Luis 20/07/2012
Um retrato por inteiro de Sir James Paul McCartney.
A história já foi contada inúmeras vezes.
Um menino canhoto de Liverpool, orfão de mãe, se refugia na música para enfrentar a sua perda precoce. Um dia conhece um outro menino um pouco mais velho, criado pela tia, com uma infância conturbada, abandonado pelo pai e que logo também seria orfão de mãe. O segundo garoto tinha uma banda e o arregimenta como novo integrante. Pouco tempo depois, mais um menino, um pouco mais moço que os dois e fanático por guitarras, também se integra à trupe. Pronto, estava formada a espinha dorsal do maior grupo da história da música popular.
James Paul McCartney, o garoto canhoto, ao longo dos 55 anos seguintes se tornaria uma figura mitológica. Seria praticamente impossível historiar a quantidade absurda de papel e tinta gastos sobre a sua vida e obra. O grande mérito de Howard Sounes foi justamente equilibrar a equação, que pendia sempre para os 13 anos da aventura musical chamada Beatles, como os únicos relevantes na longa estrada até aqui percorrida por Sir Macca. O autor se debruça com igual interesse sobre o período posterior a 1970, desvendando bastidores de gravações, turnês, a relativa calmaria da vida em família (em contraste com boa parte de seus colegas de fardão), os momentos de crise e os ápices criativos. Nenhuma outra obra é tão abrangente sobre a vida do baixista mais famoso do mundo.
Por outro lado, Sounes também comete os seus pecados, caindo na fácil armadilha de atribuir um certo grau depreciativo à boa parte dos trabalhos solo do ex beatle, em um clichê adotado por boa parte da crítica especializada. Quem conhece razoalvelmente a obra de McCartney dificilmente concordará com as críticas ácidas a discos importantes como RAM, Venus and Mars e Driving Rain, da mesma forma que é difícil engolir os injustificados elogios à discos como McCartney II, reconhecidamente um álbum ruim. A tendência a explorar o sensacionalismo com que certos episódios menos nobres da vida do músico (como as várias detenções por porte de maconha, a batalha judicial com os demais membros da banda e o ruidoso processo de divórcio da segunda esposa , Heather Mills) foram tratados pela imprensa em geral também incomoda, mas nada que afete o status da obra como um título importante da vasta bibliografia Beatle, talvez o único que retrate Paul McCartney à altura de sua importância. Por inteiro.