governanta percebe que Flora parece ter plena consciência da presença do homem, que a estava observando. Enquanto se esforça para manter o ambiente tranquilo, a jovem sente-se cada vez mais isolada em seu temor, e suas interações com as crianças se tornam cada vez mais complexas. Um dia, Flora traz à tona a aparição de uma figura no jardim, e isso acende uma nova onda de ansiedade na governanta, que luta contra sua própria razão e os sentimentos de proteção que nutre pelas crianças. O relacionamento entre elas se torna uma dança entre realidade e as sombras que ameaçam, enquanto a protagonista se esforça para interpretar os sinais e garantir que nada interfira na inocência de Flora e Miles. No entanto, seu instinto e suas percepções a levam a uma série de encontros súbitos e alarmantes. Em uma das noites, após horas de trabalho com Flora, ela enfrenta a visão de um ser amedrontador, que a faz parar em seco no meio da escada, desafiando seu medo. A figura é reconhecida pela intensidade do olhar e pelo sentimento de reconhecimento mútuo, levando a protagonista a um estado de tensão extrema. Os dias se arrastam, e a jovem tende a ficar em constante vigília, temendo a reaparição do homem sombrio. Flora se mostra cada vez mais envolta em suas brincadeiras, alheia ao terror que assola a governanta, mas um subtexto de compreensão silenciosa passa entre elas. A governanta toma cuidado para não deixar que suas preocupações influenciem a alegria e a inocência das crianças, embora sinta que a felicidade delas pode estar ameaçada por forças que não consegue controlar.
No entanto, a serenidade de seu relacionamento com as crianças rapidamente se transforma em um labirinto de medos e realidades distorcidas. As aparições se tornam mais frequentes, e a jovem é arrastada em um ciclo de ansiedade e proteção desesperada. Após um de seus encontros, onde Flora parece ver algo que a governanta ainda não consegue identificar, a tensão entre as crianças e a governanta atinge um pico, deixando-a com um dilema moral sobre o que fazer a seguir.
As noites tornam-se cada vez mais inquietantes, e a governanta, em seu desejo de descobrir a verdade, enfrenta uma série de dilemas emocionais. A grande revelação finalmente ocorre durante um dos momentos de contemplação à noite, quando a jovem toma coragem e se dirige ao quarto onde Miles dorme, hesitando um pouco antes de abrir a porta. A atmosfera de suspense se intensifica, e a história se entrelaça com as tensões emocionais de sua nova realidade, marcada por uma luta constante entre a proteção e a revelação de uma verdade oculta que pode mudar suas vidas para sempre. O conflito interno da governanta se intensifica após sua decisão de confrontar Miles. Ao entrar no quarto onde o menino dorme, ela hesita, temendo as implicações de sua descoberta. Ele não faz um som, e a atmosfera é tensa e pesada. Sua mente oscila entre o desejo de proteção e o receio do que a verdade pode revelar. Em meio a essa dúvida, ela se recorda da figura que viu no jardim, uma presença que a atormenta e que a ligação entre aquilo que ela percebe e a inocência das crianças começa a se desvanecer.
Enquanto tenta entender a profundidade do envolvimento de Miles com forças obscuras, sua relação com a senhora Grose se torna cada vez mais essencial. A conversa entre elas revela uma desconfiança crescente e um entendimento de que as crianças podem estar em graves perigos, manipuladas por entes não-humanos em busca de continuar seus arquivos malignos. A governanta começa a observar os detalhes do comportamento dos pequenos, notando um padrão de ignorância sobre os horrores que as cercam, mas de um prazer peculiar que se transforma em uma sombra.
O relacionamento com Flora também se torna difícil, refletindo uma tensão que vai além da meramente pedagógica. Flora parece viver em um mundo de fantasia, onde as regras da realidade não se aplicam, mas o amor da governanta por ela a impede de desistir. Um dia, na hora do chá, Flora faz uma estranha pergunta que confirma as suspeitas da governanta e lança uma nova luz sobre a intrincada dinâmica entre eles. As palavras da criança ecoam em sua mente, mostrando que há segredos compartilhados, mas nunca verbalizados.
Na tentativa de discutir esses mistérios com a senhora Grose, as duas mulheres se deparam com um profundo abismo de incertezas. A conversação fica carregada de tensão ao tentarem articular uma disposição para ter essa conversa difícil sem acirrar ainda mais as desconfianças entre os criados e as crianças. Ambas reconhecem que os meninos não estão seguros e que a situação é frustrante e desgastante. A governanta, por um lado, busca respostas, enquanto a senhora Grose se apega a uma fé ingênua de que tudo será resolvido de alguma forma.
O elogio das crianças e seu ar de deslumbramento gradual, em contraste com os sentimentos rodas da governanta, cria um círculo vicioso de preocupação. Ela sente um desejo urgente de protegê-las, mas deve navegar em sua crescente paranoia e na culpa pela incapacidade de impedir os acontecimentos sombrios ao seu redor. A cada nova interação, fica mais claro que Flora e Miles compartilham segredos que eles não podem ou não querem revelar, apesar da crescente urgência da governanta em confrontar a verdade.
À medida que a tensão se intensifica, um lampejo de coragem surge dentro da governanta ao decidir confrontar Miles, perguntando-o sobre a verdade que ela supõe estar por trás de seu comportamento. O diálogo entre eles se revela uma dança delicada entre confiança e manipulação, onde o menino se recusa a fornecer respostas claras, mas deixa pistas que aumentam o desespero da governanta. O sorriso de Miles ao responder suas perguntas traz uma mistura de graça e inquietação, enquanto ela se pergunta o quanto ele realmente sabe e o que está em jogo.
Quando um desfecho esperado parece próximo, a governanta enfrenta o dilema de expor as verdades sombrias que envolvem sua custódia das crianças, enquanto as aparições ameaçadoras continuam a assombrá-la. O clima de suspense que envolve cada cena subsequente se intensifica, levando-a a formar um plano de ação que pode mudar seus destinos. A encruzilhada em que se encontra se revela cada vez mais complexa e cheia de nuances, onde a proteção dos inocentes pode exigir sacrifícios inimagináveis.
A governanta encontrou-se plenamente imersa em suas inquietações ao perceber a carga emocional que pesava sobre as crianças. Sua conversa com Miles revelava uma fragilidade complexa, onde o garoto parecia mandar mensagens ambíguas, reafirmando sua condição de inocência ao mesmo tempo em que expressava um desejo de liberdade. Ela se perguntava sobre o que realmente acontecia na escola e o que ele conhecia sobre o mundo exterior. O silêncio de Miles sobre seu passado na escola acentuava ainda mais a sensação de alienação que ela experimentava, restando apenas um vago vislumbre de esperança ao pensar em um futuro longe daquela residência carregada de sombras.
Enquanto isso, Flora continuava sendo um mistério, movendo-se entre a serenidade e uma inquietude que deixava a governanta em alerta. Sua atenção se dividiu entre o desejo de proteger ambas as crianças e a profunda ansiedade sobre o que elas realmente sabiam ou sentiam. Quando Flora desapareceu temporariamente, a tensão atingiu seu ápice, levando a governanta e a senhora Grose a uma busca frenética. A atmosfera era pesada, e o lago, que antes prometia tranquilidade, agora representava um risco iminente.
A dinâmica entre a governanta e as crianças tornou-se uma dança delicada, onde a perda da inocência se manifestava de maneiras sutis. No entanto, cada encontro com Miles e Flora parecia revelar camadas de complexidade que dificultavam a tarefa de educá-los. A impotência dela diante dos fenômenos estranhos e da presença de forças não visíveis fez com que ela ficasse cada vez mais isolada em seus pensamentos, transformando cada interação em um campo de batalha emocional.
Em um encontro inesperado, Flora revelou sentimentos que pareciam indicar uma ligação mais profunda com o sobrenatural. O reconhecimento desse vínculo levou a governanta a questionar sua própria sanidade, enquanto os segredos que habitavam a casa se tornavam quase palpáveis. A relação entre a governanta e Flora começou a se deteriorar, já que a menina se mostrava mais rebelde e, ao mesmo tempo, intransigente sobre sua relação com o tio.
O ambiente tornou-se cada vez mais opressor e a governanta percebeu que a liberdade de Miles e Flora estava ligada a algo além de seu poder. Desesperada para ajudar, ela decidiu redigir uma carta ao tio das crianças, embora temesse as consequências do que isso pudesse acarretar. Na véspera do envio, a tensão culminou em um confrontamento com Miles, onde ele, em uma rara vulnerabilidade, expressou seu desejo de escapar da situação, revelando fissuras em sua jovialidade.
Quando Flora adoeceu, a governanta ficou em estado de alerta, sentindo seu papel ameaçado e a possibilidade de perder tudo o que lutava para proteger. A saúde da menina cristalizou a urgência de agir, levando a governanta a fazer escolhas difíceis em um ambiente já permeado pela antagonia e desconexão. No entanto, a determinação de Flora em permanecer firme em seu silêncio em meio ao caos fez com que a governanta se sentisse cada vez mais impotente, como se estivesse navegando por águas turvas sem um mapa.
A busca por esclarecer os mistérios que cercavam as vidas das crianças transformou-se em uma cruzada, onde a governanta enfrentou suas próprias incertezas. No meio dessa confusão, a escolha de uma viagem para longe de Bly emergia como uma solução, mesmo que percebesse que a preservação da inocência e a salvação de Miles e Flora estivessem entrelaçadas de uma maneira que ela não conseguia compreender completamente. A pequena esperança de que uma nova oportunidade possibilitasse uma mudança na vida deles ressoava em seus pensamentos, mas a sombra da dúvida permanecia, ameaçando obscurecer seu propósito.
A governanta, em um momento de introspecção, percebeu que seus sentimentos e ações eram uma dança intricada entre esperança e angústia. Observando Miles com as mãos nos bolsos, olhando pela janela, ela sentiu que havia algo além daquela conversa superficial, uma conexão que parecia desvelar segredos ocultos. Ele, em sua inquietude, refletia um estado de espírito semelhante ao dela, o que a levou a questionar se realmente era possível que as crianças estivessem cientes de algo que ela não era. Essa ideia a consumia, e sua mente vagou para a comparação entre a situação deles e um jovem casal em um hotel, todas as inseguranças e os silêncios medidos entre compromissos e medos.
Enquanto o clima pesava sobre eles, a presença da criada ao lado reforçava um senso de tensão e não pertencimento que a governanta sentia. Por um momento, uma ideia extraordinária a assaltou: talvez não fosse ela a excluída, mas sim Miles, o qual parecia cada vez mais tomado por uma angústia palpável. A atmosfera estava carregada de emoções reprimidas, e sua insinuação de que algo estava profundamente errado pairava no ar, levando a governanta a formular teorias a respeito da influência dos fantasmas na vida das crianças. Essa sensação de observação e exclusão intensificou seu desejo de protegê-los, mesmo que um preço pessoal enorme tivesse que ser pago.
As conversas entre eles se tornaram um campo de batalha emocional, onde a governanta tentava decifrar o que se passava na mente do garoto. Ele, por sua vez, mostrava uma capacidade de esconder seus sentimentos sob uma fachada de normalidade, algo que a entristecia e a deixava em um estado constante de alerta. Neste contexto, a condição de Flora também surgiu como uma preocupação crescente, um reflexo de uma inocência perdida que a governanta temia que fosse ameaçada.
Na ausência da verdade, a governanta buscava indícios que revelassem os segredos que as crianças guardavam sobre os fantasmas. Esse desejo pela verdade tornou-se cada vez mais consumista, levando-a a se afastar de quem realmente era, enquanto se perguntava o quanto ainda podia manter sua sanidade diante das pressões. A questão não era apenas se os fantasmas eram reais, mas o que representavam e como sua presença moldava a vida dos pequenos.
A tensão culminou em um diálogo onde Miles, em seus momentos mais vulneráveis, se viu encarando as sombras do passado, levando a governanta a se questionar sobre sua própria percepção da realidade. Esses momentos de desespero e revelações começaram a se amalgamar em sua mente, criando uma linha tênue entre a proteção das crianças e o seu papel como a guardiã da moral, a identidade de alguém que aspirava a ser muito mais do que simplesmente uma governanta.
Enquanto os fantasmas continuavam a assombrar os pensamentos da governanta, a definição do que era o bem e o mal começou a se tornar nebulosa. Ela percebia que suas ações eram moldadas não apenas por um desejo de salvar as crianças, mas também pelo impulso de se proteger de um destino que a aguardava, ameaçando não apenas a vida delas, mas também a sua própria. O peso dessa luta interna refletia sua busca incessante pela verdade, levando-a a confrontar os próprios demônios que habitavam sua mente e que se tornavam cada vez mais difíceis de ignorar.
Com esses pesadelos e desejos consumindo sua vida, a governanta mergulhou mais fundo na busca por clareza, cada vez mais envolta em um redemoinho de sentimentos contraditórios que a deixavam exausta, mas determinada. A linha entre a proteção que oferecia e o controle que tentava exercer sobre a situação tornava-se cada vez mais tênue, revelando as camadas complexas de um enredo onde todos estavam presos a forças que pareciam além de seu entendimento. Assim, em meio à confusão e à dor, a governanta tentou se manter firme, mas começou a se questionar sobre até que ponto sua intervenção era realmente salutar e até que ponto ela estaria se tornando um dos fantasmas que tanto temia.
O sofrimento conformado e a desolação na figura do fantasma da senhorita Geisel evocam uma reflexão sobre a tragédia que permeia a narrativa de "A Outra Volta do Parafuso". A governanta se vê diante da responsabilidade de proteger as crianças, mas suas ações se tornam tortuosas à medida que se aprofunda na crença de que forças malignas os ameaçam. A relação entre os fantasmas e a obsessão moral da governanta gera um conflito interno, onde sua compaixão é sufocada por um amor ao dever que, paradoxalmente, a torna insensível às emoções das crianças.
Diante desse dilema, a figura da governanta se torna um reflexo daquela vontade fanática, inclinada a sacrificar a felicidade em nome do dever. As consequências de suas ações, que parecem salvar as crianças, podem, na verdade, ser uma perpetuação do mesmo mal que teme combater. A narrativa é entrelaçada com elementos de crítica à repressão dos sentimentos, onde a governanta, mesmo sem provas concretas, molda suas crenças e juízos de valor a partir de uma combinação de fé e medo que permeia sua visão de mundo.
O papel do narrador, que se posiciona como um observador astuto, contrasta com a governanta, fortalecendo a ideia de que as forças da narrativa operam através das mentes e percepções de quem habita essa história. A busca por significados e a relação do narrador com as figuras fantasmagóricas adquirem uma dimensão onde a crença não apenas influencia, mas define a experiência do que se considera real. Nesse redemoinho de interpretações, a governanta é, paradoxalmente, um agente criador e destrutivo, onde sua imaginação molda as narrativas que vive e impõe aos outros.
A complexidade da história reside em sua capacidade de provocar desconforto ao final, pois a destruição da inocência se entrelaça com a ação da governanta, cuja obstinação a leva a uma zona nebulosa entre proteção e opressão. Enquanto o leitor observa esse desenrolar, fica claro que a impressão de malignidade é reforçada pela própria condução da narrativa e pela perspectiva unilateral que a governanta representa. Essa construção revela um jogo de poder, onde a figura da governanta se transforma em um eco de forças invisíveis, perpetuando um ciclo de trauma que parece inevitável.
O envolvimento emocional do leitor também é manipulado pela postura da governanta, que se coloca entre os fantasmas e as crianças, transformando a relação de proteção em uma forma de escravidão emocional. A ausência de uma voz crítica que possa alertar as crianças sobre os fantasmas gera um espaço de vulnerabilidade, ampliando o horror ao deixar a interpretação dos eventos na mão de quem está cega pela sua própria missão. A narrativa, então, não apenas explora o sobrenatural, mas também questiona a própria natureza da humanidade, trazendo à tona a ideia de que a verdadeira monstruosidade pode estar na falta de empatia e no controle exercido por aqueles que se consideram os defensores do bem.
Cada fantasma, cada interação, revelam o tecido social e psicológico que sustenta esses encontros. A poderosa construção da crença e da imaginação, evidente na trajetória da governanta, serve como um espelho distorcido da realidade, onde o terrível e o sublime coexistem, desafiando as fronteiras entre o visível e o invisível. O modo como a história conclui, mesmo sem responder a todas as questões, revela a essência do que significa abordar o mundo dos espíritos e a complexidade das relações humanas, ressaltando a fragilidade da inocência diante de forças que não apenas a ameaçam, mas que também habitam a psique das pessoas.
Com isso, fica evidente que a essência dos fantasmas em "A Outra Volta do Parafuso" não reside apenas em sua origem sobrenatural, mas na profunda conexão que mantém com a governanta e as realidades emocionais que ela enfrenta. A tragédia emerge, então, não apenas como um aspecto da narrativa, mas como um reflexo das escolhas que fazemos e das crenças que nos guiam, desafiando-nos a reconsiderar a linha tênue entre o bem e o mal, a proteção e a opressão, a realidade e a imaginação. A complexidade do enredo nos obriga a confrontar nossas próprias crenças e a natureza das histórias que contamos sobre nós mesmos e sobre aqueles que nos cercam, revelando que as verdadeiras assombrações muitas vezes vêm de dentro, muito mais do que de fora.