Laryssa234 12/05/2024
A redenção de um homem
O que aconteceria se a vida humana perdesse seu valor intrínsico e fossemos avaliados de acordo com a nossa utilidade? O que aconteceria se fosse justificável sacrificar a vida de outrem para o "bem maior"? Dostoievski ao invés de contestar as ideias de sua época, ele preferia criar narrativas de maneira a fazer o leitor pensar como seria o mundo se tais idéias fossem colocas em prática.
Durante todo o livro sentimos uma atmosfera sufocante e clastrofóbica, como a casa de Raskolnikov, que conseguia abrir-se a porta sem levantar da cama. São Petersburgo era uma cidade completamente fedida no verão, os ricos viajavam para suas casas de veraneio, e os pobres tinham que aguentar a catinga. Isso tudo colaborou para o estado de nosso personagem principal, que já inícia o livro no auge de seu estado febril, ele já havia pensado no crime que cometeria a meses, ele nunca esteve normal durante todo o livro.
No decorrer da história descobrimos que ele é um estudante, sua mãe e irmã haviam depositado todas as esperanças nele. Porém, a crise chegou e ele teve que largar a faculdade, aulas particulares e sua família havia parado de enviar dinheiro. Ele estava completamente miserável, como um mendigo. E pior: a velha na qual ele alugara o apartamento era uma agiota da pior espécie, como o diabo na terra.
Raskolnikov pensava em assassinar a velha a mais de um mês, porém, nunca chegava as vias de fato. Até que, um dia, sentado em um bar, ele encontra dois estudantes falando mal da mesma velha, contando os maus tratos que a irmã da velha sofria, que matariam a velha se tivessem coragem e que a velha era um "piolho". Que o mundo estaria melhor sem ela.
Então, Raskolnikov sai do bar transtornado e coincidentemente descobre que a irmã da velha, a Lisaveta, não estaria em casa as sete horas.
Então, ele mata a velha. Porém, esquece a porta aberta, Lisaveta chega e flagra o crime. Ele mata Lisaveta.
Dentro do nome Raskolnikov, há o termo "Raskonik", era um nome dado a uma parcela de pessoas na época. O significado literal é "cisão", a separação de algo violentamente. Esse termo era dado aos cismaticos da Igreja Ortodoxa Russa. Na época, o Estado e a Igreja eram a mesma coisa. Houve um bispo que quis modernizar isso porém foi excomungado e os seus seguidores foram isolados da sociedade, além de perderem seus direitos civis, já que o Estado e Igreja eram a mesma coisa.Esses eram os Raskölniks.Assim, dando referência ao nome, Raskölnikov faz uma "cisão" no crânio da velha. Assim como os Raskólniks que viviam isolados, Raskölnikov também era isolado.
A pobreza é um tema crucial no livro.
A pobreza levou Raskolnikov assassinar a velha ( em partes). A pobreza fez Sonia se prostituir para alimentar o bai bebado. A pobreza faria Dunia sacrificar seu futuro e se casar com um canalha para salvar a família.
Porém para Razmukhin, a pobreza é apenas uma nota de rodapé em sua vida. Ele é alegre, positivo, trabalhador e bondoso. Assim como Sonia e Dunia que continuam sendo bondosas mesmo na pobreza.
Muitos defendem que se a pobreza acabasse, os crimes acabariam. Porém Raskolnikov permite-se ser moldado pela pobreza. Sua irmã e seus amigos não se deixam contaminar pela maldade muito menos justificam seus atos por estarem miseráveis. Mas a pobreza foi o menor motivo pelo qual Raskolnikov matou a velha.
Raskolnikov escreveu um artigo, quando ainda estudava onde defendia que existiam dois tipos de pessoas no mundo.A massa: que é em sua maioria conservadora (que desejam manter as coisas como são), e obedecer as regras e normas.
E existem as pessoas extraordinárias que movem as outras pessoas para o progresso e mudança. Elas não fazem isso porque são inteligentes e capazes de perceber as coisas mas sim porque elas têm a coragem de pensar, fazer e propagar coisas novas, as quais a massa não teria coragem de pensar e praticar. Essas pessoas criavam as leis e forças, como exemplo máximo o Napoleão.
Napoleão em sua marcha para a Rússia, sacrificou a vida de 500 mil soldados. Mais tarde, esse sujeito é considerado
"benfeitor" da humanidade.
Então Raskolnikov, ao matar a velha, que ele dá o nome de "piolho" (que era inútil, má e explorava os pobres), se compara a Napoleão e fica revoltado ao ser chamado de criminoso. Raskolnikov acha que a única diferença entre ele e Napoleão é a estética, e o tamanho do feito. Essa era sua principal justificativa para o crime.
Antes de matar a velha, Raskolnikov sonha que era menino e andava com seu pai pelas ruas e se depara com um cavalo sendo espancado e morto pelo dono. Isso simboliza a divisão de sua alma.
O cavalo era inútil e estava velho, assim como a velha agiota que Raskölnikov tinha o intuito de assassinar. E só por isso, o cavalo foi morto injustamente, pois não tinha mais utilidade na sociedade.
Porém, no sonho, o Raskólnikov menino, só quer que a violência acabe, demonstrando o lado bom de sua alma.
Raskolnikov procura Sônia, a menina que se prostituía para alimentar a familia e o pai bêbado. Ele sente o ímpeto de confessar o crime. Ao chegar lá ele pede que ela leia para ele a passagem bíblica de Lázaro.
O quarto de Raskolnikov é comparado a um caixão.
Quando o mesmo procura Sônia, já havia 4 dias desde o assassinato Da mesma forma, Lázaro ficou morto durante 4 dias em sua tumba
É a única passagem da biblia em que Jesus chora, mesmo sabendo que Lázaro ressuscitaria.
O sofrimento de Sônia a tornou a personagem mais elevada do livro. Por isso ela redime o Raskolnikov.
Esse é o pontapé da redenção do personagem, ele beija o pé da prostituta e sai de lá transformado. Ele não se acha mais extraordinário.
Sacrificar a vida alheia é fácil, assim como Napoleão tez. Difícil é sacriticar seu proprio corpo e alma. (Assim como Sônia fazia pela familia).
Cristo veio ao mundo como um piolho" mais miserável e pobre de todos. Sofreu e foi maltratado cruelmente. Raskolnikov chamava a velha a quem assassinou de "piolho", e Dostoievski retrata o que aconteceria se a vida humana perdesse a dignidade.
Depois, Raskolnikov volta à casa de Sônia e lhe confessa o crime claramente. E mesmo entristecida e assustada, Sônia não o abandona, ela lhe incentiva a confessar e pedir perdão a Deus.
Ele sai de lá, se ajoelha no lugar mais sujo da cidade, em meio a prostitutas, mendigos e bêbados, onde passava animais e provavelmente as fezes deles.
E beija o chão. Ele aceita a Deus, e confessa seu pecado diante Dele.
Após isso, confessou seu crime à polícia.
Os dias que Raskolnikov passa na prisão tem um ar menos sombrio do que aqueles em que ele delirava em seu quarto. Sônia o visitava com frequência, e o amor dela redime ele. Pelo amor e pelo exemplo de Sonia Raskolnikov se transforma.