spoiler visualizargablues 27/07/2024
Apesar da grande admiração que tenho por Virginia, li pouco de sua obra, e, do pouco que li, o que mais me marcou foi a dificuldade de me habituar ao seu estilo. Ainda que Mrs. Dalloway não tenha fugido muito dessa experiência (e talvez um certo desconforto seja inerente à literatura de Woolf), senti que foi uma leitura bem mais fluida do que minha prévia experiência com a autora.
A narrativa segue um fluxo quase sinestésico; sinto que Virginia conseguiu exprimir a experiência rapsódica que é viver em uma cidade como Londres. A história parece flutuar como uma câmera por entre a consciência de seus personagens. A cena do aeroplano e como várias perspectivas diferentes são trazidas é genial (inclusive, acho que esse livro tem uma das melhores introduções da história). Embora no começo seja difícil se localizar na história, no momento em que você se habitua à narração e consegue aproveitar ao máximo a escrita de Virginia, a experiência se torna incrível. Sobre o enredo, é interessante em como num espaço tão curto de tempo tantas coisas acontecem no interior dos personagens. O suicídio de Septimus foi extremamente chocante, principalmente pela quebra da expectativa; a sutil melhora em seu estado e, logo depois, sua morte. Virginia aborda de maneira muito perspicaz a saúde mental de Septimus e a psiquiatria de sua época. (É sempre preciso ter cuidado para não confundir a voz do narrador com a voz do autor, mas acho que, neste caso, é cabível).
Virginia tem uma sutileza ímpar para trazer os embates e as contradições de classe, uma questão muito forte neste livro, sem tornar o assunto caricato e sem ignorar a sua importância na construção de personagens verossímeis. É justamente a construção dos personagens que fez com que esse livro se torne tão especial (pelo menos para mim). É incrível como em poucas páginas Woolf nos apresenta personagens com tanta bagagem e faz com que cada um deles pareça extremamente humano. Enfim, ler Woolf é sempre uma experiência árdua, mas, ao final, a recompensa é inquestionável.