Flávia Menezes 29/11/2022
UM POR TODOS, E TODOS POR UM...E UMA GARRAFA DE RUM!
?A Ilha do Tesouro?, do escritor escocês Robert Louis Balfour Stevenson, é uma história infanto-juvenil que foi escrita cinco anos antes dele ter feito o seu médico se transformar em um monstro, sendo inicialmente publicada em partes, entre 1881 e 1882, pela revista infantil ?Young Folks?, alcançando tanto sucesso, que em 1883 foi publicada como livro. A inspiração para essa obra clássica cheia de aventura surgiu durante as férias em família em Braemar, nas Terras Altas escocesas, em 1881, onde Stevenson criou diversas histórias com sua mulher e entediados, e que depois seria publicada e popularizaria a figura do pirata no imaginário infantil.
Por mais que se trate de uma história infantil, quando falamos em piratas, homens de perna de pau e tesouros, o fascínio por uma boa história cheia de confusões, traições e muita diversão, também toma conta das mentes adolescentes e dos adultos. Não é o que fez com que o manga/anime ?One Piece?, essa história sobre um garoto (Luffy) que quer ser o rei dos piratas, chegasse à marca de mais de 1000 episódios/capítulos, e ainda continue sendo um sucesso?
Assim como o Luffy, Jim Hawkins é apenas um menino quando a história inicia, e é através do olhar dele que embarcamos nessa aventura, rumo à uma ilha onde o Capitão Billy Bones enterrou um tesouro. A história é a clássica aventura de amadurecimento de um garoto que, depois da morte do seu pai, deixa a sua casa para partir em busca de um tesouro.
Jim é a imagem do modelo de heroísmo, que vai deixando o menino tímido do começo da história, para ir amadurecendo, e se posicionando diante daquele universo meramente masculino, que embora seja recheado de muitas traições e bebedeiras, vai influenciando o garoto e de forma bastante positiva, oferecendo oportunidades para que Jim consiga desenvolver sua identidade com tudo o que ele vai absorvendo de força, determinação e inteligência.
Uma grande lição essa, já que todos temos dentro de nós os nossos pontos fortes, que são as nossas qualidades, tanto quanto temos os nossos pontos fracos, que são a nossa parte falha que faz de nós seres humanos. E é por isso que mesmo aquela pessoa que nos parece tão cheia de falhas, que parece fazer tudo errado, ou até ter um péssimo caráter, no fundo, e se olharmos bem, também terá uma parte dentro de si que tem algo que a faça se destacar nesse mundo.
E essa é uma lição que Stevenson explora com grande brilhantismo nessa história, já que seu protagonista vai passeando por cada uma dessas figuras de capitães à piratas, cozinheiros à médicos (e até do náufrago), absorvendo e incorporando diversos aspectos que impulsionam o seu crescimento e o desenvolvimento da sua identidade. E no final da história, temos um Jim muito mais amadurecido, corajoso, carismático e independente.
Apesar de ser uma história infanto-juvenil, Stevenson não poupa no linguajar náutico, fazendo com que a criança se esforce para adquirir novos conhecimentos, e até mesmo um vocabulário mais complexo. Além disso, o autor não também não vai poupar o imaginário infantil da realidade nua e crua, quando traz para a história a face dura e cruel da violência, da morte e das ações moralmente duvidosas.
Afinal, crescer requer começar a assumir responsabilidades, e por isso, ?A Ilha do Tesouro? é uma história que tanto vai aguçar o imaginário infantil com suas aventuras e personagens fascinantes, quanto também vai demonstrando que nem tudo no processo de crescimento são flores, e que também é preciso passar pela dor, pelas perdas, e sempre com muita coragem.
E é exatamente por isso que essa é uma boa história tanto para o universo infanto-juvenil, quanto para as nossas mentes adultas que buscam por um pouco de diversão, seja para se divertir em família, com filhos, sobrinhos ou irmãos mais novos, quanto para ter um breve descanso do nosso incansável mundo de muitas responsabilidades e deveres infinitos.
Muito embora eu não tenha me sentido tão presa a essa história tanto quanto gostaria, nem essa tenha sido uma leitura que tenha me fascinado, eu não posso deixar de colocar aqui todo o elogio a essa obra, porque ela tem muito a oferecer, especialmente para compor o imaginário infanto-juvenil, incentivando a leitura que promova a curiosidade para um vocabulário mais complexo e técnico (náutico), além de estimular a criatividade, que é uma qualidade tão importante para o nosso mundo tão competitivo, e que requer que tenhamos mais plasticidade.