Lucas Rabêlo 11/04/2022
Em Lygia, amor e literatura
Categorizado como ficção e memória, "A disciplina" brinca o lúdico da escrita: encantar e apaixonar o leitor. São diversos micro-contos em micros-cosmos de Lygia; estão presentes histórias deveras de sua infância, juventude e vida adulta já portando casamento, filhos e a literatura - seu braço direito. Ao passo de imaginar serem biografias também há a possibilidade das invenções, do confabular à maneira de Lygia, ora não se compreende ser de fato algo arrancado de seu coração e mente, mas sim apenas uma boa e velha história criada. Em nada há demérito, partiu a prosadora gigante deste país e se legou registros preciosos como este.
A busca por um significado não necessariamente se faz presente, e sim a louvável esperteza de atingir a comoção "indisciplinada" de seus textos aos indisciplinados leitores. O amor da autora não remete apenas ao romântico, ele é frugal, fraternal, maternal, material, universal. São perolas delicadas que proporcionam o estremecimento da estranheza indubitável do existir e nossas racionalizações medidas pelo ceticismo ou fé, se esquivando da ludibria da desesperança, se presume paixão. Por qualquer coisa que queira.
Bonita também é sua organização, contos que começam aqui, acolá, se cruzam, intercruzam, se estabelecem e ao final, resistem com Lygia na tremenda base sólida de sua literatura como um verdadeiro ato de amor. Por isso, mais do que aprender sobre o mundo e seus nesta obra e das sentimentalizações, priorizar o pedido único de sua emissora é compreender todo o dito, ainda que ressoe por tempos (coisa fácil): leiam-na, não a deixem morrer. Com isto, quem sobrevive somos eu e você, indisciplinares, que seja.