Niketche

Niketche Paulina Chiziane




Resenhas - Niketche


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Alê | @alexandrejjr 22/09/2021

A arte de contar histórias e costurar almas

A leitura de “Niketche - uma história de poligamia” não é obrigatória. É essencial.

Eu gosto da literatura engajada, que gera reflexão. Esse tipo de literatura é diferente da panfletária ou de entretenimento, pois ela tem uma função nobre e muito importante. E por isso concordo com o escritor gaúcho Altair Martins, em entrevista ao Paiol Literário: a literatura é “uma forma de intervenção” e “deve mostrar aquilo que não é mostrado”, pois ela tem o objetivo de “corroer a pretensa realidade”. Este livro da Paulina Chiziane é um exemplo maiúsculo dessa árdua missão.

Para entender a grandiosidade da leitura de “Niketche - uma história de poligamia” se faz necessária uma breve biografia de Paulina Chiziane, pois ela é uma figura inspiradora para o seu país e para as mulheres do mundo. A autora cresceu num subúrbio de Maputo em um seio familiar cristão, recebendo instrução formal em instituições dessa ordem religiosa e, portanto, aprendendo português, a língua do colonizador. Durante sua juventude, participou ativamente das atividades da Frente de Libertação de Moçambique, a FRELIMO, partido do qual se desliga posteriormente para se dedicar à literatura. E aí temos mais um feito fantástico: Paulina Chiziane é a primeira mulher a publicar um romance em Moçambique. E sabem quando isso aconteceu? Inacreditavelmente apenas em 1990!! O primeiro romance dela chama-se “Balada de amor ao vento” e não foi editado no Brasil, de acordo com a minha breve pesquisa.

Apesar de publicar esparsamente contos desde 1984, o reconhecimento nacional e internacional acontece justamente com a chegada de “Niketche - uma história de poligamia”, esta extraordinária peça de ficção que veio ao mundo em 2002. E por onde começar a falar de um livro tão potente como este? A tarefa é difícil, mas tentarei.

Em “Niketche” os leitores vão ser apresentados à conturbada vida de Rami. Moçambicana do Sul do país, Rami percebe-se abandonada pelo marido, Tony. E pior: percebe que a razão deste abandono está diluída em quatro mulheres. No nível mais básico, a história de Rami parece uma narrativa de realismo mágico que se perdeu em outro continente colonizado que não o americano. Mas o livro de Paulina é muito mais do que uma simples discussão sobre poligamia e traição.

Ao narrar a singular história de Rami, a autora educa seus leitores sobre as questões mais prementes do feminismo sem ser doutrinadora. Com uma prosa poética deslizante diante dos olhos, descobrimos em “Niketche” o poder da possibilidade. No livro, através das pontuações precisas da narradora diante das diversas questões apresentadas aos leitores, Paulina discute cultura, colonização, machismo, traição, maternidade, paternidade, sororidade e relações de gênero e poder, além da liberdade e da emancipação feminina. Conhecer Moçambique pelas palavras de Paulina é conhecer uma África profunda e ancestral que ainda sofre com as consequências da chegada do homem branco à região. É estar diante de uma costura de almas que desnuda o sofrimento de uma sociedade.

Em entrevistas e declarações, Paulina Chiziane gosta de afirmar que é uma simples contadora de histórias. O que ela não revela em sua voz suave nas suas sempre humildes intervenções, entretanto, é que esta é uma função transformadora. Uma história, quando tem o propósito de refletir sobre algo, apresenta possibilidades antes desconhecidas dos leitores devido à invisibilidade da pequenez do cotidiano. E quando isso acontece, meus caros, é lindo e inesquecível, como este livro.
Victoria 22/09/2021minha estante
Pra escrever resenhas como você, tinha que ser do jornalismo mesmo... você me deixa com vontade de ler tudo que elogia!


Alê | @alexandrejjr 22/09/2021minha estante
Que coisa, Victoria?! ?

Assim, não é o objetivo principal, né, mas se tem funcionado pra alguém, eu fico muito feliz! Acho que o melhor do Skoob é essa troca entre leitores, de resenhas e comentários sinceros sobre o que todos nós gostamos no fim, que são os livros. ?


Henrique Fendrich 22/09/2021minha estante
Acrescentei ao "quero ler".


Alê | @alexandrejjr 23/09/2021minha estante
É um livraço, Henrique, vale a pena. E o texto é muito convidativo!


samira.samsant.ann 23/09/2021minha estante
ah, eu quero muito ler esse livro!


Alê | @alexandrejjr 23/09/2021minha estante
A história é muito envolvente e o texto é muito poético, Samira! E o final é recompensador...


Roberta 24/09/2021minha estante
Poligamia e traição? ?


Alê | @alexandrejjr 24/09/2021minha estante
São assuntos espinhosos, Roberta, mas o livro discute com naturalidade e não obscenidade. Fora que vale muito conhecer esse lado da cultura moçambicana, tão distante da nossa realidade.


Carolina.Gomes 24/09/2021minha estante
Por sua causa eu corri p comprar esse livro. Confio na sua avaliação e bom gosto literário.


Alê | @alexandrejjr 24/09/2021minha estante
Essa responsabilidade sempre me preocupa... mas dessa vez não! É um baita livro, Carolina! E obrigado pela confiança. ?


Ana Sá 20/10/2021minha estante
Paulina acaba de ganhar o Prêmio Camões! Fiquei emocionada... Agora acho que teremos mais obras dela por aqui!

Obs.: lembrei que vc tb tinha adorado Niketche... Tive que vir comemorar a notícia no Skoob tb! rs


Alê | @alexandrejjr 20/10/2021minha estante
Sim!! Merecido demais. Só li esse dela, mas já adicionei outro e espero que mais livros sejam editados no Brasil. ?


Jan 25/02/2022minha estante
Fiquei perdidamente apaixonada por Chiziane em "O alegre canto da perdiz" e estou na metade do "Niketche" e lendo saboreando cada palavra. Que autora incrível e impactante.


Alê | @alexandrejjr 25/02/2022minha estante
Ela é maravilhosa, Janine!


eu, eu mesma e os livros 26/11/2022minha estante
Alexandre, é impossível ler uma resenha sua e não se interessar pelo livro!


Alê | @alexandrejjr 26/11/2022minha estante
Keli, muito obrigado pelo carinho e pela leitura! Impossível não abrir um sorriso com um comentário desse. Quando leres, sinta-se à vontade pra me procurar e comentar, terei o maior prazer de falar a respeito.


Leila 05/12/2022minha estante
Alê, terminei a leitura agora, mas nem sei o que escrever sobre, pq me causou tanta indignação essa história que se eu fosse textuar, seria cancelada, kkkkk


Alê | @alexandrejjr 24/03/2023minha estante
Leila, só vi teu comentário agora, em março de 2023. Me desculpa! Mas confesso que fiquei curioso com o porquê do teu possível "cancelamento"... ?


MariaRosaMaximiano 29/05/2023minha estante
Estou lendo e me surpreendeu demais.


Alê | @alexandrejjr 25/07/2023minha estante
E no final Maria, qual foi o teu veredicto?


th;2 19/01/2024minha estante
Eita, eu percebi um detalhe hoje, pesquisando sobre Moçambique, apareceu que a expectativa de vida para homens é de uns 58 anos. Isso explica porque o Tony não consegue dar conta das mulheres que tem, muito menos de uma nova! ?. Na idade dele lá, deveria estar bem gasto. Por isso o médico recomenda que fique só com uma.


manu 12/06/2024minha estante
bah, que doideira, vim aqui de bobeira ler umas resenhas, to lendo esse livro exatamente porque meu pai pediu pra eu fazer um resumo pra ele. adivinha? ele é o altair martins, kkk!!


Alê | @alexandrejjr 12/06/2024minha estante
Peraí, Manu, que eu tô meio atônito aqui. O QUÊ?? QUAIS AS CHANCES DISSO ACONTECER??




Bookster Pedro Pacifico 25/10/2022

Niketche – uma história de poligamia, de Paulina Chiziane
Vencedora do Prêmio Camões em 2021, um dos prêmios mais importantes da literatura em língua portuguesa, a autora moçambicana vem ganhando maior destaque no Brasil nos últimos meses. Um reconhecimento merecidíssimo que, se não fosse pelos obstáculos que a literatura de países do continente africano encontra no Brasil, já existiria há mais tempo.

Vale dizer que em seu país, o trabalho da autora tem um papel histórico: Paulina foi a primeira mulher moçambicana a publicar um romance. No caso de Niketche, o livro transborda cultura e tradições moçambicanas. A narrativa tem como personagem central Rami, uma mulher casada há duas décadas e que descobre que Tony, seu marido, tem uma amante. Isso, por si só, já gera uma tristeza avassaladora na personagem, que sente todo o seu esforço de exercer o papel de boa esposa sendo desprezado. Mas, para a infelicidade de Rami, a descoberta da amante é só o começo.

Iniciando um processo de confronto e busca de explicações do marido, a esposa oficial acaba se deparando com mais mulheres que também compartilham as migalhas de afeto e de recursos distribuídas por Tony. São mulheres com histórias distintas, mas que se conectam pelos laços criados por uma sociedade machista e patriarcal.

No entanto, aos poucos, o que poderiam ser motivos de desavenças entre as mulheres, acabam despertando força e coragem para tentar mudar sua posição de submissão e de eterna culpadas.

Gostei muito da história criada por Chiziane e da forma como ela revela os conflitos sociais e culturais existentes dentro de um mesmo país. São tradições que variam de acordo com cada região e que criam um país diverso e ainda em busca de uma maior identidade nacional.

Em alguns momentos senti que a narrativa se tornou um pouco repetitiva, mas acredito que essa sensação pode até sido criada de forma intencional pela autora, já que a repetição é um reflexo do psicológico de Rami, que fica remoendo a revolta, a tristeza e todos os questionamentos sobre a nova realidade de um relacionamento poligâmico.

Bora se aventurar na grandiosidade de Niketche?

site: https://www.instagram.com/book.ster/
Alexandre de Omena 26/10/2022minha estante
É uma história inesquecível.


Maria Izabel 09/07/2023minha estante
Estamos lendo num clube de leitura para lermos mulheres de Cuiabá e está sendo uma grata surpresa




Karol 12/11/2022

O percurso de Rami, narrado de forma magistral por Paulina Chiziane, ilustra com muito lirismo, mas sem ocultar a violência desse processo, o poder revolucionário da sororidade.

E não, o livro não é sobre o Tony e suas cinco mulheres, mas sim sobre cinco mulheres que conseguiram corajosamente juntas se desprender de dois regimes que, de formas diferentes, oprimem e continuam oprimindo mulheres.
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Ana Sá 29/11/2023

Mulheres moçambicanas, no plural
"Niketche - Uma história de poligamia" (2002), da moçambicana Paulina Chiziane, narra a história de Rami, uma mulher do Sul de Moçambique que descobre nas injustificadas ausências do marido Tony a existência de outras quatro "esposas" por ele mantidas. E aqui faço uso das aspas pois a condição dessas mulheres diz muito sobre a riqueza do panorama histórico-cultural que fundamenta o romance:

Se interpretadas à luz da monogamia de viés cristão trazida-imposta pela colonização portuguesa ao Sul do país, tais mulheres poderiam ser chamadas de "amantes", entretanto, sob o prisma da poligamia trazida-imposta pela ocupação árabe ao Norte, elas seriam também suas "esposas". Em síntese, nas palavras da própria Rami, Tony, sendo um homem do Sul e oficialmente comprometido com um relacionamento monogâmico, "faz imitação grotesca de um sistema que mal domina".

A ideia de uma "imitação grotesca da poligamia" anuncia o ponto forte do livro: fugindo de dicotomias simplificadas, a obra não faz uma distinção entre "bom" e "ruim" ao contrapor monogamia e poligamia. Ao contrário, é "grotesca" a postura de Tony pois, conforme é mostrado no livro, tradicionalmente poligamia não é bagunça, mas um modelo/arranjo familiar com regras próprias, no qual, por exemplos, não se admite a ideia de filhos ilegítimos (e portanto desamparados), havendo, inclusive, margem para uma (pequena) lógica matriarcal.

Mas, Ana, então esse romance celebra a poligamia?
Como eu disse, não necessariamente (ou bem pelo contrário?).

O livro de Paulina tem a força e a complexidade que tem justamente pelo modo como contradições e ambiguidades são tratadas ao longo de toda a narrativa, o que reflete/desenha retratados históricos próprios dos impasses entre tradição e modernidade/pós-colonialidade em Moçambique. A autora é genial ao lidar com esses embates e trânsitos histórico-culturais! E é por isso que ao mesmo tempo em que passam a se valer da poligamia e de outras tradições em favor próprio, as personagens femininas levantam questionamentos como: "Poligamia é destino de homem e castidade é destino de mulher" ou "Em matéria de presença, um marido polígamo é tal e qual um amante".

Por falar então nas personagens femininas de Paulina, eu considero que "Niketche" nos convida a descolonizar a nossa visão essencialista e universalista de “mulher africana” e de "patriarcado". Digo isso não só devido ao fato de a própria escritora se negar a aceitar o rótulo de “feminista” tal qual ele é definido pelo eurocentrismo, mas porque aqui somos brilhantemente apresentadas a "mulheres moçambicanas" em sua diversidade de vivências e de perspectivas. Quem diz que esse é um romance sobre “a” mulher africana e contra "o" patriarcado não entendeu muita coisa! A relação que Rami passa a ter com as demais esposas-amantes de Tony, a maior parte delas nascidas no Norte, e não no Sul, traz à narrativa feminismos plurais decorrentes de um incessante exercício de alteridade.

Não por acaso "Niketche", em Moçambique, é justamente uma dança coletiva e circular, servindo, pois, de alegoria para as aproximações e os distanciamentos que marcam o encontro das figuras femininas do romance. São mulheres que vão se descobrindo melhor a partir do que veem e do que não veem de si umas nas outras. O continente africano é plural, Moçambique é plural, e essas mulheres só existem no plural. Como bem disse Grada Kilomba em "Memórias da Plantação": "Aplicar a noção clássica de patriarcado a diferentes situações coloniais é insatisfatório. (...) O modelo do patriarcado absoluto foi questionado por feministas negras".

Eu poderia escrever pelo menos mais duas resenhas em continuação a esta aqui. Para além do que já descrevi, eu posso mencionar, por exemplo, que o humor e a ironia de Paulina são um deleite! Os temas complexos e sensíveis que são abordados do começo ao fim não impedem a autora de nos fazer gargalhar em muitos passagens! Impressiona que uma obra que toca tantos tipos de violência contra a mulher consiga ter momentos de leveza e graça, muito a partir da transgressão e da usurpação das tradições patriarcais sagazmente realizadas pelas personagens centrais. Aliás, aqui as mulheres não se resumem à condição de vítimas e eu andava sentindo falta disso na literatura atual! Elas também são agentes, e pra garantir a nossa gargalhada, às vezes elas são verdadeiras agentes do caos!

Eu sei que algumas leitoras dizem não ter gostado tanto assim de "Niketche" por causa da escrita bastante lírica-doce ou então por causa da circularidade/repetições narrativas. Entendo que gosto é gosto, mas pra mim esse tom ora poético demais, ora caótico demais reflete com coerência o interior igualmente doce-amargo da nossa protagonista Rami! Digo mais: como não se apegar a uma personagem que nos traz divagações do tipo: "Para as mulheres o eterno conselho é: segura, fecha, cobre, esconde. Para os homens é: larga, voa, abre, mostra". /// "Estou desesperadamente a pedir socorro e respondem-me com histórias de macho".

Vale lembrar que em 2021 Paulina Chiziane recebeu o Prêmio Camões e eu acho é pouco! Paulina não se aceita nem como "feminista" nem como "romancista" e me parece que o faz devido à insuficiência de categorias/rótulos eurocêntricos para definir sua escrita. De fato, nos faltam palavras para definir Paulina Chiziane e eu espero que ela seja mais e mais lida, até que nos brotem adjetivos que façam jus ao que ela nos entrega em obras como "Niketche". A literatura moçambicana não se resume a Mia Couto e que bom que começamos a nos dar conta disso!

Obs.: para falar em escritoras moçambicanas, no plural, eu não poderia deixar de indicar o belo livro "Sangue negro" (ed. Kapulana), da poeta Noémia de Sousa, que é tão reverenciada pela Paulina em suas entrevistas.
JurúMontalvao 30/11/2023minha estante
???
mt interessante


Carolina.Gomes 01/12/2023minha estante
Ah! Q bom! Quero tanto ler e tinham me desestimulado. Confio em vc.


Ana Sá 01/12/2023minha estante
Carolina, como eu mencionei, tem mta gte msm que reclama de ser um livro arrastado/enrolado e/ou meloso... Eu entendo bem essa sensação, mas de fato pra mim não incomodou nem prejudicou a leitura!

Não sei como seria pra vc, mas eu adoraria descobrir! haha Seus comentários são igualmente ótimos quando você desgosta de um livro! haha


Ana Sá 01/12/2023minha estante
Obrigada, Juliana ??




Leila de Carvalho e Gonçalves 24/07/2022

Um Hexágono Amoroso
Para meu espanto, somente em 1990, foi publicado o primeiro romance escrito por uma moçambicana. Trata-se de Balada Ao Vento e sua autora, Paulina Chiziane, é um exemplo inspirador, inclusive, 31 anos depois, ela rompeu mais uma barreira: tornou-se a primeira africana agraciada com o Prêmio Camões, o mais importante da literatura lusófona. A bem da verdade, esse pioneirismo aponta para o papel da desigualdade de gênero na estruturação da pirâmide social, que é justamente o fulcro de sua obra.

Uma obra, de viés feminista, cujo livro mais comentado é Niketche: Uma História de Poligamia. Publicado em 2002, ele gira a redor de Rami ou Rosa Maria, uma mulher que é o oposto ao aceito pela sociedade tradicional do seu país, à medida que ela desafia a subalternidade que vive e parte em busca da própria identidade e protagonismo. Uma trajetória repleta de humilhações e agressões, muitas vezes mascarada por costumes e legalidades que persistem em pleno século XXI, mas que a conduzem para o rompimento de padrões seculares por meio do empoderamento e sororidade.

Sucintamente, Rami narra seu casamento infeliz com o comandante de polícia Antônio Tomás, o Tony. Um relacionamento cuja satisfação do marido é prioridade e, a despeito dos sacrifícios da esposa, ele não se preocupa sequer em ser fiel, conforme prega a Igreja Católica na qual a união dos dois foi oficializada. Traindo a esposa com inúmeras mulheres, Toni é um ausente como esposo, pai e chefe de família e esta situação guarda um motivo surpreendente.

Seu coração ?é uma constelação de cinco pontos, um pentágono?. Rami é apenas um desses pontos, isto é, a primeira-dama ou a rainha-mãe. Os demais respondem pelos nomes de Julieta, Luísa, Saly e, Mauá Sualé, a caçulinha da lista. Descendentes de distintas tribos moçambicanas, o que indica uma pluralidade multiétnica, elas formam um fascinante ?hexágono amoroso? com suas respectivas casas e filhos, fazendo de Toni um patriarca de uma grande família, que reúne cinco esposas insatisfeitas e dezessete filhos com quem pouco tem contato.

A bem da verdade, a poligamia não é oficializada em Moçambique, mas é uma tradição que expõe mulheres e crianças a uma maior vulnerabilidade em caso de separação ou viuvez e essa é a temática da narrativa, à medida que a garantia de direitos expõe a fragilidade de um sistema que tem no poder, em especial, no poder econômico a razão de sua sobrevivência.

O desdobramento da narrativa traz à tona uma história fascinante. Repleto de reviravoltas, em alguns momentos, o texto prolixo tende a tornar-se cansativo, porém esse é um problema que acaba superado pelas próprias virtudes do romance, ou seja, uma literatura engajada que redimensiona o relato de traição e vingança graças a contextualização da poligamia que tangencia questões como colonialismo e preconceito.

Finalmente, quanto ao título, deixo para Chiziane explicá-lo: Niketche é uma dança do povo macua, ?uma dança do amor, que as raparigas recém-iniciadas executam aos olhos do mundo, para afirmar que são mulheres. Maduras como frutas. Estão prontas para a vida! A dança do sol e da lua, dança do vento e da chuva, dança da criação. Uma dança que mexe, que aquece. Que imobiliza o corpo e faz a alma voar. As raparigas aparecem de tangas e missangas. Movem o corpo com arte saudando o despertar de todas as primaveras. Ao primeiro toque do tambor, cada um sorri, celebrando o mistério da vida ao sabor do niketche. Os velhos recordam o amor que passou, a paixão que se viveu e se perdeu. As mulheres desamadas reencontram no espaço o príncipe encantado com quem cavalgam de mãos dadas no dorso da lua. Nos jovens desperta a urgência de amar, porque o niketche é sensualidade perfeita, rainha de toda a sensualidade. Quando a dança termina, podem ouvir-se entre os assistentes suspiros de quem desperta de um sonho bom.? (Página 163)

Boa leitura!
Clara 26/07/2022minha estante
Só pela sua resenha fiquei curiosa pra ler este livro.




Jacqueline 15/07/2017

Um outro olhar sobre o feminino
Paulina Chiziane é uma autora importante para se compreender a situação das mulheres em Moçambique. Em Nicketche vemos uma perspectiva do feminino diferente do que estamos acostumadas no Ocidente. É uma leitura pra sair do senso comum, para compreender gênero e raça, para aprender um pouco sobre um pedaço da Africa.
Ramón 04/08/2021minha estante
Oi Jacqueline,você sabe se consigo esse livro em pdf?


Jacqueline 28/12/2021minha estante
Oi Ramon, desconheço, tenho esse livro no papel mesmo




Thauany 25/10/2022

Porque chorar é destino de mulher
Que livro maravilhoso, uma aula do que é ser mulher e de sororidade, todo mundo deveria ler. Além do mais o senso de humor da Rami é maravilhoso e a história muito fluída. Só o final que poderia ser melhor mas mesmo assim 5 estrelas, a narrativa é impecável.
Amei ??
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Carol _Pinheiro 01/02/2024

Ótima escritora
Ótima escritora Paulina Chiziane.
Legal para conhecrler um pouco a cultura africana.
Super recomendo.
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Andre.Pithon 02/11/2023

Como a primeira autora moçambicana a publicar em seu país, Paulina Chiziane carrega um papel culturalmente muito importante, e acredito (no pouco que minha opinião aqui vale), que este livro é fortemente representativo dessa voz. Niketche é um mergulho na cultura de Moçambique, em suas tradições e vivências, e permite o contato com uma sociedade distante e distinta, mas que inevitavelmente ainda divide problemas com a nossa, a posição precária da mulher sendo em Moçambique permitindo uma reflexão sobre seu papel geral.

O livro possui uma voz forte, poética, que constantemente se perde em digressões introspectivas, com a personagem lutando com suas crenças e sentimentos durante todo o decorrer do livro. Rami, a protagonista, descobre que o marido está lhe traindo, vai atrás da amante para tirar satisfação, e descobre que não existe apenas uma amante, mas quatro. Todas eventualmente se unem em um sindicato poligâmico, impondo suas vontades, unindo-se como mulheres, usando o instituto da poligamia como uma arma precária contra um homem (e uma sociedade) que lhes nega amor, respeito e companheirismo.

Alguns momentos são bons, existe uma lenta inversão de poder e aquisição de autonomia que, mesmo sofrida, é boa de ver, a obra caminha para uma conclusão de resistência e de revolta, através das armas disponíveis, sejam quais forem.

Muitos dos eventos são um pouco circulares, e os mesmos acontecimentos repetem e repetem até se firmarem, situações paralelas repetitivas poderiam ser reduzidas sem perdas para a narrativa geral, um tema central poderoso que por vezes reforça demais seu tema ao ponto do cansaço. A narrativa introspectiva também circula tempo demais nos mesmo sentimentos, letárgica e repetitiva. É um livro de forte peso social e cultural, marcando tradições moçambicanas, mas que se alonga um pouco demais e perde muito rapidamente o fôlego dinâmico e cativante dos primeiros capítulos, engatinhando até um final que perde impacto por demorar em demasia para chegar.
Rayanna14 02/11/2023minha estante
Eu to lendo "balada de amor ao vento" dela, e to gostando muito


Andre.Pithon 02/11/2023minha estante
Está na minha lista, pretendo ler eventualmente! Esse foi um primeiro contato ótimo com a obra




misy 07/12/2022

claro que essa foi uma leitura obrigatória pra vestibular, pois não é o estilo de livro que gosto. apesar de eu ter lido bemm devagar, tem um enredo bem interessante. gostei muito da história se passar nesse ambiente e ainda mais ver a diferença das culturas. a visão que temos é de rami, uma mulher forte se unindo com as outras mulheres do marido, de forma poética.
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Luana Terra 07/02/2024

Niketche: uma história de poligamia
Acho que o livro cumpriu o papel dele: me mostrou e apresentou a uma cultura diferente, com ideias que não corroboram com as minhas. Me mostrou uma realidade total fora da minha bolha. Me deixou incomodada em saber que tem mulheres que vivem daquele jeito, que são ensinadas a servir ao homem sem questionar.

A autora nos convida à imersão em um mundo distante mas que escancara realidades muito próximas. O choque de culturas me espantou e causou desconforto. Me fez refletir.
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Yaya 10/11/2022

Desesperada por mudanças
Eu li esse livro por conta da UERJ. É um livro interessante que fala sobre temas muito relevantes, fala sobre cultura, dependência emocional, relações familiares e muitas coisas mais. Mas, na minha humilde opinião é um livro extremamente entediante. Eu estava esperando mudanças de comportamento da Rami que nunca vieram.
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Mari Pereira 27/03/2022

Primeira leitura de Paulina Chiziane e já sinto que preciso ler e conhecer mais a obra da autora.
Niketche é um mergulho intenso nas dores e dificuldades de ser mulher em Moçambique, com todas as particularidades culturais e sociais desse país. Mas, ao mesmo tempo, é também sobre a dor de ser mulher nesse mundo, seja qual for seu país ou sua etnia.
Um livro profundo, reflexivo, angustiante, que parece cortar na carne... e nos faz refletir sobre a importância da solidariedade e da empatia.
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Rodolfo Vilar 08/09/2024

Em “Niketche” de Paulina Chiziane, conhecemos a personagem Rami, mulher moçambicana que descobre que seu marido possui outras quatro esposas. Nesse descobrimento a personagem percorre um caminho de questionamentos sobre o papel da mulher na relação, narrando em primeira pessoa e num fluxo de consciência as agruras do papel da mulher numa sociedade patriarcal e marcada pelo machismo. A partir do conhecimento dos amantes de seu esposo, Rami tenta reverter os papéis na construção de um pensamento que discute as relações sociais de uma Moçambique do período pós-guerra, discutindo o sentido da poligamia, além de tecer uma rica tapeçaria sobre as tradições em confronto com as modernas.
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