spoiler visualizarsamuel.demoraes 27/05/2016
História fundamental para a época
“A carne”, romance naturalista de Júlio Ribeiro, foi um livro polêmico publicado em 1888. Considerado um clássico da literatura brasileira, o livro causou grande impacto na sociedade do século XIX por tratar de temas nunca antes abordados como divórcio, nudez, desejo sexual e o novo papel da mulher na sociedade. Mesmo com temas tão extravagantes para a época, o livro fez estrondoso sucesso. Apesar de escrita simples, comparada a outras obras da época, a obra chamou muita atenção criando um debate sobre a “mulher independente”.
O livro conta a história de Helena (chamada no livro de Lenita), uma jovem moça que perdeu sua mãe ao nascer. Seu pai, Lopes Matoso, a cria sozinho, ensinando tudo o que sabe a jovem moça, tornando-a uma mulher inteligente, astuta e independente. Lenita, aos seus 22 anos perde o pai que sofre de uma congestão pulmonar fulminante. Após dias de luto na casa do pai, Lenita vai para a fazenda do antigo tutor de Lopes Matoso, Coronel Barbosa. Lá a jovem se instala e começa a superar seu luto. No começo, a jovem se afoga nos estudos, mas após um tempo sente-se entediada por estar isolada em uma fazenda com uma velha entrevada que não conversava muito bem por ser surda e um coronel que sofria com crises de reumatismo. Após um tempo e uma crise médica, Lenita tem seu primeiro desejo pela carne, desejo este desencadeado pela figura de um gladiador de bronze.
Passado algum tempo, Lenita um dia pergunta pelo filho de coronel Barbosa, Manuel Barbosa. O coronel conta sobre as peripécias de Manuel, suas viagens pela Europa, sua saída para caçar em Paranapanema e Lenita, forma em sua mente a imagem de um homem perfeito, intelectual, viril, e alimenta por muito tempo esta ideia, apesar dos avisos do coronel, que dizia que ele não era homem para casar ou apaixonar-se, pois era praticamente um caçador ermitão que se isolara das mulheres.
Um dia o coronel anuncia a Lenita que seu filho está vindo para casa. , e Lenita, sai correndo para o seu quarto para se arrumar preparando-se para a chegada de seu “príncipe encantado”. Com a chegada do rapaz, Lenita espera finalmente conhecer seu futuro homem, porém, na primeira vez em que Lenita vê Manduca (jeito que o Coronel o chamava) tem uma enorme decepção. Ele aparece em uma forma terrível, magro, barbudo e com enxaquecas terríveis, conversando de forma grossa com Lenita, fazendo-a ter nojo da pessoa dele. Noutro dia, Lenita depara-se com o tão sonhado cavalheiro no pomar. Manduca explica a Lenita que sua enxaqueca o faz deixar de ser homem, que ele perde sua noção de cavalheirismo e bons modos, e Lenita, de prontidão, o perdoa e o acompanha até o almoço.
Lenita e Manduca, com o passar do tempo, tornam-se grandes amigos devido a grande quantidade de conhecimento que ambos trocam. Lenita, fascinada pelo saber graças ao seu pai e Manduca extremamente instruído passam horas e horas, dias e dias lendo livros e realizando experimentos com eletricidade, até que um dia, Manduca é mandado para a cidade de Santos para resolver alguns problemas financeiros de seu pai e Lenita sente-se aflita por ficar distante de seu amigo ao qual já começava a nutrir sentimentos mais íntimos que a amizade.
Manduca encontra Lenita de surpresa durante uma caçada da moça. A essa altura da história, Manduca já nutria sentimentos por Lenita também. Ele prepara então uma “casinha” para caçarem juntos, e lá eles pegam inúmeros bichos, porém um dia Lenita vai caçar sozinha e acaba sendo picada por uma serpente, e com medo da morte, declara seu amor por Manduca, que acaba salvando-a. Após este evento, fica claro para o leitor o que um sente pelo outro, porém ambos têm medo de declararem-se, pois Manduca era homem divorciado e não poderia casar, e Lenita era moça jovem e achava que Manduca não a amava, porém em pouco tempo, Lenita, dominada pelo desejo da carne acaba entrando no quarto de Manduca e se entrega por inteira a ele.
O tempo passa e Lenita e Manduca mantem suas atividades carnais, até que um infortúnio os pega de surpresa: Manduca é mandado para Ipanema. Com sua ida, Lenita desesperada de saudades resolve arrumar os aposentos de Manduca, e acaba encontrando cartas, bilhetes e objetos de amantes com quem Manduca já se envolvera. Lenita, desolada por descobrir que foi apenas mais uma na vida de Manduca, descobre que está grávida e decide ir para a cidade, deixando a fazenda e Manduca para trás. Manduca, ao chegar à fazenda, descobre que Lenita fora para a cidade enquanto estava fora e sente-se desolado, passa dias e dias se concentrando em ajudar seu pai para distrair-se, até que recebe uma carta de Lenita, onde ela conta que está grávida dele e que se casou com um advogado na cidade, já que sabia que ele não poderia se casar com ela de qualquer jeito, já que era divorciado. Manduca desemparado, decide suicidar-se, já que Lenita o havia abandonado e a história acaba com Manduca percebendo que cometera um erro, o erro de tirar a própria vida por causa de necessidades carnais sendo que podia ter aproveitado mais tempo com seu pai e sua mãe.