caue 01/07/2023
"O que importa o cérebro, quando comparado ao coração?"
Algumas pessoas afirmam que o mundo se divide entre dois tipos de gente: os racionais e os emocionais. Mrs. Dalloway é sobre a convergência obrigatória dos racionais e emocionais na vida. E sobre como se atravessam as questões internas de cada indivíduo quando se entra em contato com o outro.
"No que ela estaria pensando agora?" "Quais são os planos dele pra hoje?" "Em qual companhia eu gostaria de estar neste momento?". São perguntas que a Virgínia Woolf vai respondendo durante a narrativa. Os personagens aqui são mais do que participantes da trama, eles compõem o cenário através da técnica de fluxo de consciência da autora.
E é muito interessante reparar que todos estes pensamentos, tão íntimos, tão detalhados, são descritos fazendo (quase) sempre menções a lugares (campos abertos, pastos vistosos, árvores, flores, parques, casas). E assim como são os nossos pensamentos e sentimentos, as descrições podem ficar confusas, perdidas e estranhas, fazendo com que a gente se pergunte: "o que eu estou lendo?" da mesma forma que se pergunta: "no que eu estou pensando?".
Agora sobre os personagens, duas rápidas observações: Peter Walsh é uma das caricaturas mais pedantes de ser humano que já tive o desprazer de ler, foi um desafio lidar com sua mesquinhez. Septimus Warren e toda a sua subtrama foram, pra mim, o maior acerto dessa obra. Pontos de vista enigmáticos, profundos e belíssimos. Acompanhar aquele pedacinho da vida dele e da Rezia, sua esposa, foram minha parte favorita do livro. Me fez querer que a história fosse inteira sobre os dois.
Pra concluir, foi uma boa leitura e eu espero que consiga fluir melhor quando visitá-la novamente algum dia.