André Tadei 10/09/2015
A poesia
Íon é um diálogo de juventude de Platão, porém, há eminentes traços de sua filosofia, começando pela metodologia elênctica, conhecida por questionamento da “pergunta e resposta”'1'. Sócrates interrogar seus ouvintes, não para enfatizar um dogmatismo, visto que Sócrates não possui efetivamente tal conceito, mas para colocá-los em aporia, que significa, em sentido figurado, uma preposição sem saída lógica '2'. Destarte, o ouvindo liberta do falso saber que o impedia de investigar, ou seja, o que Sócrates pretende, no fundo, “não é mais que defender o princípio do qual em vão tenta persuadir os seus concidadãos, de que ‘uma vida não examinada não é digna de ser vivida pelo homem’ (Apologia de Sócrates. 38a).”'3'
Sócrates interroga Íon acerca do modo como poetizar e este não sabe responder aquele, sendo assim, o filósofo declara ao interrogador que não há nenhuma técnica pelo qual os poetas fazem poesias, e sim um poder divino que lhes fala (533d); não há poeta através da ciência e do conhecimento. A técnica que Platão trata dar-se-á na medida que supõe o conhecimento de seu objeto e do que lhe convém, assim, poder-se-á considerá-la ciência, por isso Platão não distingue “técnica” e “ciência”'4'.
Sócrates pergunta a Íon se ele sabe falar bem acerca de qualquer assunto e este lhe diz que sim, entretanto, após algumas perguntas de Sócrates, como por exemplo: “Qual dos dois, então, tu ou um condutor de carros, [...] avaliará melhor se Homero fala bem ou não? Íon. Um condutor de carros” (Íon. 538b). Isto quer dizer que os poetas falam sem saber e sem conhecer daquilo de que falam, em outras palavras, é um jogo, uma brincadeira de falar.'5' Mas o poeta é, ou pode chegar a ser, um “ser com asas”, inspirado pela divindade; é deste modo que Íon prefere ser chamado, no final do diálogo, de “ser divino” a “ser injusto” (542a).
A poesia é uma sabedoria, na visão de Platão, representativa; em concordância disse Platão acerca do belo, a poesia, como o belo, é algo que está encoberto com o sensível, contudo, se a poesia não for o que deveria ser, é porque os poetas não souberam eleger o objeto próprio para a imitação. Concluímos, portanto, que existem “bons poetas”, aqueles que sabem eleger tal objeto e ajudarão a atuar dentro da Cidade-Estado, e há os “maus-poetas”, os mentirosos, aqueles no qual Platão se propõe a expulsar da “Cidade ideal”6.
1 SANTOS, José Trindade. Para ler Platão: a ontoepistemologia dos diálogos socráticos: tomo I. 2. ed. São Paulo: edições Loyola, p. 46, 2012. (Coleção estudos platônicos)
2 MORA, José Ferrater. Dicionário de filosofia. Tomo I (A-D). São Paulo: Loyola, p. 167, 2000.
3 SANTOS, José Trindade. Para ler Platão: a ontoepistemologia dos diálogos socráticos: tomo I. 2. ed. São Paulo: edições Loyola, p. 46, 2012. (Coleção estudos platônicos)
4 BRISSON, Luc; PRADEAU, Jean-Françis. Vocabulário de Platão. Tradução Claudia Berliner; revisão Técnica Tessa Moura Lacerda. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, p. 37, 2010. (Coleção vocabulário dos filósofos)
5 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: Antigüidade e Idade Média. São Paulo: Paulus, p. 150-151, 1990. (Coleção filosofia)
6 MORA, José Ferrater. Dicionário de filosofia. Tomo III (K-P). São Paulo: Loyola, p. 2305, 2001.