Ensino da gramática. Opressão? Liberdade?

Ensino da gramática. Opressão? Liberdade? Evanildo Bechara




Resenhas - Ensino da gramática. Opressão? Liberdade?


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ChrisGally 05/03/2016

O ensino da gramática normativa da língua portuguesa oprime ou liberta?
Esta obra, citada em quase todos os trabalhos acadêmicos que tratam do ensino da língua materna no Brasil, nos traz ponderações de um filólogo acerca da liberdade que o conhecimento da língua funcional dá ao falante, transformando-o em um poliglota em sua própria língua; e ao mesmo tempo, acerca da opressão representada pelo modelo fechado de língua padrão como uma única maneira de o falante se expressar.
Mas, não se enganem vocês com essa ideia de o nosso filólogo defender a adequação da linguagem dependendo da situação, o respeito às variações linguísticas em nosso território (ele as reconhece e diz respeitá-las) ou a educação linguística (no conceito atual) nas aulas de português. Na verdade, ele defende veementemente a língua culta em sua modalidade escrita como o objeto privilegiado de aprendizagem. Aqui e ali, ele vai criticando as aulas nas universidades que só se preocupam com as teorias linguísticas; os professores não aptos ao ensino de gramática não só por desconhecerem-na, mas por privilegiarem a oralidade e o coloquialismo; os alunos que não são levados a lerem os clássicos, só tendo acesso a crônicas; e os livros didáticos cheios de ilustrações, que mais se parecem almanaques de tão coloridos que são.
É uma obra que, por ser escrita em meados da década 1980, mostra as inquietudes típicas de quem atravessa um momento em que se conjugam algumas crises do idioma, apontadas pelo próprio autor: de ordem institucional, porque a sociedade privilegia a língua popular em detrimento da língua culta; de ordem universitária, pois a linguística ainda não estava delimitada e, por isso, suas teorias ainda buscavam métodos e objetos; e de ordem escolar, uma vez que o professor desprezava a gramática normativa e, assim, não permitindo que seu aluno tivesse acesso à língua padrão culta, necessária para desenvolver seu potencial idiomático.
Ao que parece, os problemas apontados ainda são tema de discussões – e olhe que já se passaram cerca de 30 anos da publicação desta obra. Mesmo tendo discutido sobre os aspectos negativos do ensino da gramática normativa, quando privilegia apenas as análises lógicas (João Ribeiro e Bechara são radicalmente contrários a essa prática), por que ainda insistimos em ensinar a classificação, por exemplo das orações em períodos compostos? Por que ainda insistimos em fazer análise morfológica e sintática? Eu sempre me ponho a perguntar...
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Thais Trindade 30/06/2019

O paradoxo do ensino de língua portuguesa
O livro Ensino de Gramática. Liberdade? Opressão? de Evanildo Bechara, professor e gramático brasileiro, lançado pela primeira vez em 1985 é voltado para professores, estudantes de letras e indivíduos interessados em se aprofundar na problemática do ensino de língua portuguesa.
O livro esmiúça em capítulos curtos as opiniões do autor, que com base em estudos gramaticais e da Linguística, argumenta e propõe medidas que considera necessárias para uma mudança positiva no ensino do português nas escolas brasileiras. No entanto, o leitor dos dias de hoje ao se deparar tais argumentos pode se espantar com os termos encontrados, pois, caso leitor seja superficialmente entendido sobre os avanços das pesquisas linguísticas, conclui que muito do que o autor escreve, já está defasado.
Já no primeiro capítulo do livro, Bechara explicita o que nomeia de crise do idioma, proferindo acusações do que seria um despreparo dos professores da educação básica, e que estes estariam privilegiando a oralidade, levando os educandos a não desenvolverem todo o saber linguístico que, em sua opinião, é construído se debruçando sobre grandes nomes, modelos do bem dizer, e do bem falar, em geral grandes nomes da literatura de língua portuguesa. Ainda sobre o assunto, o autor diz que a falta de conhecimento dos alunos de um modelo tradicional da língua seria causado pelo ensino de uma língua coloquial e de uma “língua popular”.
Comparando a fala do autor com os estudos da linguística atuais, se tem o entendimento de que não se trata de privilegiar a língua oral, mas sim ter a percepção de que o falante nativo de português brasileiro tem conhecimento sobre a sua língua materna. Sabe-se que a língua oral se difere da escrita e que isto nada tem a ver com informalidade, mas sim com o fato de serem dois gêneros diferentes de texto (oral e escrito) e que a questão de informalidade existe tanto em um como em outro, isto é, textos escritos e falados podem ter diferentes níveis de formalidade/informalidade, dependendo da circunstância comunicativa.
Ainda sobre o assunto, a variação linguística nos mostra que mesmo na escrita culta do português existe variação, não se limitando apenas a classes mais populares.
Outra informação relevante é que a gramática tradicional que o autor sugere como centro dos estudos nas escolas é um modelo derivado de uma variedade do português europeu do século XIX, que se já na década de 80 se distanciava até da escrita culta brasileira, em 2019 há muito mais estruturas, sintáticas, morfologias que simplesmente desapareceram. Isso ocorre porque, por mais que os tradicionalistas almejem que um modelo específico se estabeleça, e excluem quem “desvia” e os estigmatiza como indivíduos que não sabem a própria língua, a língua é viva e está sempre em mudança. Nesse sentido, pode se retardar a mudança, mas a comunidade linguística é quem promove modelos específicos e não os gramáticos. .
Contudo, os comentários de Bechara não se limitam aos que não teriam domínio de uma língua mais elevada, incluso os professores de português, como o autor deixa claro, mas também põe em cheque a capacidade dos alunos de compreenderem assuntos científicos mais complexos relacionados à Linguística. Desta maneira, se instaura um paradoxo criado por Bechara, isto é, por um lado o autor deixa explícito que o ensino de Língua Portuguesa não deveria ser restrito às listas para memorização, por outro, restringe e minimiza a competência dos educandos ao apontar que “as novidades da língua são coisas que apenas os mestres são capazes de entender” ou ainda, “(...) com um excesso de adubo científico definham em vez de se desenvolverem”. As alusões hoje nos soam das mais absurdas, mas infelizmente ainda há profissionais que insistem em tratar os alunos como receptáculos vazios a serem preenchidos por conteúdos que apenas pessoas elevadas (os professores) são capazes de entender.
A posição tomada por Bechara não é a mais adequada, pois, a identificação poderia justamente ser fomentada por um olhar mais científico da língua, ou seja, explicitando que estudos da Linguística são tão ciência como matemática, química ou física. Uma das estratégias que poderia ser adotada é de propostas de atividades elaboradas com finalidade de insurgir no aprendiz a curiosidade investigativa inerente a todos os seres humanos.
Ainda que Bechara escreva argumentos nos soam insensatos, um dos aspectos positivos do livro é a sugestão do autor de que os alunos sejam poliglotas em sua própria língua, isto é, que aprendam diferentes variantes e conhecimentos lingüísticos e que também compreendam e se adequem às situações sociocomunicativas diversas, teoria defendida ainda hoje por pesquisadores da linguística. Outro aspecto a ser destacado é a posição do autor de que todos os alunos têm direito a ter acesso à norma de prestígio, com esse comentário, Bechara critica professores que se limitam a ensinar apenas uma modalidade da língua próxima a dos alunos, os impossibilitando de conhecer a norma culta.
Apesar dos posicionamentos polêmicos, é compreensível que o autor defenda tais ideias, em razão do contexto histórico, além disso, ao se debruçar sobre a problemática Bechara contribuiu para um importante diálogo tornando-o mais fecundo entre os demais estudiosos da área.

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Luiz Pereira Júnior 09/02/2024

Ainda atual!
Em “Ensino da Gramática. Opressão? Liberdade?”, Evanildo Bechara propõe a discussão sobre a relevância do ensino gramatical nos antigos ensinos de primeiro e segundo graus (hoje, ensinos fundamental e médio).

Lembro-me de que esse curto e pequeno livro foi proposto para análise e discussão em meu curso universitário (nos distantes anos 80) e que serviu para ampliar nossa mente. Relendo-o hoje, verifico que a proposta de debate continua atual. Não podemos privar nossos alunos de aprender a linguagem padrão, mas não podemos, da mesma forma, pensar que ela é a única existente e que deva ser utilizada em quaisquer situações que se apresentem.

Sempre digo para meus alunos que: 1) a linguagem é como uma roupa que se veste (ninguém vai à praia de paletó e gravata, a não ser que queira se “amostrar”); e 2) todos têm direito ao conhecimento e privar um jovem do aprendizado da linguagem culta em seus anos de formação é o mesmo que privar alguém de comer lagosta porque não a pode comprar todos os dias.

Além disso, é bem estranho que os mesmos professores universitários que pregam a liberdade do ensino gramatical e que as gírias e termos coloquiais sejam aceitos indiscriminadamente, muitas vezes são os mesmos que exigem de seus alunos universitários teses e artigos com minúcias bibliográficas que beiram o absurdo (quando não o simplesmente hilário)...
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