O nosso reino

O nosso reino Valter Hugo Mãe




Resenhas - O Nosso Reino


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Patresio.Camilo 06/03/2020

Qual é esse reino.
Há tempos tenho ouvido falar do Valter Hugo Mãe, e em uma viagem, acabei comprando este livro.
O começo, confesso é um pouco truncado e particularmente achei cansativo e enjoativo. A história parecia andar em círculos, personagens que não cativam e por ai vai.
Mais ou menos a partir da página 60 a 70, a história começa a fluir melhor e ficar mais interessante.
Como de praxe, não vou ficar contando o enredo para não dar spoilers.
Mas o que mais achei interessante no livro, talvez seja a visão de uma criança sobre a vida adulta, e principalmente a forma com que este encara a violência doméstica, que por vezes (infelizmente) acaba se tornando institucionalizada.
Trata sobre a visão do que somos e poderemos ser, ou melhor, do que criticamos e por vezes somos nós.
Enfim, um bom livro.
Vale a pena a leitura.
Espero que gostem.
Dani 06/03/2020minha estante
O único livro que li do Valter Hugo Mãe até hoje foi O Filho de Mil Homens e foi um livro que me cativou logo na primeira página. Como não li este aí, não posso comparar. Mas talvez seja uma opção pra você de próxima leitura dele.


Patresio.Camilo 07/03/2020minha estante
Então Dani, pretendo ler outros dele. Aquela coisa, dizem que sempre pode melhorar né, e como esse foi o primeiro livro dele, imagino que os outros devem ser melhores.
Mas o argumento dele é mto bom.
Obrigado pela dica, vou procurar este livro dele...




Stella F.. 09/08/2019

Trágico mas poético!
Valter Hugo Mãe é um autor novo para mim. Assim como em Saramago, com a leitura acostuma- se com a escrita. Todo em letras minúsculas, que segundo o autor, quem vai dar a ênfase a cada palavra será o leitor, de acordo com o que achar relevante. Seria o mesmo que dizer que é o leitor quem faz o livro.
Escrita densa, bonita, mas de difícil compreensão. Acho que entendi muito do texto, mas muita coisa para mim, ainda soa hermética.
Um menino de 8 anos (Benjamin) que aos poucos descobre sobre a morte, sobre a vida, sobre um Deus severo, sobre o diabo, sobre lendas e crendices.
Após uma surra do pai, sofre um milagre, e quer se tornar santo, junto com seu melhor amigo, Manuel. Todos passam a venerá-lo e pedir ajuda.
São muitos personagens, cada um com sua importância na trama.
O menino sente-se oprimido com essa santidade. São colocadas oferendas na sua porta e ele todo dia as retira.
Tem sonhos premonitórios confusos e sente-se culpado por um desejo de “morte” do Carlos, irmão do Manuel. Carlos mostra aos pequenos a devassidão, o pecado, o sexo, mostra a eles o mundo como é.
Muitas mortes e tragédias envolvem a trama e a mais marcante, no final do livro, é quando Benjamin descobre que sua mãe o concebeu antes do casamento, com um homem que não é o pai que o criou. Ela fez um “pacto”, guardou um segredo junto com a comadre Tina e as duas vão simbolizar o outro lado, o do diabo, fazendo oferecimentos aos outros deuses, ou ao diabo, em troca de favores: a vida de Carlos, o bebê da Tia Cândida.
Um dia tudo se volta contra a mãe (que guardou segredo) e Benjamin, fruto do pecado original.
Como Benjamin previu, todos os entes queridos vão morrendo ao seu redor, e agora todas as pessoas os querem longe dessa pequena vila de pescadores em Portugal.
Trágico, mas de muita poesia.

“comigo supostamente a tratar da salvação do mundo, mas apenas agoniando pela ideia terrível de estar em pecado, praguejando e perdendo para sempre a ingenuidade bonita de ser apenas uma criança.”

“grito fechado em casa, no exacto segundo em que caí, alguém chamou a morte, alguém morreria, grito fechado em casa, como diria minha avó mais tarde, a morte de alguém traz o seu grito.”

“e agora quero que sejas o primeiro a saber da resolução que tomei para combater todo o mal que existe, para lutar contra quem nos quiser magoar ou matar, eu decidi entregar-me a deus através da única maneira ao nosso alcance, farei de todos os meus actos um acto de bondade, até que dentro de mim só o que é bom se manifeste e eu seja bom também, eu vou ser santo....”


“uma conta de matemática pode ser como uma história, anda-se à procura de alguém, encontra-se e juntam-se as pessoas para que dêem bom resultado e sejam felizes.”
“sim, que frase aquela sem sabermos se ele abandonado por ela, ou por outra ou alguém, e o medo, tão triste forma de morrer. diz-lhe que morri por ela abandonado no medo. onde estaria a vírgula da frase. depois de morri ou depois de ela, tão importante saber.”

“a morte, Manuel, é só a junção das memórias, como se se arrumasse tudo numa caixa que se fecha.”
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Leila de Carvalho e Gonçalves 08/08/2019

ironia intertextual
lançado em 2004 e de autoria do português valter hugo mãe, ?nosso reino? é um livro bastante singular, pois ultrapassa a definição de romance, sendo mais adequado considerá-lo uma ?construção estética que reúne gêneros literários e não-literários?.

aliás, ele abre a tetralogia das minúsculas que tem como fulcro os ciclos da vida, isto é, infância, juventude, maturidade e velhice. para quem pretende conhecê-la, os demais livros são respectivamente o remorso de baltazar serapião, o apocalipse dos trabalhadores e a máquina de fazer espanhóis.

quanto ao título da tetralogia, cabe um aparte, mãe excluiu do texto todas as letras maiúsculas e esta opção salta aos olhos do leitor de imediato. todavia, também não há exclamações, interrogações, nem outros sinais de pontuação, a exceção do ponto, vírgula e hífen. portanto, essa é uma leitura que exige concentração, inclusive, algumas vezes tive de reler um trecho para melhor assimilá-lo.

nosso reino tem como narrador e protagonista, benjamim, um menino de apenas oito anos. Ele vive numa pequena ilha pesqueira em Portugal, por ocasião da revolução dos cravos e o fulcro da história é a questão do divino a partir da convivência da personagem com uma família disfuncional e uma população pobre, ignorante e preconceituosa, resignada à ditadura salazarista e aos dogmas da igreja católica.

como afirma o próprio autor, ?benjamim é dotado de uma profunda candura e ausculta a figura de deus numa grande tristeza pelos infortúnios da vida. entre os assuntos que lhe magoam estão as terríveis palavras que dizem sobre a tia e, mais tarde, sobre os tios que chegam da França. essas duas passagens são como punhais no peito puro de uma criança e o leitor choca-se com a tristeza e o desamparo que o acompanha?.

também o título do livro também merece um aparte. trata-se de uma intertextualidade, pois refere-se ao vosso reino, o reino de deus, mencionado no pai nosso, a oração mais conhecida de todo o mundo. por sinal, de acordo com o doutorando em letras filipe reblin*: este título é uma ironia intertextual, pois assume uma postura de acinte, afinal, valter hugo mãe subverte as referências aos textos de cunho religioso/bíblico, numa provocação de retirada do sacro, transformando os eventos em paródia, num processo iconoclasta.?

ele também afirma que nosso reino é uma clara forma de hipertexto a partir da tradição bíblica, já que estabelece a relação de dois reinos: o celestial e glorioso, de deus; e o dos homens?, inclusive, este último surge transfigurado pela imaginação de Benjamim que na busca da transcendência, no caso, a santidade, torna-se objeto de veneração e ódio numa hipotética disputa entre deus e o diabo.

finalmente, não poderia deixar de mencionar uma interessante perspectiva para nosso reino, de autoria do poeta brasileiro ferreira gullar: ?... toda a narrativa de valter hugo, neste livro é subversiva, aparentemente natural mas, de fato, estranha. posso até imaginar que tenha ele pretendido fingir que que quem escreveu aquilo seria um menino de oito anos. a verdade, porém, é que como o livro não foi escrito por um menino mas pelo autor adulto, resulta uma escrita altamente sofisticada como um poema em prosa?.

nota: esta é uma nova edição com prefácio de maria angélica melendi e ilustrações exclusivas de eduardo berliner. escolhi o e-book que, apresentando um valor mais acessível, recomendo.

* Artigo ?Vamos Nós ao Nosso Reino? publicado na Revista Versalete, v. 4, n. 7, jul./dez. 2016.
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Nath Moraes 18/12/2018

Li, li, li. Cheguei no final e... não entendi! ¯\_(ツ)_/¯ ou não quis entender.
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Vitor 26/07/2017

do que a morte come, terra e o silêncio intenso sobre a verdade.
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avdantas 06/03/2016

O poder da crença
Este foi um livro que me fez ter sentimentos mistos. Ao mesmo tempo em que eu, como acontece sempre com os livros de Mãe, me deliciava com o uso poético da linguagem, me sentia saturado de toda a carga religiosa entranhada na escrita, até que eu entendi o motivo. Cresci em uma família católica e apesar de não me considerar pertencendo a nenhuma religião, não consigo parar de ver a influência das religiões cristãs ao meu redor. O livro de Mãe trata do cristianismo, mas trata principalmente da crença.

Benjamin, o personagem principal, é uma criança que vive em uma aldeia pequena, possivelmente de pescadores (como em todos os livros do autor que eu já li). Apesar de não citar o país onde essa aldeia está, pelos elementos culturais podemos perceber que se trata de Portugal, que é um país cristão. Logo no início, Benjamin e seu melhor amigo, Manuel, se pegam imaginando o papel que algumas figuras da aldeia têm, como um sem teto, chamado pelas crianças de “o homem mais triste do mundo” e uma mulher que perdeu toda sua família e cometeu suicídio, chamada de “a louca suicida”. São personagens icônicos presentes no imaginário de cidades pequenas (um imaginário terrível e segregador). A imaginação das crianças começa a criar um mundo permeado por papéis baseados em conceitos de bem e mal. No fim, eles pretendem assumir os papéis de santos. A partir daí, outras personagens são apresentadas e a relação delas com os dois meninos. O incrível é a capacidade que o autor tem de criar situações em que alguns absurdos criados pela imaginação infantil permeada pelos conceitos cristãos parecem plausíveis, tornando o universo infantil mais realista que qualquer outro.

O trabalho de escrita que Mãe desempenha é muito particular. Li poucos autores que têm a mesma capacidade que ele tem de fazer com que a linguagem pareça um artefato mágico. Ela meche com você em um nível muito profundo e sentimental, dando a impressão de que você está diante de um artigo místico.

Neste livro, assim como nos outros dois lançados logo após, o autor aboliu as letras maiúsculas, até de palavras obrigatoriamente grafadas com inicial maiúscula, como “deus”, por exemplo. Parece simples, mas uma ação como essa pode suscitar significados muito maiores do que a própria ação.


site: http://cheirodesombra.blogspot.com.br/2016/03/nosso-reino-valter-hugo-mae.html
Thiago Sabino 09/05/2017minha estante
Caramba, Já quero ler!!! Obrigado




vero 23/03/2014

Livro difícil que exige muita imaginação. não é para entender com os conceitos do mundo, mas para sentir com a criatividade. difícil e denso, como se espera que um bom livro seja, talvez até mais, exigente, afogador de almas.
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