A ignorância

A ignorância Milan Kundera




Resenhas - A Ignorância


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Lori 12/04/2010

Kundera em seu livro sobre o romance disse que não gostava que houvesse interpretação bibliográfica de uma obra. Contudo quando se trata de seus livros, é difícil não lembrar que ele é um exilado. A Ignorância é um livro que trata sobre a volta de dois exilados para o seu país após o fim do comunismo. Ninguém que passe por essa situação pode compreender totalmente o que Kundera fala, é como um europeu ler um livro sobre a constante insegurança de um carioca, ou um rico ler sobre a sensação de fome. Pode sentir e até compreender, mas nunca será de uma forma plena. Talvez isso faça qualquer um, me incluindo obviamente, a nunca compreender totalmente o que acontece nas páginas daquele livro.

Obviamente que isso não faz perder a beleza que há no livro.Acompanhamos Irena, que morava vinte anos na França, e Josef, que casou na Dinamarca, de volta a Boêmia (como Kundera prefere chamar a República Tcheca). A sensação de não pertencimento a aquele lugar permeia a volta dos dois, que se conheceram brevemente no passado. É de se esperar que essa sensação seja estranha, afinal aquele é o país deles, mas logo Kundera mostra que isso não é natural. Como um hábito clássico do autor, ele vai explicar o que significa nostalgia, e a partir disso como esse sentimento é valorizado desde Homero, quando escreveu Odisséia. Novamente, não há como não lembrar que Kundera vira um cidadão francês após se exilar. Mas ao mesmo tempo em que há nos personagens um sentimento de não entender por que todos querem que eles voltem, eles sentem uma familiaridade com a língua, com a região e tudo traz lembrança do que abandonaram.

Irena, que volta com o seu amante Gustaf que deseja permanecer no país, não se sente bem ali. Seus complexos com relação a mãe voltam, as amigas não se interessam pelo que aconteceu com ela nesse tempo e percebe como a sua relação com Gustaf está desgastada. Já Josef, que está viúvo, só passa pelo país por dias para rever a família e um amigo, que o ajudou a fugir. Embora os personagens tenham suas diferenças durante a passagem pelo país, algo acompanha os dois: o desinteresse dos outros no que aconteceu a eles enquanto estiveram fora. Todos querem contar o que aconteceu enquanto estiveram longe, de conhecidos ou de certo local. Contudo suas experiências são postas de longe, por que após competir para ver quem sofreu mais preferem ignorar o passado. Isso é extremamente real, quantos falavam sobre a época de exílio dos artistas brasileiros na ditadura? Um período que é considerado vergonhoso, é ignorado. Na doce ilusão de que podendo ignorar o passado, o evento não aconteceu realmente.

Definitivamente o que mais me fascinou foi o capítulo 35, no qual ele fala sobre a memória. É fácil saber o porquê quando se sabe que minha monografia trata sobre a memória histórica então ver esse assunto em um dos meus autores favoritos é como natal (o que não é uma boa comemoração sendo que eu não ligo para a data, mas deixa para lá). Mas o que mais me atraiu sobre o assunto na abordagem desse livro foi quando ele fala que mantemos nossas relações em memórias diferentes. A memória que você guarda sobre uma pessoa não é a mesma que ela guarda sobre você. Também a importância que você dá não é a mesma que outro pode dar. Creio que as interpretações que cada um fazem sobre os acontecimentos é o que leva a cada um ser único.

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http://depoisdaultimapagina.wordpress.com/
Jhn 07/12/2023minha estante
Tinha desistido do livro no capítulo 21, mas me interessou esse tópico da memória do 35, vou continuar.

Até o momento a minha impressão é de uma extrema subversão da palavra nostalgia e de um livro datado e ?nichado? de tal forma que chega a parecer imaturo em alguns pontos. Não vou desmerecer a dor de nada, nem de ninguém, ainda mais por conta das bases e crenças existentes. Mas, o nome do livro (para mim) não conversa com o conteúdo e me lembra muito mais uma forma de estresse pós traumático e falta estima (provavelmente decorrente) do que ignorância dos outros para com o personagem ou do personagem para com os outros ou a cidade e consequentemente a nostalgia que ele diz existir - pelo menos para a língua portuguesa não percebi um sentimento nostálgico, mesmo com os comparativos da Odisseia, que mais se fala sobre a jornada para casa do que do sentimento de voltar para casa.
O que me pareceu até agora de ignorância é o fato de existir um sentimento nacionalista, quando na verdade o que se sente falta de fato é dos momentos felizes e que nos fizeram crescer com as pessoas que nos cercavam em uma determinado período - o que me parece que até hoje muita gente não entende? enfim, vou retomar para ver se termino e não morro de tédio?




Mare25 26/05/2024

Temas e personagens retratam a realidade e e as ideias
?Nesse breve livro, o autor relata sobre as personagens Josef e Irena, namorados na adolescência, que saíram da República Tcheca para residir na Dinamarca (Ele) e na França (Ela); foram exilados e se transfiguraram quando abandonaram seus países num período turbulento da história.
?Logo após o declínio das gestões comunistas do Leste Europeu, em 1989, após 20 anos, Josef e Irena regressaram a um país, o qual para eles, deixou de ser um lar, mas há tempos passou a ser uma simples recordação pretérita.
?Gosto muito da escrita do autor e aqui temos mais uma proposta narrativa para refletirmos com acuidade. Sua premissa é poderosa, mergulha em questões íntimas das personagens que comovem e exasperam o leitor.
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Kelly tirelli 26/09/2023

A ignorância
Josef e Irene saíram de seu país natal (República Tcheca) para morar na Dinamarca e França, se tornando expatriados. E ao retornar depois da queda do regime comunista, são levados a refletir sobre muitas questões, como a solidão, nostalgia, o papel da ignorância, família, identidade, entre outros. Acompanhamos o mix de sentimentos experienciado por eles. Achei o livro denso e a leitura não é tão fluída.
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Nana 04/11/2023

Livro nr 55 do projeto "A volta ao mundo através dos livros"
País sorteado : "República Tcheca"

Infelizmente esse livro não me agradou.
Apesar de ser uma história curtinha, já nas primeiras vinte e poucas páginas tive vontade de abandonar, não estava entendendo nada, achando confuso e chato. Mas resolvi seguir adiante e até melhorou um pouco, mas o final também deixou a desejar.

Aproveitando o título, não sei se foi a minha "ignorância" que me fez não entender o que o autor queria passar, ou se ele é enrolado mesmo...rs rs.
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Belos 28/06/2023

O livro tem como pano de fundo o exílio das personagens, mas o real assunto é sua vida de solidão, liberdade e reconhecimento entre as pessoas e o lugar onde ocupam.
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Morgadasso 31/10/2010

"Em grego, retorno se diz nóstos. Álgos significa sofrimento. A nostalgia é portanto o sofrimento causado pelo desejo irrealizado de retornar". Segundo o dicionário Aurélio, etimologia é a "ciência que investiga a origem das palavras, procurando determinar as causas e circunstâncias de seu processo evolutivo". Ou seja, busca explicar o significado das palavras através da análise dos elementos que as formam. Nada é mais Kundera do que isso.
A nossa lingua compõe a nossa identidade, não só a identidade de um indivíduo mas de uma nação, que só se reconhece como tal através de sua língua. É nos afogando nesse universo que Kundera vai nos apresentar seus personagens.
E assim conhecemos Irena e Josef, exilados tchecos que com o fim do comunismo resolvem voltar pra sua terra natal. Lá se descobrem estrangeiros em sua própria terra. Josef, refugiado na Dinamarca, ao retornar, no primeiro momento, estranha a sua própria lingua, achando muito monótona e enfadonha. Mas é no momento de intimidade ouvindo palavões e obscenidades em tcheco que ele se excita e se reconhece como tcheco, pois estas palavras só tem poder em sua própria língua.
Irena ao retornar descobre um país que outrora obrigado a falar o russo em função do comunismo, agora se vê invadida pelo estrangeirismo através do capitalismo americano.
Então, quem será mais tcheco, os que ficaram e assistiram seu país perder a soberania e sua independencia ou os que foram embora e descobriram ao retornarem que apesar de terem saído da República Tcheca a República Tcheca nunca saiu deles.
O livro fala de reconciliação com o passado, mas o presente torna o passado irreconciliável, pois o que não foi não é. Não há como recomeçar de onde parou. Não se trata apenas ser complicado, mas, sobre tudo, de ser complexo. E a memória é a prova dessa complexidade humana. A memória de Irena não é a mesma de Josef. E se não há como se reconciliar com o passado, há, talvez, a possibilidade de se reconciliar com o presente, e a República Tcheca pode ser a imagem de uma casa de tijolos e um pinheiro esbelto tal como um braço levantado.
Então fica a seguinte pergunta: Voltar é regredir?
Não. Voltar nem sempre é regredir.
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Luana 29/12/2020

Encontros e desencontros
Milan Kundera nos faz voltar às nossas próprias memórias do passado neste livro que enfatiza tanto a questão da nostalgia. O sair de casa. Ir em busca de realizar seus objetivos, mesmo que você seja forçado a se exilar.
Aqui, Kundera fala de diversos tipos de exílio, seja por causa da invasão russa ao seu país, seja para fugir das lembranças ruins do passado ou simplesmente porque você percebe que naquele país não é mais o seu lugar.
Aonde estarei daqui a vinte anos? Quais são minhas perspectivas? Meus sonhos? Projetos? Desejos? O que me realiza? São questões que a leitura de A Ignorância lhe proporciona.
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Magasoares 16/10/2022

A Ignorância
Quando li a(Insustentável Leveza de Ser) do mesmo autor, pensei que todos os livros dele seria maravilhoso quanto...ledo engano?com esse é o quarto que leio e já basta!
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Marina128 09/09/2012

A ignorancia do nao lembrar...
A historia dos personagens principais do livro, Irena e Josef, e apenas pano de fundo para a abordagem primordiosa do escritor Milan Kundera acerca de temas inerentes a existencia humana.
Kundera trata com autoridade do exilio e suas divergencias, como a nostalgia e a saudade e muitas vezes a falta de memoria e consequentemente a falta de apego a terra natal e toda a pressao social causada pelo distanciamento sentido pelo exilado.
A obra ainda e rica em intertextos que vao da literatura, Odisseia, a musica, Schoenberg.

Como selecionar aquilo que nossa memoria armazena? Como culpar alguem por nao lembrar de algo nao retido pela sua memoria? Abreviedade da existencia e a baixa capacidade de armazenamento da memoria sao inerentes a todos nos, seres humanos. E ai, podemos dizer que todos somos ignorantes...
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Débora 25/11/2013

A certeza humana
Quanta provocação num estilo ainda que deixa uma névoa confusa de palavra, e o enredo é como se fosse uma ventania de fatos. Tudo disperso e as coisas são minuciosamente analisadas, entre objetividade e digna subjetividade. Além disso, a obra A ignorância, de Milan Kundera, transporta para uma visão de realidade quase necessária. Retrata o conceito da nostalgia, o grande retorno que está no palco filosófico faz bastante tempo. A memória limitada do homem, onde um amor interrompido regressa. Mas será que aquele passado é mesmo para ambos?

"SOBRE O FUTURO TODO MUNDO SE ENGANA. O HOMEM SÓ PODE TER CERTEZA DO MOMENTO PRESENTE."
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Camila W 24/02/2023

Nostálgico
Livro sobre nostalgia, memória e reencontro! Sempre acho muito gostoso ler kundera, mesmo curtinho ele aprofunda nos personagens, sensações e sentimentos?
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Bruno 29/01/2023

Kundera nunca decepciona.
Um livro sobre encontros e desencontros, expectativas e desejos. Kundera, como sempre, escreve mais um capítulo sobre o inconsciente humano e seus mistérios.

"Imagino a emoção de dois seres que se reencon- tram depois de muitos anos. Outrora se freqüenta- vam e portanto pensavam que estavam ligados pela mesma experiência, pelas mesmas lembranças. As mesmas lembranças? É aqui que começa o mal entendido: eles não têm as mesmas recordações; ambos retêm do passado duas ou três pequenas situações, mas cada um retêm as suas; suas lembranças não se parecem; não se encontram; e, mesmo quantitativamente, não são comparáveis: um se lembra do outro mais do que este se lembra dele; primeiro porque a capacidade da memória de cada um difere de um indivíduo para outro (o que ainda seria uma explicação aceitável para cada um deles), e também (e é mais penoso admitir isto) porque eles não têm, um para o outro, a mesma importância. Quando Irena viu Josef no aeroporto, ela se lembrou de cada detalhe daquela aventura distante; Josef não se lembrava de nada. Desde o primeiro instante, seu encontro teve como fundamento uma desigualdade injusta e revoltante." (Pág. 102)
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18/07/2015

"Estaria Skacel enganado ao falar em trezentos anos? É claro que sim. Todas as previsões se enganam, é uma das poucas certezas que foram dadas ao homem. Mas se erram em relação ao futuro, dizem a verdade sobre quem as formula, são a melhor chave para compreendem como viveram no seu tempo." (p. 13)

"Sobre o futuro todo mundo se engana. O homem só pode ter certeza do momento presente. Mas será realmente verdade? Ele pode conhecer verdadeiramente o presente? Será capaz de julgá-lo? Claro que não. Pois como é que aquele que não conhece o futuro pode compreender o sentido do presente? Se não conhecermos o futuro a que o presente nos conduz, como poderemos dizer que esse presente é bom ou mau, que merece nossa adesão, nossa desconfiança ou nossa raiva?" (p. 92)

"Josef se lembrou de sua ideia muito antiga, que havia considerado uma blasfêmia: a adesão ao comunismo não tinha nada a ver com Marx e suas teorias; a época apenas oferecera às pessoas a oportunidade de satisfazer suas mais diversas necessidades psicológicas: a necessidade de se mostrar não conformista; ou a necessidade de obedecer; ou a necessidade de punir os maus; ou a necessidade de avanças com os jovens em direção ao futuro; ou a necessidade de ter em torno de si uma grande família." (p. 99)

"'É a idade em que casamos, em que temos nosso primeiro filho, em que escolhemos nossa profissão. Um dia saberemos e compreenderemos muitas coisas, mas será tarde demais, pois toda a vida terá sido decidida numa época em que não sabíamos nada.'" (p. 105)

"ele não tem que se ocupar de nara, é o amor que se ocupa dele, o amor como ele desejou e que ele nunca teve: amor-repouso; amor-deserção; amor-despreocupação; amor-insignificância." (p. 121)

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@capituloseguinte 13/12/2015

O que vou escrever aqui, não pode ser bem considerada uma resenha pois é uma opinião de apenas uma frase, pois ainda não me afastei o suficiente do livro para formar algo bem construído, mas enfim, achei "A Ignorância" um livro que tentou fazer um fluxo de consciência, mas por envolver tantos personagens a tanto tempo e, com Kundera querendo atribuir um sentido a sua história com a de Ulisses logo no início, acabou ficando mal feito, muito mal construída. De todas as vezes que li livros que utilizavam narrativas com fluxo de consciência, me lembro de sentir um baque enorme após lê-los e com esse só senti raiva porque não havia gostado do início, mas continuei uma vez que se trata de um livro pequeno e achei que iria melhorar, mas não melhorou.
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Keylla 03/06/2019

Um aprofundamento da condição humana
Toda vez que leio Kundera sinto-me compreendida, e me poupa horas de conversa com um analista. Penso que poucos escritores têm essa capacidade de colocar na escrita o que muitas vezes pensamos no mais íntimo de nossas almas. Kundera é um desses. Geralmente seus temas tratam de escolhas e de decepções. Como eu gosto desse tcheco! Que vontade de tomar um café com ele em uma cafeteria charmosa de Paris, refletindo sobre as relações humanas e dando umas boas risadas. É assim que me sinto ao ler seus livros.

Kundera é tcheco radicado na França desde 1975. Sendo um próprio exilado propõe em "A Ignorância" uma temática dolorosa: para um expatriado não existe a volta. Para o sofrimento causado pelo desejo irrealizado de voltar dá-se o nome de nostalgia. Também a compara com a ignorância: só há nostalgia daquilo de que não temos mais notícia.

O livro começa com o reencontro de Irena e Josef por acaso no aeroporto de Paris. Ambos viajam de volta a Praga, reerguida segundo as regras capitalistas depois da queda dos regimes comunistas do Leste Europeu, em 1989. Em comum, eles têm uma história de exílio e um sentimento profundamente nostálgico em relação à paisagem tcheca. Neste romance sobre a memória, Milan Kundera subverte a noção de nostalgia.

" A Ignorância" nos dá uma pincelada do que é o exílio, a falta, a saudade da terra natal, dos costumes e da língua materna. Ao mesmo tempo que, para retornar ao país de origem, nem sempre é viável, pois aquele país não é mais o mesmo quando o exilado deixou e como resultado fica a nostalgia do que se viveu.

"Como é cansativa a fidelidade que não tem origem na verdadeira paixão". Pág. 68
"Pois a nostalgia não intensifica a atividade da memória, não estimula as lembranças, ela basta a si mesma, à sua própria emoção, tão totalmente absorvida por seu próprio sofrimento"
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