Filino 26/06/2023
Uma reflexão acerca da origem das sociedades - e os neuróticos
Nessa obra, Freud promove uma incursão num terreno diverso daquele próprio da Psicanálise - e ele mesmo adverte quanto a isso. Mas essa empreitada resulta numa interessante reflexão. O autor demonstra, partindo de relatos de sociedades "primitivas" (sobretudo Frazer e Wundt), como o totemismo constitui ponto fundamental para a constituição da sociedade e a sua ligação intrínseca com o tabu - e daí provêm os dois "crimes" mais combatidos, quais sejam, o assassinato e o incesto. Freud ainda vai se estribar na concepção de horda originária e, a partir do assassinato do pai, estabelece uma relação com o totem e o tabu. Paralelamente a isso, demonstra como esse processo guarda estreitas ligações com o neurótico - e ambos poderiam ser explicados pelo Complexo de Édipo (que, em última instância, como o autor afirma, estaria na raiz da religião, das artes, da sociedade). Até mesmo o próprio ato de devorar o animal sagrado trará grandes implicações no âmbito religioso - e até no Cristianismo. Mas isso não significa que o próprio Freud estabeleça uma relação de causa e efeito entre esses dois âmbitos (o particular e o social) - ele está cônscio das dificuldades e particularidades de cada um desses domínios. Mas a sua reflexão não deixa de ser rica e instigante a esse respeito.
A obra traz um excelente apanhado de práticas "primitivas" - um prato cheio não apenas para quem se interessa por psicologia ou psicanálise, mas também para quem envereda nas searas da antropologia, da religião e da teoria política. Um texto de referência.