Cris Lasaitis 28/12/2010
http://cristinalasaitis.wordpress.com/2009/03/29/leituras-de-marco2009/
Achei bem interessante a proposta desta escritora mexicana que resolveu concentrar em um único livro 52 biografias de personagens femininas influentes na cultura universal (e mexicana): figuras mitológicas, personagens trágicas, donzelas de contos de fadas, rainhas, nobres, intelectuais, santas, escritoras, artistas, monjas… É o tipo de livro que gosto bastante pela alta densidade de informação aproveitável. Quando fechava o livro, precisava fechar muito bem pra não vazar conteúdo pelas lombadas.
Descobri várias curiosidades, por exemplo: na cultura grega antiga, de acordo com o que se pode concluir através dos mitos e narrativas heróicas, grandes demonstrações emocionais eram tidas como comportamento de homem; das mulheres esperava-se que ocultassem suas emoções, que fossem mais frias e estóicas. Descobri também que São Cirilo, o mais provável mandante do assassinato da filósofa e astrônoma Hipátia de Alexandria, foi canonizado pela Igreja, adivinha por quê por quê por quê? Porque defendeu a infalibilidade da religião católica. Digna de nota também é o capítulo dedicado à rainha Elizabeth I, que tem um dos mais invejáveis currículos a que um estadista pode aspirar. Outros destaques são Catarina de Médici, Cleópatra, Simone de Beauvoir, Virginia Woolf, Cristina da Suécia…
O livro peca em alguns pontos. A começar pela linguagem floreado-diafanizada da autora que nas intermitências do texto penetra os escaninhos de uma prolixidade que, de momento a momento, não quer dizer porcaria nenhuma. Ela não percebeu que certos exercícios de síntese não funcionam, p. ex: não dá pra resumir a queda de Tróia em detalhes dentro de quatro páginas citando todos os heróis, vilões e os vinte filhos de Príamo e Hécuba. Também senti que em alguns momentos a autora trata versões apócrifas de mitos como se fossem as mais confiáveis, e às vezes parece tentar minimizar certos indícios históricos, como no caso da biografia de Safo, que era lésbica de nascimento (Ilha de Lesbos) e gostava de mulheres, mas, segundo a autora, ”não era bem assim”… A parte mais desmerecida é o capítulo chamado “Caminho de Deus”, em que se assiste a um desfile interminável de Nossas Senhoras mexicanas e santinhas milagreiras feitas de pasta de milho que só são do interesse dos católicos nativos. Para não compensar, há lacunas e omissões inexplicáveis: nem uma menção sequer a Julieta, Desdêmona, Hildegard von Bingen, Joana D’arc, Catarina Grande, Lucrécia Bórgia, as irmãs Brontë ou Mary Shelley. Não deu pé nem para Frida Kahlo, pintora mexicana que na visão de Martha Robles é menos merecedora de uma biografia que sua conterrânea e colega de arte María Izquierdo (alguém já ouviu falar dela?).
Em geral é um livro muito bom, a leitora aqui que é meio cricri.