missi-dominique 05/12/2023
Nasce uma estrela ?
A mão e a luva é o segundo romance de Machado de Assis. Publicada pela primeira vez em 1874 no O Globo, a obra marca a estreia do autor como folhetinista de jornal.
No romance, um jovem sonhador chamado Estêvão se apaixona por Guiomar - uma moça graciosa e senhora de si mesma -, com quem deseja se casar. Seu amigo, Luis Alves, é o seu confidente-consolador, ajudando-o na dura missão de lidar com seu agudo sentimento pela moça e a decifrar suas intenções. Estêvão tinha muitos competidores, contudo seu coração ingênuo jamais imaginaria o verdadeiro inimigo a enfrentar: o jogo das relações sociais burguesas do sec. XIX. Quem ganha o coração de Guiomar? Esta é a pergunta que embala a leitura desse romance.
Como a obra foi entregue à publicação capítulo a capítulo, não me sinto de todo confortável para avaliá-la. Segundo o próprio autor, esse não era seu método de produção habitual. Creio que a urgência da entrega possa ter influenciado o desenvolvimento da trama.
A despeito disso, Machado nos entrega já nessa fase inicial um surpreende prelúdio do que mais tarde viria a ser o selo do seu estilo literário: construção textual concisa; diálogos com o leitor; personagens femininas fortes, sagazes e ambíguas; crítica realista à sociedade de seu tempo; ironia.
Aos amantes de Machado de Assis, vale muito a pena se aventurar nessa obra, é gostoso ver que o que sempre foi bom conseguiu ficar ainda melhor com o passar do tempo. A descrição psicológica das personagens, por exemplo, já era impecável.
Por outro lado, um ponto fraco dessa obra é não desenvolver bem personagens secundárias que, a meu ver, se faziam essenciais para um andamento mais dinâmico da novela. A personagem Mrs. Oswald, por exemplo, teria um potencial enorme de provocar reações diversas nos leitores, trazer o "fogo no parquinho".
Finalmente, apontados e justificados os pontos fortes e fracos, desafio o leitor a terminar a leitura sem desejar que o fim fosse outro. A leitura envolve de maneira que criamos vários desfechos paralelos à nossa maneira, dá vontade de bater no Machado às vezes, mas isso não tira de maneira alguma o brilho do triunfo impiedoso do desfecho do autor.