A Carne

A Carne Júlio Ribeiro




Resenhas - A Carne


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Ma 04/10/2018

Inovador
O livro é inovador e ousado, pela época em que foi escrito, mas é muito maçante.
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Leila de Carvalho e Gonçalves 10/07/2018

Páginas Rasgadas
De autoria de Julio Ribeiro (1845-1890), "A Carne" é um romance naturalista, publicado em 1888, que escandalizou a sociedade e atraiu a ira da igreja, ao apresentar temas até então ignorados pela nossa literatura, como a independência da mulher, divórcio e o amor livre.

Polêmico e alvo de muita curiosidade, o livro esteve entre os mais vendidos durante décadas. Era comum ser comprado em segredo, muitas jovens foram impedidas de ler ou, quando obtinham permissão, as páginas consideradas impróprias tinham sido rasgadas. No entanto, a pátina do tempo fez com que sua obscenidade perdesse o viço, revelando uma drástica transformação de comportamento em pouco mais de um século.

Sua história narra a desenfreada paixão entre Helena Matoso ou Lenita, uma jovem instruída, amante da leitura, e Manuel Barbosa, um engenheiro mais velho e experiente que está separado da esposa há muitos anos. Considerado imoral, esse relacionamento culmina com um trágico desfecho.

A crítica jamais foi pródiga em elogios para o romance. Álvaro Lins afirma de que ele não passa de "uma mediocridade intelectual" e Nelson Werneck Sodré conclui que "marginal nas letras, "A Carne" não resiste à menor análise, seja de forma, seja de conteúdo". Na contramão, Manuel Bandeira foi um dos poucos a tecer elogios, no caso, por sua "posição didática e combativa".

Em linhas gerais, Júlio Ribeiro pretendia tecer uma contundente crítica ao atraso da sociedade brasileira no ostracismo do Império. Para tanto, criou uma protagonista de vanguarda que incomodaria os leitores por sua independência financeira, intelectual e sexual, inclusive, dando margem para abordar o sadismo, a ninfomania e perversões. Para tanto, a estrutura da obra teria como grande trunfo o "histerismo" da jovem, contudo, a opção por um desfecho que contraria o diagnóstico e a extrema erudição, que cria um clima artificial e destrói o romantismo ente os amantes, fizeram com com que a "celebração da carne ganhasse primazia sobre o questionamento dos valores burgueses".

Apesar do problema, para quem pretende conhecer o Naturalismo na literatura brasileira, essa é uma boa sugestão, inclusive, é frequente selecionado para leitura obrigatória em vestibulares.

Nota: "A despeito de ser extremamente popular, na atualidade, o termo ?histeria? não é mais utilizado e deve ser enfaticamente evitado. Isso se deve a vários fatores:
* Ele provoca confusão de diagnóstico. Não está bem definido o que significa.
* Também provoca preconceito e estigma, pois pode ser visto como fingimento dos pacientes, o que não é verdade.
* Existem várias formas mais precisas de classificar os fenômenos ditos histéricos." (Wikipedia)
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Gladston Mamede 14/06/2018

"A Carne", de Júlio Ribeiro, publicado em 1888.
Genial. Maçante em certas passagens, mas genial ainda assim. Um português primoroso, uma fé (não-religiosa, nem mística) na humanidade: a razão e a biologia, a mente e o corpo, o natural (a physis!), à ciência. Uma falta de vergonha pelo que verdadeiramente somos na condição de seres vivos e uma fé na moral não religiosa, mas lógica, fruto da compreensão de sua utilidade para a normalidade das relações. Li maravilhado esse texto de 1888 e me questionei o quanto o Freud (então com 32 anos de idade) teria admirado esse romance do maior gramático brasileiro daquele tempo. Fiquei embasbacado com a leitura. Quando terminei, percebi que amei.
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Livros, câmera e pipoca 10/04/2018

Uma protagonista a frente de seu tempo
Escrito por Júlio Ribeiro, o romance A Carne foi publicado pela primeira vez em 1888 e é considerado um romance naturalista. Seu lançamento fez grande sucesso e também causou grandes polêmicas, uma vez que o livro abordou temas até então ignorados pela literatura da época, como o divórcio, o amor livre e um novo papel para a mulher na sociedade.
Contrariando todas as convenções sociais, Júlio Ribeiro não teve receio em ousar ao trazer em público uma personagem independente, que se entrega a paixão não por um amor romântico e sim para atender seus desejos sexuais. Sua obra pouco explorada coloca o autor como um grande romancista naturalista, ao lado de nomes como Aluísio Azevedo.

site: https://livroscamera.wixsite.com/meusite/single-post/2018/04/08/Livro-A-Carne
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Vitor.Canestraro 04/03/2018

Ah Lenita...
A carne funciona como um divertido manifesto ao desejo puro, animal e visceral da condição humana. Em tempo que mistura lógicas científicas e teorias da condição apaixonante da humanidade.
Para os dias atuais, nada faz-se chocante, aliás, o sensualismo é até ingênuo, embora os termos naturais e crus possam chocar leitores menos habituados a corrente naturalista.
De um modo geral, Lenita é apaixonante e forte como uma mulher a frente de seu tempo.
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Samara 31/01/2018

A carne que pulsa
Resenha por fazer
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Leila de Carvalho e Gonçalves 23/10/2017

Páginas Rasgadas
De autoria de Julio Ribeiro (1845-1890), "A Carne" é um romance naturalista, publicado em 1888, que escandalizou a sociedade e atraiu a ira da igreja, ao apresentar temas até então ignorados pela nossa literatura, como a independência da mulher, divórcio e o amor livre.

Polêmico e alvo de muita curiosidade, o livro esteve entre os mais vendidos durante décadas. Era comum ser comprado em segredo, muitas jovens foram impedidas de ler ou, quando obtinham permissão, as páginas consideradas impróprias tinham sido rasgadas. No entanto, a pátina do tempo fez com que sua obscenidade perdesse o viço, revelando uma drástica transformação de comportamento em pouco mais de um século.

Sua história narra a desenfreada paixão entre Helena Matoso ou Lenita, uma jovem instruída, amante da leitura, e Manuel Barbosa, um engenheiro mais velho e experiente que está separado da esposa há muitos anos. Considerado imoral, esse relacionamento culmina com um trágico desfecho.

A crítica jamais foi pródiga em elogios para o romance. Álvaro Lins afirma de que ele não passa de "uma mediocridade intelectual" e Nelson Werneck Sodré conclui que "marginal nas letras, "A Carne" não resiste à menor análise, seja de forma, seja de conteúdo". Na contramão, Manuel Bandeira foi um dos poucos a tecer elogios, no caso, por sua "posição didática e combativa".

Em linhas gerais, Júlio Ribeiro pretendia tecer uma contundente crítica ao atraso da sociedade brasileira no ostracismo do Império. Para tanto, criou uma protagonista de vanguarda que incomodaria os leitores por sua independência financeira, intelectual e sexual, inclusive, dando margem para abordar o sadismo, a ninfomania e perversões. Para tanto, a estrutura da obra teria como grande trunfo o "histerismo" da jovem, contudo, a opção por um desfecho que contraria o diagnóstico e a extrema erudição, que cria um clima artificial e destrói o romantismo ente os amantes, fizeram com com que a "celebração da carne ganhasse primazia sobre o questionamento dos valores burgueses".

Apesar do problema, para quem pretende conhecer o Naturalismo na literatura brasileira, essa é uma boa sugestão, inclusive, é frequente selecionado para leitura obrigatória em vestibulares.

Nota: "A despeito de ser extremamente popular, na atualidade, o termo ?histeria? não é mais utilizado e deve ser enfaticamente evitado. Isso se deve a vários fatores:
* Ele provoca confusão de diagnóstico. Não está bem definido o que significa.
* Também provoca preconceito e estigma, pois pode ser visto como fingimento dos pacientes, o que não é verdade.
* Existem várias formas mais precisas de classificar os fenômenos ditos histéricos." (Wikipedia)
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Leila de Carvalho e Gonçalves 23/10/2017

Páginas Rasgadas
De autoria de Julio Ribeiro (1845-1890), "A Carne" é um romance naturalista, publicado em 1888, que escandalizou a sociedade e atraiu a ira da igreja, ao apresentar temas até então ignorados pela nossa literatura, como a independência da mulher, divórcio e o amor livre.

Polêmico e alvo de muita curiosidade, o livro esteve entre os mais vendidos durante décadas. Era comum ser comprado em segredo, muitas jovens foram impedidas de ler ou, quando obtinham permissão, as páginas consideradas impróprias haviam sido rasgadas. No entanto, a patina do tempo fez com que sua obscenidade perdesse o viço, revelando uma drástica transformação comportamental em pouco mais de um século.

Sua história narra a desenfreada paixão entre Helena Matoso ou Lenita, uma jovem instruída, amante da leitura, e Manuel Barbosa, um engenheiro mais velho e experiente que está separado da esposa há muitos anos. Considerado imoral, esse relacionamento culmina com um trágico desfecho.

A crítica jamais foi pródiga em elogios para o romance. Álvaro Lins afirma de que ele não passa de "uma mediocridade intelectual" e Nelson Werneck Sodré conclui que "marginal nas letras, "A Carne" não resiste à menor análise, seja de forma, seja de conteúdo". Na contramão, Manuel Bandeira foi um dos poucos a tecer elogios, no caso, por sua "posição didática e combativa".

Em linhas gerais, Júlio Ribeiro pretendia tecer uma contundente crítica ao atraso da sociedade brasileira no ostracismo do Império. Para tanto, criou uma protagonista de vanguarda que incomodaria os leitores por sua independência financeira, intelectual e sexual, inclusive, dando margem para abordar o sadismo, a ninfomania e perversões. Para tanto, a estrutura da obra teria como grande trunfo o "histerismo" da jovem, contudo, a opção por um desfecho que contraria o diagnóstico e a extrema erudição, que cria um clima artificial e destrói o romantismo ente os amantes, fez com com que a "celebração da carne ganhasse primazia sobre o questionamento dos valores burgueses".

Apesar do problema, para quem pretende conhecer o Naturalismo na literatura brasileira, essa é uma boa sugestão, inclusive, leitura obrigatória em muitos vestibulares.

Finalmente, transcrevo a opinião do poeta Ronald de Carvalho sobre o livro. Sem exageros e bastante equilibrada, merece atenção: ""A Carne" é um livro de exaltação, um hino dionisíaco ao prazer, ao gosto relativista, ao aproveitamento do momento que passa. Apesar do processo zolista, evidente que no arranjo das cenas, no exagero das paixões, na brutalidade das criaturas, e, até, num certo propósito de confundir o leitor ingênuo; apesar da grosseria da palavra e do gesto, notadamente violentos e estranhos, ásperos e pesados, há nele, uma poesia instintiva, um penetrante perfume de selva exuberante e selvagem. É uma obra comprometida pelo tom geral e escandaloso e atrevido, mas onde, não se pode negar, sobressaem muitas qualidades apreciáveis e um forte lirismo."

Nota: "A despeito de ser extremamente popular, na atualidade, o termo "histeria" não é mais utilizado e deve ser enfaticamente evitado. Isso se deve a vários fatores: 1. O termo provoca confusão diagnóstica. Não está bem definido o que ele significa. 2. O termo provoca preconceito e estigma e é visto como fingimento dos pacientes, o que não é verdade. 3. Existem várias formas mais precisas de classificar os fenômenos ditos histéricos." (Wikipedia)
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Felipe.Oliveira 26/03/2017

A carne chama
A nossa personagem independente e muito inteligente Lenita, tem sua vida revirada, pela tristeza relacionada a morte do pai, além disso se vê presa pelo seu desejo sexual muito aflorado e dessa forma se torna refém dessa vontade, no entanto um homem mais velho entra em sua vida se tornando objeto de seu desejo, todavia a própria negação de seu desejo torna o homem antagonista da personagem, fazendo o amor ser muito mais intelectual, mas quando há uma compatibilidade tão grande, o desejo dos corpos pode ser algo mais simples do que se aparenta.
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Eric 18/09/2016

O Naturalismo sempre buscou mostrar o lado insalubre das sociedades por meio de diversas degradações da moral humana. O sexo e a violência são marcas fundamentais que predominam em diversas obras dessa fase, tais como: O Cortiço e a própria A Carne. Permeado de denúncias às hipocrisias da burguesia brasileira, a obra de Júlio Ribeiro não poupa romantismos em sua narrativa, retratando as tentações mundanas do homem como fator inseparável da sua carne e coloca em discussão os limites do sexo em frente às convenções sociais tão glorificada como a família e a igreja.

Após perder o pai, Lenita vai morar na fazenda de um coronel muito próximo. Enclausurada, afogada em literatura e conversas tediosas com o patriarca da casa, a moça passa a tentar sobreviver ao tédio. O tempo corre e uma estranha indisposição toma conta de seus dias, depois de tanta investigações, descobre que sua necessidade era de um homem, o qual iria saciar seus desejos sexuais. A ausência do sexo masculino faz com que Lenita crie prazeres mórbidos como as torturas de animais e de escravos. Todavia, o filho do coronel volta de uma viagem, homem divorciado e dono de um físico atraente e maduro, encanta Lenita e juntos passam a viver um secreto caso de amor e sexo, o qual abordará temas como o amor livre e o novo papel da mulher na sociedade.

A obra naturalista traz diversas críticas a burguesia, Julio Ribeiro usa a imagem da mulher independente para combater o ideal de mulher do seu tempo: a esposa, mãe e educadora dentro dos âmbitos familiares. Além disso, o autor traz uma grande crítica sobre como o sexo não passa de uma simples necessidade orgânica de todos os seres, ao retratar uma Lenita que gosta de transar para sanciar as tentações da carne, o autor acaba quebrando com o ideal de máquina de procriar e submissão da mulher em relação ao homem.

Por outro lado, uma característica importante dos naturalista é a zoomorfização do ser humano e isso esta muito bem encaixada na história. Júlio Ribeiro coloca a moral do homem ao mesmo patamar dos animais irracionais. Mais claramente , quando Lenita começa a refletir sobre suas tentações, o autor sempre vai referir aos sexos como fêmea e macho e aos desejos dela provenientes do cio, dessa forma, a narrativa propõe que homem é um ser animalesco, que vai agir de acordo com seus interesses, não observando o que tem ao seu redor.

O caráter abolicionista do autor também está bem explícito, ao ser denfensor do republicanismo, Júlio denúncia os sistema escravata da seu tempo. Além de posicionar os escravos como verdadeiros bichos, o autor ainda retrata as torturas que eles sofriam nas diversas fazendas.

Apesar de tantos pontos positivos, A Carne tem seus lados negativos. O romance curto foi mal desenvolvido na historia em si, o autor trouxe divagações, por vezes repetitivas, de Lenita, as quais já estava óbvio para o leitor. Além disso, existe dois momentos do livro que são bem enrolados e chatos demais que poderiam muito bem ser excluídos ou substituídos por algo que enriqueceria melhor a narrativa, isso fez com que a leitura travasse e não trouxe novidades alguma.

Enfim, apesar desses pequenos problemas, A Carne vale a pena ser lido, um livro bem interessante dos clássicos nacionais, o qual traz críticas tão atuais como eram no século XIX.
Samara 14/02/2017minha estante
Adorei sua resenha, bem esclarecedora




Silvia.Leticia 13/08/2016

O naturalismo é o que há....
Tudo o que tem a ver com o realismo me fascina. Neste livro, em específico, há algumas descrições que me deram arrepios, de tantos detalhes marcantes.
O único momento que eu achei monótono foi quando Barbora envia uma carta à Lenita com demasiada descrição territorial, e assim ela também o fez mais para o final. No entanto, o enredo, o conflito é inesperado, já imaginei um filme em minha cabeça.
Só fiquei com dúvidas com relação a uma coisa: Por que Barbora ficou tão arrebatado pela notícia de que Lenita havia partido e com a carta que ele recebeu dela se, aparentemente, ele também não a amava, só tinha por ela desejos carnais?
Adoro quando uma leitura me deixa com essas dúvidas. Recomendadíssimo.
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Lily 07/07/2016

A Carne Arde nas Veias
Era para ser mais um clássico remontando a história local que construiu o Brasil de hoje... Deparo-me com uma mente revolucionária e visionária para época. Tirando as listagens e o desenvolvimento curto e seco da obra, ela é pura surpresa e agonia carnal e psicológica. Lenita não bate bem para mim, mas será que algum de nós bate? Marca da mulher forte que quebrou tabus patriarcais tão mais fortes que atualmente no passado.
A CARNE controla os homens até certo ponto. Verdade. É fisiológico, natural, voraz, mas é ardente como veneno que deixa cicatrizes na mente e, sem dúvidas, na alma.
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santanalidiane 06/05/2016

Uma pedra no sapato da sociedade hipócrita e conservadora!!!
Publicado em 1888, o romance naturalista “A carne” dividiu opiniões e foi alvo de grande polêmica. Dedicada à Émile Zola, a obra é uma síntese de todas as características da escola naturalista: a linguagem é direta e objetiva e, em alguns pontos, marcada pelo cientificismo; as descrições, sobretudo da natureza, são minuciosas; o homem é estudado e exposto através de seus aspectos biológicos e fisiológicos, bem como sob uma visão determinista – nesse caso, instintos como a libido sexual, fator que dita as ações dos protagonistas; patologias físicas e psicológicas também são exploradas. Todas essas particularidades culminam no zoomorfismo, que atribui às personagens atitudes típicas de animais: “E ela queria Barbosa, desejava Barbosa, gania por Barbosa.” – na utilização do verbo “ganir” percebe-se a animalização da espécie humana.
Contrariando todas as convenções sociais de seu tempo, Júlio Ribeiro ousa ao apresentar ao público uma protagonista independente, que se declara e se entrega a um homem não pelo amor romântico, mas mordida pelo aguilhão do desejo. Diferente das heroínas típicas dos romances burgueses, virgens intocáveis, castas e submissas, Lenita é decidida, voluntariosa e sensual. Poucas vezes na literatura, a sexualidade, sobretudo a sexualidade feminina (até então ignorada ou omitida), foi abordada de forma tão explícita. Ideias sobre o divórcio e o amor livre são abertamente discutidas pelo autor, que questiona uma das mais antigas instituições: o casamento.
Tais abordagens incitaram a grande repercussão do romance que tanto fascinou quanto incomodou. O núcleo intelectual da época era constituído por escritores liberais, mas também por mentes conservadoras que se escandalizaram com a obra. Entre estes, o mais exaltado foi o padre Sena Freitas, que escreveu um artigo intitulado “A carniça” no qual desancou o texto de Júlio Ribeiro descrevendo-o como “[...] naturalista e indecente como a maior parte dos de Zola”, algo que atentava contra a moral e ultrapassava os limites da tolerância. Também julgou o enredo e a personagem inverossímeis e incoerentes, criticando o sobrepujante erotismo da obra.
Júlio Ribeiro rebateu a crítica publicando uma série de artigos que intitulou “O urubu Sena Freitas”. Os textos frutos do embate entre os dois escritores foram compilados originando o livro “Uma polêmica célebre”, publicado em 1934. Porém, em meio a toda essa celeuma, nem todos reprovaram a obra do escritor mineiro: meio século depois da publicação de “A carne”, enquanto Álvaro Lins o excluía da literatura brasileira, Manuel Bandeira reconheceu o romance como um dos melhores exemplos no naturalismo.
O fato é que, apesar de conter alguns excessos em seu discurso científico ou trechos repletos de apreciações geográficas e dados sob fauna e flora – como nas enfadonhas cartas trocadas entre os protagonistas – é inegável o valor desse romance cujo autor deveria figurar ao lado de Aluísio Azevedo como um dos grandes romancistas do naturalismo. No entanto, nos livros de crítica literária, pouco se aborda sobre a obra de Júlio Ribeiro. De certo, foi por conta da hipocrisia e do puritanismo de uma sociedade retrógrada que ele foi injustamente “excomungado” do âmbito literário. Cabe aos leitores que se dispam de julgamentos morais ao ler e analisar esta obra. Só assim, este grande autor terá o lugar mais do que merecido na literatura brasileira.

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