Luiz Gustavo 19/12/2020Lygia Bojunga é uma das mais bem realizadas escritoras de literatura infantil e juvenil. Foi a primeira brasileira a receber, em 1982, o prêmio Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura infantil, e sua obra é reiteradamente elogiada pela crítica nacional e estrangeira. Eu conheci o trabalho desta escritora graças a uma professora do ensino fundamental, que todos os dias separava um momento da aula para ler um capítulo de livro para a turma. A professora leu "Os colegas" e "A bolsa amarela", dois dos primeiros livros de Lygia Bojunga, para uma sala de quase cinquenta crianças que fazia silêncio absoluto durante as leituras. Também tive a sorte de ver a escritora pessoalmente quando ela palestrou na 1ª Bienal do Livro de Goiás em 2005, e tive dois livros autografados. Muitos anos depois, quando estava na metade da graduação, fiz uma disciplina sobre literatura infantil e juvenil e pude revisitar a obra desta escritora, além de ler muitos outros trabalhos que não conhecia. Algo interessante sobre a obra de Lygia Bojunga é que os primeiros livros dela são mais próximos da ludicidade infantil, mas a cada nova publicação os temas abordados se tornam mais delicados e tabus, aproximando-se do universo juvenil. O abandono parental, o abuso sexual, o suicídio, entre outros, são abordados nos livros mais "sombrios" da escritora. Mesmo tendo lido muitas das publicações da Lygia Bojunga durante essa disciplina, só li "Seis vezes Lucas" após ter me formado, e o considero um dos meus livros favoritos. A narrativa é dividida em seis capítulos, todos focados no protagonista, Lucas, um menino com menos de 10 anos. Acompanhamos como ele lida com as imposições de seu pai, que exige o tempo todo uma adequação a um determinado padrão de masculinidade, e vemos como Lucas amadurece ao adquirir consciência e compreensão sobre as dissimulações dos adultos ao seu redor. Indico a leitura de "Seis vezes Lucas" para todos, principalmente mães e pais de meninos, pois o livro apresenta um bom exemplo de como garotos NÃO devem ser criados.