Eric Vinicius 09/02/2021
Uma jornada filosófica mágica e extenuante, que vale a pena
Neófito em Borges e sem formação em Letras ou em Filosofia, fui desavisado ao começar a leitura. Assim, logo nos primeiros contos, achei que não ia conseguir chegar até o fim. Mesmo com o fascínio das descobertas e o deslumbramento pela fantasia - que, afinal, vão recompensando o leitor pela insistência -, completar a jornada foi algo desafiador e cansativo, já que a ignorância me atrasou o passo, diante da necessidade de estar com o Google sempre por perto (para acompanhar as inúmeras referências trazidas em cada história). Nesse ponto, senti que faltaram mais notas de rodapé explicativas, na edição que eu possuo.
Apesar disso, "Ficções" trata-se de uma obra magnífica, aberta, em certos pontos quase que total e que merece releituras. Terminei extasiado! No baixo da minha insignificância, é um livro que eu recomendaria a quem gostaria de conhecer mais do realismo mágico latinoamericano - que produziu obras como "Cem anos de solidão", um dos meus romances favoritos - e se interessa por temas de filosofia. Arrisco-me a dizer que é uma leitura fundamental para aqueles que desejam conhecer os clássicos do séc. XX, numa árdua busca de tentar entender um pouco esse mundo cada vez mais caótico em que vivemos.
O autor (inexplicável e injustamente não laureado com o Nobel de Literatura) possui uma escrita bastante original; sua abordagem é atual (atemporal?) e muito relevante, tendo marcado um lugar na História e influenciado gerações não só na literatura, como na arte, como um todo - filmes como "A origem" ("Inception") estão aí para confirmar essa análise.
Os contos de que mais gostei foram: "As ruínas circulares", "A Biblioteca de Babel" (esses, da primeira parte - "O jardim das veredas que se bifurcam"), "Funes, o memorioso" e "O Sul" (os dois últimos, da segunda - "Artifícios").
Para quem vai começar a ler, deixo duas sugestões: a primeira, de começar o livro (que não é sequencial) pela segunda parte - "Artifícios" -, formada por contos mais curtos (nas modestas palavras do escritor, "de execução menos tosca") e que ajudam o leitor a se acostumar com o estilo borgeano. A segunda dica é de sempre acompanhar as resenhas de cada conto, ao final, para conseguir captar todas as referências e potencializar o aproveitamento da leitura. Indico fortemente a playlist #LendoFicções, no canal no YouTube da maravilhosa Aline Aimée.
Boa viagem a quem se interessar!
site: https://www.youtube.com/watch?v=HuliaUWZqzE&list=PLOHj0Ccegy3LhaoMn7mVGQE949S7xV_eK