Antonio 15/12/2019
Mistério que Estimula o Conhecimento
Você já leu um livro em que alguns adolescentes se deparam com um crime e resolvem investigar o caso, transformando-se em detetives?
A ideia não é nova, mas Mistério no Museu Imperial, de Ana Cristina Massa, editora Biruta, merece destaque.
Além do mistério e do crime, a autora inclui um passeio muito interessante por Petrópolis e pelo Museu Imperial: é um passeio pela História do Brasil, sem contar que todos os ‘cenários’ da narrativa podem ser visitados, fotografados, estudados, e por isso esse é um livro que se presta muito bem a atividades complementares criativas e interessantes (atenção, professores, isso é com vocês!). Naturalmente, a visita a Petrópolis fica mais fácil para quem mora no Rio de Janeiro.
Os adolescentes Gênio, Jonas, Goma, Sofia e Isadora (os Invencíveis) fazem uma visita escolar ao Museu Imperial. O passeio pelo museu deve ser feito com pantufas (o que é verdade). Mas nesse passeio eles veem um sujeito muito esquisito no museu, que não parece um guarda — quem seria ele? Tudo é envolto por brumas, pois esse é um dia chuvoso, e temos a sensação de que esse sujeito é um fantasma, pois o clima criado pela autora é de um mistério quase sobrenatural.
Gênio, o adolescente de gênio, inteligente, compra na loja do Museu Imperial quatro quebra-cabeças, para surpresa do vendedor. Por que ele comprou quatro? Porque os Invencíveis (que ainda não incluem Jonas) são quatro, e montar o quebra-cabeça será um desafio entre eles. Esse quebra-cabeça é a famosa pintura Fala do Trono, do pintor Pedro Américo, que mostra D. Pedro II com a coroa real. Em certo momento, a tela é descrita: D. Pedro II é o centro da atenção dos homens importantes do império, enquanto a princesa Isabel e o Conde d’Eu conversam entre si.
No entanto, quando eles montam o quebra-cabeças (e Isadora sai vitoriosa), eles percebem que existe uma estranha figura na tela, e essa figura não aparece nas fotos oficiais do museu. Ou seja, será que aquele sujeito esquisito é uma espécie de fantasma que se materializou no quebra-cabeças? Como explicar esse absurdo? Esse é o mistério.
Os adolescentes têm personalidades bem distintas: o “intelectual”, o “esportista”, o “engraçado”, a “menina bonita amiga de todos”, e a “insegura”. Mas eles são convincentes. Os diálogos têm vivacidade.
Mas o interesse principal fica com a aventura: a perseguição a esse “fantasma”, a descoberta do que realmente aconteceu. Os adolescentes vão para Petrópolis nas férias, ficam na casa do avô de Gênio, e começam a investigação.
E com isso passamos várias vezes pelo museu: a Sala de Estado, o Gabinete de D. Pedro II, a Sala de Música (descobrimos que D. Pedro tocava violino), e até a “Carruagem de Gala de D. Pedro II”, que fica no Pavilhão das Viaturas. Tudo de acordo com a realidade. E é essa realidade histórica que dá grande charme à narrativa.
Para não dar spoiler, vamos apenas dizer que a solução do mistério tem tudo a ver com a História do Brasil do final do século XIX. Ou seja, esse livro é um convite ao conhecimento. Pena que o livro não tenha algumas ilustrações (desenhos) para de alguma forma atiçar ainda mais a curiosidade. Os espaços do Museu são ilustrados com fotografias ao fim do livro, mas seria ainda mais interessante se as fotografias não estivessem ali, e todos os leitores fossem até Petrópolis para ver tudo isso de perto.
O Mistério no Museu Imperial é um livro muito recomendado.
P.S. Mas o que é “Fala do Trono?” Fala do trono é um evento que ocorre em certas monarquias, na qual o soberano reinante (ou um representante) lê um discurso preparado para uma sessão do parlamento, esboçando a agenda do governo para a sessão seguinte. No Brasil, era um evento anual.
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