Keylla 03/06/2019Um aprofundamento da condição humanaToda vez que leio Kundera sinto-me compreendida, e me poupa horas de conversa com um analista. Penso que poucos escritores têm essa capacidade de colocar na escrita o que muitas vezes pensamos no mais íntimo de nossas almas. Kundera é um desses. Geralmente seus temas tratam de escolhas e de decepções. Como eu gosto desse tcheco! Que vontade de tomar um café com ele em uma cafeteria charmosa de Paris, refletindo sobre as relações humanas e dando umas boas risadas. É assim que me sinto ao ler seus livros.
Kundera é tcheco radicado na França desde 1975. Sendo um próprio exilado propõe em "A Ignorância" uma temática dolorosa: para um expatriado não existe a volta. Para o sofrimento causado pelo desejo irrealizado de voltar dá-se o nome de nostalgia. Também a compara com a ignorância: só há nostalgia daquilo de que não temos mais notícia.
O livro começa com o reencontro de Irena e Josef por acaso no aeroporto de Paris. Ambos viajam de volta a Praga, reerguida segundo as regras capitalistas depois da queda dos regimes comunistas do Leste Europeu, em 1989. Em comum, eles têm uma história de exílio e um sentimento profundamente nostálgico em relação à paisagem tcheca. Neste romance sobre a memória, Milan Kundera subverte a noção de nostalgia.
" A Ignorância" nos dá uma pincelada do que é o exílio, a falta, a saudade da terra natal, dos costumes e da língua materna. Ao mesmo tempo que, para retornar ao país de origem, nem sempre é viável, pois aquele país não é mais o mesmo quando o exilado deixou e como resultado fica a nostalgia do que se viveu.
"Como é cansativa a fidelidade que não tem origem na verdadeira paixão". Pág. 68
"Pois a nostalgia não intensifica a atividade da memória, não estimula as lembranças, ela basta a si mesma, à sua própria emoção, tão totalmente absorvida por seu próprio sofrimento"