Os Três Estigmas de Palmer Eldritch

Os Três Estigmas de Palmer Eldritch Philip K. Dick




Resenhas - Os Três Estigmas de Palmer Eldritch


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Camila0831 04/09/2021

Profunda e rica narrativa... ainda que terrivelmente sombria.
Termino a leitura e é natural que mídias como A Origem e A Maldição da Mansão Bly me venham a mente. Mas, ao mesmo tempo, percebo o quão mais profunda e ricamente a narrativa de K. Dick é apresentada. E terrivelmente mais sombria...
Sempre acho uma lástima como um autor tão incrível trabalha personagens femininas de modo tão raso e negativo, esse é provavelmente o único senão que encontro nessa obra. De resto, o livro que inicia com conspirações comerciais e luta de vaidades nos escritórios, ganha dimensões épicas e teológicas terminando por nos fazer questionar a realidade, nós mesmo, o uno e o múltiplo e como uma possível divindade pode vir e interferir em tudo isso. Nada que se diga sobre a obra a esgotaria e, certamente, ela será uma experiência pessoa muito rica dependendo que quem e em que momento de sua vida for lida. Apenas...
Continuo em choque que a maça e a Chew-Z humana continue repercutindo eternamente.
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Tania.Cruz 01/09/2021

Necessário
Com a temática relativa ao uso de drogas o livro mostra dois lados da utilização de algo que aparentemente poderia servir como refúgio e o quanto isso pode ser algo perigoso e hostil quando levado a níveis estratosféricos. Eu fiquei simplesmente encantada com todo o enredo e com a profundidade com o qual o tema foi abordado. Não poderia esperar menos de PKD!
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Fernanda2477 16/06/2021

Em um futuro no qual a Terra se tornou absurdamente quente, onde é impossível andar no sol do meio-dia, a emigração para outros planetas, inclusive Marte, acontece com frequência. Porém, emigrar não significa necessariamente encontrar uma condição de vida melhor do que a deixada para trás. Presos a um novo planeta e sem suporte adequado, a solução encontrada pelos colonizadores para encarar a realidade é o uso de uma droga ilegal chamada Can-D, substância que "traduz" os usuários para uma simulação em que podem interagir de maneira bastante realista com as miniaturas da Pat Insolente e seu namorado, bonecos que representam um modo de vida consumista, confortável e despreocupado.
Com o retorno de Palmer Eldritch, um empresário que passou anos em outro sistema, chega uma nova droga ao mercado, Chew-Z, que promete levar seus usuários a uma experiência muito mais imersiva do que a Can-D, recebendo até mesmo o aval da ONU para ser comercializada.
Diante da nova droga concorrente, o maior responsável pela distribuição de Can-D, Leo Bulero, que não por acaso também é responsável pela Ambientes P. I., empresa responsável pela Pat Insolente, procura informações sobre Palmer Eldritch e formas de impedir que seus negócios sejam arruinados.
Neste livro, a realidade é contestada o tempo todo e durante a leitura há diversos momentos em que o próprio leitor se perde, questionando se os fatos apresentados são reais ou imaginados pelos personagens. Apesar disso, a leitura é bastante agradável e flui rapidamente, já que a vontade de saber o que está realmente acontecendo e para onde a história irá caminhar é muito grande. Gostei bastante da leitura, e já vejo como um livro que vale a pena reler no futuro.
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Alexandre249 28/05/2021

Interessante, mas não me tocou
Reconheço a importância do autor, tanto na produção, como nas reflexões propostas, mas não me tocou.
Não sei se é problema de tradução, ou de encadeamento do autor, até porque foi minha primeira experiência com ele. Para quem gosta de ficção científica é um clássico, mas penso que o texto é um pouco confuso.
Amanda 23/02/2022minha estante
Acho que vale a pena tentar outro do autor. Para quem não está acostumado acaba sendo mais difícil. Recomendo Blade Runner ou UBIK.




Paula1735 27/04/2021

"Deus promete a vida eterna. Nós cumprimos a promessa."
Fiquei perdida no começo, mas não demorei a me ambientar na realidade criada pelo autor: um futuro onde o sol é tão quente que torra os seres humanos e algumas pessoas são enviadas para colonizar planetas frios, inóspitos e solitários, como Marte.
Nesses planetas, há somente uma porta de escape da depressão: a droga de tradução Can-D, traficada por um monopólio e encoberta pela própria ONU. As coisas mudam quando Palmer Eldritch retorna de uma longa viagem e trás, com ele, a ameaça de uma nova droga, infinitamente mais potente que a primeira: a Chew-Z.
Esse livro é espetacular, mas exige atenção do leitor. Dick não se preocupa em mostrar todos os passos dados pelos personagens, e isso é ótimo porque não deixa a história enfadonha.
Com certeza é um dos melhores enredos que já li, com personagens consistentes e humanos. Poucos livros me trazem essa sensação de "preciso ler isso de novo algum dia" e esse é um deles. É uma pena que o autor não tenha sido reconhecido em vida, pois deveria e muito.
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Mateus 08/03/2021

A sensação que eu tive enquanto lia, é que o PKD escreveu isso como uma forma de treinamento, pois a sua principal característica, que é a paranóia em relação à realidade, está bem presente, mas é algo cru e que necessita de um desenvolvimento.

O Homem Duplo/Um Reflexo na Escuridão possui um conceito semelhante, porém a sua execução é bem melhor (obs: saiu 12 anos depois).
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Durães 10/10/2020

Difícil definir
Eu adoro os livros do Philip K. Dick, ficção científica de primeira. A leitura é muito rápida e fluida. Como sempre, o tema é muito atual (parte da humanidade precisou emigrar para outros planetas por causa do aumento da temperatura da Terra) e propõe um questionamento interessante. Mas o debate filosófico neste livro me deixou confuso na maior parte do tempo. Não sei se foi intencional a confusão, mas me senti perdido.
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Gustavo Kamenach 23/08/2020

Na fronteira entre a metafísica e a ficção científica
Lendo PKD em ordem cronológica de publicação, nesse livro temos já o vislumbre da temática que o tornaria célebre no fim de sua carreira, a questão da religiosidade mesclada com ficção científica e conceitos tecnológicos. Também vemos aqui a realidade duvidosa que permeia a obra de Dick, não há certezas de qual é a real situação das personagens em diversos momentos da história. O uso de drogas pelos personagens do livro remete à própria vida do autor, tão conturbada quanto a dos colonos de Marte. É um livro envolvente, o enredo prende pela própria ação e quando começam as divagações e digressões fica cada vez mais genial, culminando em um final blow mind! Favoritado e com certeza que precisarei revisitá-lo futuramente!
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Morgado 21/05/2020

"Realidade é aquilo que, mesmo quando se deixa de acreditar em sua existência, não desaparece"
Os Três Estigmas de Palmer Eldritch é sem dúvida uma das melhores publicações de Philip K. Dick, mesmo sendo difícil encontrar uma que não seja excelente, assim como diversos autores de ficção científica Philip possui um tema central em suas obras que está diretamente relacionada com suas experiências de vida, experiências que Philip consegue com maestria transmitir ao leitor, Os Três Estigmas de Palmer Eldritch é mais um dos retratos ficcionais sobre a pergunta que perseguiu Philip por toda sua vida, da experiência do autor com drogas psicodélicas ás suas psicoses, o que é realidade?
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Davenir - Diário de Anarres 15/01/2019

Um clássico do autor questionando a existência da realidade
"Os três estigmas de Palmer Eldrich" é um dos romances emblemáticos de Philip K. Dick em sua fase psicodélica, mas basta ler um dos livros para saber que PKD é bem mais que o mero lado recreativo da química mas sim uma porta de entrada para as reflexões filosóficas que permeiam toda sua obra.

A estória se passa num futuro (2016, que já é passado para nós) onde a Terra está superaquecida e superpopulosa, onde os ricos podem desfrutar de um paraíso tropical na Antártida. A exploração espacial já rendeu diversas colônias espalhadas no sistema Solar, onde a vida é difícil e o recrutamento é compulsório. Uma da saídas dos colonos é o consumo de Can-D, uma droga alucinógena que "traduz" ambientes em miniatura, onde os usuários vivem uma vida de consumo no melhor estilo "American Way of Life" no corpo de Barbie de Pat Insolente. Esse mercado é explorado pelo traficante Leo Bulero que vende a droga para os colonos sob vistas grossas da ONU. A estória começa com a chegada de Palmer Eldrich e uma nova droga que ameaça o império de Bulero, a Chew-Z. Bulero recorre a seu funcionário, Barney Mayerson, um precog* que trabalha como consultor de moda para os ambientes em miniatura, utilizados pelos usuários de Can-D.

Ao longo da estória acompanhamos duas linhas narrativas: a primeira é a de Barney Mayerson vendo sua carreira profissional, pela qual deixou a esposa, ruir em meio a nova concorrência com a chegada de Eldrich. Dick consegue dar sensibilidade ao drama de Barney em meio a uma trama de intrigas enquanto o personagem, aparentemente bem estabelecido, busca seu lugar no mundo. A outra linha narrativa é o embate entre Leo Bulero com Eldrich, onde vemos dois tipos de "vilão", um o gangster tradicional, ao qual é integrado a sociedade e outro, na forma de Eldrich, um mal alienigena e estranho. Dick retrata em Eldrich um tipo de deus cruel ou, ao menos, muito distante do deus cristão de amor ou severidade. Este poder das drogas, seja a fuga pela Can-D ou a experiência transcendental da Chew-Z, se conecta com seu uso religioso mesmo que seus usuários não busquem ativamente com este sentido. Isso aparece na forma que se usa a droga Can-D: masca-se o alucinógeno observando dois bonecos do tipo Barbie e Ken, que se tornam avatares para a viagem a um mundo consumista que sequer existe mais na Terra. Algo relacionável a alucinação coletiva digital que Gibson se referiria, décadas depois. Isso acontece, pois, o autor trabalha muito com a intuição ao construir o seu mundo. O calor insuportável da Terra está mais ligado ao medo/fuga/covardia da sociedade que com o Aquecimento Global. Tudo isso em meio a constantes questionamentos do que é realidade e ironias escrachadas como a da "terapia de evolução", nas quais os habitantes da Terra pagam um bom dinheiro para serem melhores e capazes. Algo mais ligado ao status do que realmente uma evolução num sentido mais profundo.

O constante questionamento do que é a realidade, uma marca do autor, aparece com toda a força nessa estória. Personagens que se descobrem fantasmas de outras realidades possíveis, avatares e noções de realidade que brincam com a barreira entre o sagrado e o profano conduzem as jornadas dos personagens, principalmente a de Mayerson. A experiência de Can-D, algo intuitivamente parecido com a internet, é elevada com a Chew-Z. O uso dessa droga traz a experiência de ser parte de algo maior ou, em outras palavras, de ser a ilusão na mente de outro. Recomendo como leitura para iniciados na obra do autor. Para quem tem a mente fechada em relação ao uso de drogas eu não recomendo o leitor para o livro.

*Precogs são paranormais com a habilidade de ver o futuro. Eles enxergam todas as possibilidades de futuro e identificam as que tem maior probabilidade de acontecer. Eles são bastante recorrentes nas estórias de Philip K. Dick, apesar de serem mais lembrados no conto "Relatório de Minorias", que rendeu o filme Minority Report.

site: http://wilburdcontos.blogspot.com/2017/12/resenha-69-os-tres-estigmas-de-palmer.html
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Luiz Miranda 15/04/2018

Bad Trip
Um mestre em momento inspirado. Os 3 Estigmas de Palmer Eldritch é ambicioso e bizarro. Não espere uma história convencional: trata das consequências da chegada de uma nova droga ao sistema solar. A medida que a droga é experimentada pelos personagens, a percepção do que é real entra em parafuso.

"Deus promete a vida eterna; nós cumprimos a promessa". É o slogan da tal nova droga, Chew-Z.

PKD derruba as paredes da realidade e não dá trégua ao leitor, que se desdobra pra separar o que é real da ilusão. Não é um livro polido, perfeito: soluções simplórias e diálogos apressados também dão as caras aqui, só não conseguem tirar o brilho deste intrigante e admirável voo de imaginação. Merece sua atenção.
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Paulo 14/07/2017

Esta é uma obra que faz duras críticas sociais. O autor é conhecido por fornecer elementos fantásticos e de alta tecnologia para mascarar perguntas simples como: o que é realidade?, o que significa fé?

Barney está tentando encontrar seu lugar no mundo após perder a esposa por sua própria culpa. Leo busca acabar com uma possível concorrência apresentada na forma do misterioso retorno de Palmer Eldritch, um homem que foi explorar os confins da galáxia e entrou em contato com outras civilizações.

Primeiramente é bom salientar a proximidade que esta obra tem de Minority Report (filme baseado em outro conto de Philip K. Dick). O tempo todo o leitor acredita que está lidando com o real até o momento em que o autor dá uma rasteira e lhe mostra as alucinações e sonhos vividos pelos personagens. A droga Chew-Z apresenta uma realidade fluida na qual o leitor se sente inseguro sobre o que está sendo apresentado pelo autor. Frequentemente nos perguntamos durante o desenrolar da história: “Isso está acontecendo mesmo?”. Esta é a mágica de Philip K. Dick que veremos em outros livros de sua extensa produção. Aqui não é o narrador que não é confiável; é a própria ambientação apresentando a falta de confiabilidade.

Questões de fé também são discutidas ao longo da história. Em um primeiro momento os personagens tentam descobrir se Palmer Eldritch retornou como um deus. Isso dado o controle sobre a vida e a morte e a manipulação da realidade exercida por Palmer. Seriam essas qualidades divinas? Palmer Eldritch, através do Chew-Z, consegue perpetuar sua persona a todos os lugares. Barney menciona até o Gênesis, primeiro livro que compõe a Bíblia católica, ao dizer que nos tornaríamos filhos de Eldritch já que possuiríamos fragmentos de sua consciência. Seríamos moldados à imagem e semelhança de Eldritch se os seus planos tivessem êxito.

A fé também é questionada. Barney, sendo um homem prático, vê todos os seus dogmas sendo destruídos progressivamente pela influência do Chew-Z. O personagem não sabe aonde alicerçar sua noção do que é ou não real. Sua noção de ciência também é destruída pelo que Palmer manipula como real. No fim da história Barney conhece Anne que é capaz de realizar uma questão teológica usando os escritos de Paulo de Tarso, um dos apóstolos do Novo Testamento bíblico. Anne faz Barney repensar o seu lugar no mundo. Sendo interpretativo, Anne apresenta uma noção flexível do que pode ser considerado o “divino”. O “divino” é aquilo que fornece força e objetivo para nossas vidas. Não importa de que maneira nós pintemos ou mascaremos essa representação. Só precisa servir como uma influência positiva para nossas vidas.

Os personagens foram muito bem criados e são usados satisfatoriamente na história. Mesmo os colonos de Marte ou a amante de Barney cumprem um objetivo na história. Não são apenas jogados como refugo. O autor cumpre bem o objetivo proposto no início da história: fazer uma crítica social.


site: www.ficcoeshumanas.com
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Sandro 09/11/2016

"O impuro e o sagrado são confundidos pelas mentes primitivas"
Esse é talvez o livro mais caótico de PKD. Os embates entre Leo Bulero e Palmer Eldritch pelo domínio do tráfico de drogas em Marte são ambientados em meio a muitas alucinações e distorções de realidade, a ponto de deixar o proprio leitor confuso.
No meio dessa bagunça toda, se destacam a megalomania e narcisismo de Bulero (se achando o salvador da raça humana), a culpa de Bayer por ter abandonado a mulher e traído o chefe (disposto a expiá-la em uma missão quase suicida) e a ambição da precog Roni.
A grande questão do livro é quem (ou o que é) Palmer Eldritch e está aberta a várias interpretações.
Eu tenho muito carinho pelas obras de PKD e esse é o último livro que faltava pra eu ler da leva lançada recentemente pela Editora Aleph, então confesso que me sinto meio triste e meio órfão nesse exato momento.
Sandro 09/11/2016minha estante
Embates* são* ambientados*
Por isso que odeio escrever resenha pelo celular :(




Orlando 15/04/2016

O LIVRO É: OS TRÊS ESTIGMAS DE PALMER ELDRITCH DE PHILIP K. DICK
O mega-empresário Palmer Eldrithc viajou ao sistema Proxima, foi uma longa viagem e seu retorno foi tumultuado. Leo Bulero, também um mega-empresário, foi o primeiro a se alarmar com o retorno de Palmer, sua empresa, a Ambientes P.I, seria a primeira a sofrer com o retorno do respeitado rival. Seus consultores de Pré-Moda já estão em alerta, os precogs (de precognitivos) Barney Meyerson e sua nova namorada Roni Fugate, seres humanos dotados do dom de prever possíveis futuros, viram duas situações envolvendo futuros em que Bulero assassina Palmer e um futuro em que Meyerson, ao tentar salvar Bulero de Palmer, acaba morto

Dois homens extremante poderosos em rota de colisão, duas drogas capazes de traduzir os seres humanos para outras realidades disputando mercado, colônias de terra-formação em Marte, uma conspiração para dominar a tudo e todos, decisões tomadas no calor do momento e a percepção do real posta à prova Philip K. Dick entregou mais uma vez ao seu leitor uma narrativa rápida, instigante e cheia de dúvidas que atormentam seus personagens e a nós, seus fãs.

Philip K. Dick, o homem que duvidou de toda Realidade

Philip K. Dick (PKD), um dos mais respeitados e renomados escritores de Sci-fi do século XX, possui em sua cota de grandes livros obras como O Homem do Castelo Alto, Androides Sonham com Ovelhas Elétricas? (que inspirou o cultuado filme Blade Runner), Valis, Ubik e muitos outros tesouros cuja a tônica, em sua quase totalidade, é pôr em xeque a percepção do que convencionamos chamar de Realidade. Dick não fez diferente com Os Três Estigmas de Palmer Eldritch.

Magistralmente o autor convida seu leitor a mergulhar em uma viagem a um futuro não tão distante, mas de posição imprecisa como todas as suas obras, onde o planeta, super-aquecido e super-populoso, envia de forma quase obrigatória através de uma convocação da ONU, terráqueos para outros planetas do sistema solar, sobretudo Marte, onde se pretende estabelecer uma colônia permanente para a futura migração massiva de humanos quando a vida na Terra atingir níveis proibitivos.

Precursor de alguns dos muitos conceitos do Cyberpunk, PKD criou um mundo, tal qual o de Blade Runner, em sucatas, poluído, à beira do abismo social para nós como espécie segmentada e no limite das temperaturas escaldantes quando o Sol está a pino ao meio dia A guerra entre empresas, comum em obras cyberpunks, já estava em evidência nas obras de Dick que antecederam Neuromancer, só para pontuar a habilidade de precog do autor.

É comum encontrar nas obras de Dick diversos questionamentos filosóficos e religiosas, bem como a convergência de diversos conceitos religiosas diferentes (gnose, cristianismo, budismo, transcendentalidade, transubstanciação etc) ao lado de conceitos científicos (reais ou fictícios) como ciborguização, realidades paralelas, projeções temporais e previsões de probabilidades de futuros, tudo isso regado ao uso de psicoativos (drogas, medicamentos, alucinógenos etc) capazes de por em dúvida a percepção de seus personagens e, no fim das contas, a percepção do leitor sobre a história ali escrita PDK questionou a realidade e ela ficou em dúvida sobre si mesma.

De certo modo Os Três Estigmas de Palmer Eldritch parece ser um livro de convergência da quase totalidade dos temas preferidos do autor. Está tudo lá: as drogas alucinógenas, a dúvida sobre o que é real, as muitas visões religiosas e metafísicas sobre tudo, as múltiplas realidades ao nosso redor, os questionamentos de ordem ética e filosófica.

Começando pelo contexto e conceito, depois pela narrativa
Métódico em suas narrativas, PKD começa este livro calmamente apresentando seus personagens, contextualizando o mundo em que vivem e expondo de forma bem natural os muitos conceitos de sua visão de futuro. O leitor mais atento e fã do autor e suas obras com absoluta certeza fica tentado a imaginar (por que não afimar?) que o mundo de Palmer Eldritch é o mesmo do caçador de replicantes Decard. As semelhanças não são poucas e se dão em vários níveis, desde a descrição da tecnologia até os aspectos climáticos mas é um exercício bem individual essa suposição, fica a critério de vocês.

De partida conhecemos os dois precogs que estarão ao lado do poderoso Leo Bulero: Barney Meyerson e Roni Fugate. Ele um homem mais maduro, experiente, divorciado e com grandes pretensões para a carreira profissional na estrutura da Ambientes P.I, Meyerson foi convocado para ser colono em Marte e não sabe se vai conseguir ser reprovado nos testes; ela é jovem, ainda aprendendo muito sobre o ramo de pré-moda, bonita, inteligente e sagaz, nada econômica em seus julgamentos e opiniões emitidas com ou sem o consentimento de seus ouvintes.

Já na apresentação dos dois personagens, PKD vai despachando uma torrente de ideias, conceitos e situações que irão pontuar sua narrativa de diversos modos; alguns durante todo o trajeto da história, outros apenas aparecendo e desaparecendo para cimentar o contexto do mundo criado por Dick.

A Ambientes P.I e a droga de tradução Can-D, por exemplo, são foco constante de citações por todos os lados. Capaz de mergulhar o usuário para dentro de um ambiente miniaturizado como se fosse uma casinha de bonecas ou um jogo de tabuleiro, a Can-D traduz o usuário para o mundo da bela e estonteante Pat Insolente, uma persona fictícia estilo Barbie, cuja vida é uma maravilha ao lado de seu namorado; o mundo de Pat é objeto de desejo e ponto seguro para aqueles que querem escapar aos sufocos da vida real.

Ao consumir a droga os usuários vão para esse mundo, as mulheres se tornam Pat Insolente e os homens seu namorado. Tudo dentro da realidade da casinha de bonecas pode durar alguns minutos ou até horas, conforme a dose de Can-D consumida. A noção de tempo, claro, é completamente desvirtuada nos ambientes de Pat Insolente e esse é um dos grandes atrativos da obra: constantemente ficamos nos perguntando qual parte daquela história toda é uma história concreta? Estamos na mesma realidade ou já estamos na outra? ou naquela outra?

Nas colônias humanas no planeta Marte, a Can-D é uma fuga, uma salvação, quase um culto a ser seguido pelos colonos que vivem em cabanas precárias e sucateadas. Ali todos mastigam a droga, se transportam para o mundinho de faz de conta de Pat Insolente e lá vivem e relembram coisas há muito deixadas para trás num tal planeta Terra.

Nesse fluxo de composição dos ambientes de Pat Insolente, como disse mais acima, um tipo de casinha de boneca, os precogs de Leo Bulero analisam peças de roupa, utensílios domésticos e todo tipo de tranqueira que possa ser reduzida e vendida para compor os ambientes e dar-lhes mais consistência e materialidade numa tradução. Daí vem sua profissão: analistas de pré-moda, o que pode virar um grande fenômeno de vendas ou um grande fracasso é analisado pela percepção precognitiva de pessoas como Fugate e Meyerson.

Deus promete a vida eterna; nós cumprimos a promessa.

E não para por aí Quando Palmer Eldritch retorna de sua viagem de uma década, seis anos de translado, quatro de residência, traz consigo uma estranha substância que, segundo se noticia, tem aval da ONU para entrar no sistema Sol. Batizada de Chew-Z, a substância é também uma droga de tradução e vai ser comercializada de forma legal e disputar espaço contra a Can-D, não aprovada pela ONU para comercialização no planeta Terra, daí ser vendida apenas ilegalmente nas colônias de terra-formação.

Mais poderosa, mais estável e capaz de traduzir o usuário sem a necessidade de um ambiente de referência, a Chew-Z também é mais barata de sintetizar e, consequentemente, mais barata de vender. Além de voltar à Terra, Palmer Eldritch entrou no caminho de Leo Bulero de forma avassaladora a ponto de um de seus precogs se alarmar ao vislumbrar um possível futuro onde Bulero é condenado pela morte de Palmer. Esse é o ponto de partida para uma guerra silenciosa travada por esses dois homens tanto fora quanto dentro de suas próprias mentes. Falar um tanto a mais que isso é estragar muitas das surpresas da leitura acredite, você não quer que isso aconteça.

Diferentes realidades, diferentes focos narrativos

Quando dá o ponta-pé inicial de seu livro, PKD nos faz acreditar que aquela narrativa vai nos guiar por uma acirrada disputa entre dois homens de negócio que estão na camada limítrofe entre o ofício de empresários milionários e mafiosos milionários. Mas como boa parte de sua obra, esta primeira impressão dá lugar a um intricado jogo de poder e donimação, não só de mercados, mas sim de mentes e de realidades inteiras. Bulero é um humano artificialmente evoluído, Palmer é um humano alterado, possui um braço cibernético, dentes postiços de metal e olhos artificias também cibernéticos um tem a Can-D, cuja presença na vida dos colonos é um ponto de fuga, Palmer traz consigo a misteriosa Chew-Z com o slogan assustador de Deus promete a vida eterna; nós cumprimos a promessa.

O jogo se arma num tabuleiro que alterna frequentemente as peças em movimento um tanto caótico em sua organização narrativa, PKD muda constantemente seu foco narrativo e os personagens no centro dele, um recurso muito interessante em alguns casos, mas também um tanto estranho para outros, já que em dadas situações certos personagens apareceram, fizeram algo e depois não tiveram mais papel ativo na trama ou em sua condução.

Alguns casos eu até achei que esses personagens foram construídos como uma certa pressa e deixados de lado para não alongar uma trama já cheia de desdobramentos e ideias. Só para citar um exemplo, há situações que simplesmente as habilidades dos precogs desaparecem e escolhas são feitas ignorando o fato de que tais personagens poderiam ter dado uma série de outros desdobramentos em certas ocasiões limítrofes, já que as visões de possíveis futors lhes salta à percepção tão logo algo muito drástico esteja no limiar de acontecer.

A colônia em Marte, a disputa pelo espaço das duas drogas de tradução, os ambientes de tradução, a viagem de Meyerson para Marte e sua relação com a ex-esposa, as manipulações de Roni Fugate, os mistérios envolvendo a viagem de Palmer Eldritch ao sistema de Proxima, as visões de Bulero em um ambiente de tradução

Os focos são muitos e às vezes parece que o autor mergulhou demais em uns e deixou outros numa piscina bem rasa e quase vazia não que não seja um deleite apreciar a escrita e a trama complexa estabelecida pelo autor, mas fica latente aquela sensação de que há buracos aqui e ali que poderiam ter sido preenchidos com mais substância.

PKD alterna muito entre ser um excelente criador de conceitos e ideias de um lado e ser um excelente narrador de histórias do outro, no meio disso ele é um exímio manipulador; aqui nesse livro ele resolveu por tudo isso em prática, consegui com facilidade, mas deixou a obra um tanto fragmentada no excesso dessas três características em um livro Que poderia ser maior. Com apenas 248 páginas, o livro poderia ter atingido facilmente umas 400 páginas de conteúdo e trama sem prejudicar em nada o prazer da leitura é Philip K. Dick, por favor, como toda boa droga de tradução, nunca é demasiado.

Mas não há do que realmente reclamar, uma obra de PKD não pode ser tão linear, retinha e conectada passo-a-passo, estamos falando de uma mente inventiva e que criou obras intrigantes e cheias de conceitos. A fragmentação de sua narrativa não deixa de ser a fragmentação de sua própria mente Não foram poucas às veses em que imaginei Eldritch, Bulero e Meyerson como alter-egos de Dick como foi feito em Valis: uma pessoa, múltiplas personalidades e formas de ver o mundo.

Acima de qualquer viagem alucinógena pelos meandros das múltiplas realidades e de como as percebemos, Os Três Estigmas de Palmer Eldritch é um daqueles livros submersivos, que te traga para um mundo diferente, mas ao mesmo tempo cheio de similaridades com o nosso mundo real (aquecimento global, caçadores de tendência, colonização de Marte etc).

Garantia de momentos inspiradíssimos e de leitura de primeira grandeza, Os Três Estigmas de Palmer Eldritch é mais uma obra que enriquece qualquer estante e tem aquele gosto amargo de suspensão do leitor perto de suas últimas páginas aquela pequena dose de angústia satisfatória que brota em nós quando o fim deixa portas abertas demais para que nossa mente perdure ali dentro daquele mundo mesmo tendo saído por uma delas.

O livro está em nova edição pela Editora Aleph com capa temática e uniformizada para a coleção Philip K. Dick. Boa leitura

Os Três Estigmas de Palmer Eldritch
Num futuro não tão distante, quando o exílio compulsório de um planeta Terra excessivamente quente significa instalar-se miseravelmente em colônias marcianas, a única coisa que faz a vida dos colonizadores suportável são as drogas. Única em sua finalidade, a Can-D traduz aqueles que a consomem para uma outra realidade.
No entanto, o surgimento de um concorrente abre uma disputa por esse mercado. Chamada Chew-Z, a nova substância é comercializada sob o slogan Deus promete a vida eterna; nós cumprimos a promessa. Mas a questão é: Que tipo de eternidade ela oferece? E quem ou o que será seu portador?

ISBN: 978-85-7657-092-9
Tradução: Ludimila Hashimoto
Edição: 1ª
Ano: 2010
Número de páginas: 248
Acabamento: Brochura
Formato: 14 x 21 cm
R$ 42,00

site: http://www.pontozero.net.br/?p=9100
Adson 11/04/2018minha estante
Belíssima resenha! Parabéns!




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