Aryta.Mancini 15/04/2024
Além de muito bom, intrigante.
O livro já começa sensacional só com o título e tudo que podemos extrair dele. A tradução literal para o português ficou como ?a volta do parafuso?, ou ?a outra volta do parafuso?, porém, sem conseguir alcançar o que a expressão, originalmente em inglês, ?The Turn of The Screw?, significa e quer transmitir.
Essa volta do parafuso se refere a algo que acontece quando as coisas já estão estão ruins e tornam-se ainda piores. Quase como a expressão ?A Gota D?água?, pois, considerando as circunstâncias, essa ?volta do parafuso? leva a pessoa ou situação ao extremo.
Li que a origem da expressão em inglês vem de um método de tortura, em que cada vez que era dada uma volta no parafuso, mais dor a vítima sentia, até que, sem ser capaz de suportar, ela acabava cedendo. A expressão não é mais usada.
Logo no início, somos advertidos de que vamos ouvir uma história que vai além do horror, porém, o personagem que fala inicialmente, fará uma leitura fiel do que foi escrito pela protagonista, agora já morta há 20 anos, e confiado ao amigo, por isso, passamos à narrativa em primeira pessoa.
Assim, desde a sua chegada à propriedade Bly, é possível perceber todas as camadas de sentimentos e crenças morais que permeiam a jovem governanta enquanto ela lida com os desafios de ser uma tutora e protetora dos órfãos Flora e Miles, que vivem em uma mansão tão bela quanto sinistra.
Logo que passa a viver na propriedade Bly, a professora tem ciência de que aquele ambiente também abriga outras ?almas? e, essas ?almas? estão intimamente interessadas nas crianças.
Durante a leitura, me questionei se o fato do livro ter sido escrito há mais 100, pela visão de um homem, não interferiu sobre as decisões e sacrifícios feitos pela protagonista - uma mulher -, diante de circunstâncias bastante complicadas e desafiadoras. Pensei que, talvez, muitas decisões da personagem sejam para reforçar ao leitor o que o autor acreditava ser a atitude esperada de uma mulher, que independente da posição social ocupada, demonstrava certa nobreza moral ou que, por ter determinadas origens e crenças, poderia impor seu ponto de vista particular e sua interpretação sobre as circunstâncias, que, não necessariamente revelariam a realidade (possuindo uma visão limitada, talvez?).
Mas, é impossível saber, porque são justamente as ações e decisões da personagem que nos fazem pensar que apenas temos o ponto de vista dela. Tudo que sabemos vem do que ela narra. Consequentemente, tudo que sabemos vem daquilo que o autor nos quer fazer acreditar. E, entre vários trechos em que algumas contradições são deixadas como pistas, terminei a leitura com o sentimento de que, talvez, as crenças morais da personagem, inicialmente aparentando tanta nobreza, talvez escondam a realidade de uma forma egoísta, quando o seu julgamento deve ser acatado como o único correto, mesmo que ao leitor, nunca será da dada a chance de conhecer outras versões. Ela tem o controle de tudo.
Enfim, o livro é maravilhoso. O fato de que a leitura pode trazer diferentes conclusões para diferentes pessoas é o que eu acho ainda mais incrível. Recomendo muito!