Janaskoobmania 07/05/2023
Meu Olhar da Montanha Mágica
Não tenho a pretensão, e nem seria capaz, de reproduzir ou chegar perto da grandiosidade dessa obra e o quanto a leitura desses diversos temas repercutiu em mim. Desejo, simplesmente, conseguir despertar em alguns o interesse ou a mera curiosidade, assim como me vi outrora, de forma despretensiosa iniciar a longa subida da Montanha Mágica.
No começo da subida e já mirando o topo, me deparo com um trecho, do qual ri muito: "...Não lhe bastarão para isso os sete dias de uma semana, tampouco serão sete meses, apenas. melhor será que ele desista de computar o tempo que decorrerá sobre a Terra enquanto essa tarefa o mantiver enredado." Pensando comigo que findaria essa leitura em uma semana (aproveitando um feriadão. rs).
A demora não foi porque a leitura não era prazerosa ou enfadonha, e sim porque Mann nos propõe ao longo da sua escrita e descrição do ambiente, uma imersão nesse universo construído para que a mágica acontece em nós a medida que o narrador vai tecendo sua rede e nos enredando lentamente.
O personagem principal, o jovem Hans, nos é apresentado de forma minuciosa e trágica, pois se trata de um jovem que fica órfão de pai e mãe muito cedo e que é criado por seu avô que também morre e depois vai visitar um primo, num sanatório para tuberculosos, e lá descobre que também está doente. Uma história vivida por muitas crianças porém, sob o olhar do autor toma uma proporção grandiosa, rica de aprendizados, risos, amizades, amores e todos os elementos para prender nossa atenção do começo ao fim.
Por que é considerado por muitos uma leitura densa e difícil? Porque Mann nos coloca em contato com vários temas ao longo dessa história, que vão desde doenças, fisiologia do corpo, morte e vida, música, arte, amor e o seu ponto central Tempo. As discussões em torno dos temas acontecem sempre entre Settembrini e Naphta objetivando instruir e conduzir ao conhecimento o jovem Hans. O que ao meu ver, as conversas são sempre instigante, curiosa e muitas vezes engraçadas. Até nos momentos em que não conseguia entender o que estava acontecendo na conversa ou que a conversa me soava um tanto doida, ainda assim não me senti cansada ou entediada com a leitura.
Para mim o que começou como algo macabro, sim macabro, porque um jovem vai visitar um primo num sanatório e fica por lá "preso" durante muito tempo, só pode ser macabro; mas enfim, a medida que o narrador sutilmente vai nos ambientando nesse espaço, tecendo sua teia, nos enredando com seu "canto de sereia", o Tempo (o famigerado tempo humano) vai se esvaindo e nem nos damos conta da passagem desse tempo, quando vi já chegava no limiar do rito de passagem, quando me dei conta, esse narrador cruel, nos mostra a sua mágica, nos faz compreender o significado dessa Montanha Mágica, aí já não somos o mesmo, como o jovem Hans, que já não conhece a si mesmo, o véu foi rasgado e não tem mais volta.
E ao final, novamente o autor nos coloca como detentores dessa mágica, nos responsabiliza, como se dissesse você é capaz de seguir a partir daqui e nos surpreende com a difícil decisão do final. E agora entendo quando em uma fala de Mann ele diz que quem não entendeu seu livro deve ler de novo e de novo e de novo, quantas vezes forem preciso que certamente compreenderá. E eu como simples mortal e consciente que sou da minha pequenez, só tenho a dizer que foi a primeira escalada para conhecer o terreno, certamente retornarei outras vezes a essa bela, magica e linda MONTANHA.
E assim concluo dizendo que por essa Montanha Mágica, Thomas Mann, arrebatou meu coração e minha atenção, a partir de agora leio tudo que tiver desse homem. E quem duvidar que se lance para essa subida.