Carous 25/06/2020Ah, esse livro é tão gostosinho! Pena que a autora teve que estragar toda a magia e o carinho que sinto por essa saga sendo maldosamente transfóbica! Realmente me deixa em conflito entre amar a saga e não enaltecer demais uma pessoa tão cretina.
Eu não me lembro o que senti quando li Harry Potter pela primeira vez - lembro da razão de ter pego o livro.
Diferente de muitos potterheads cuja paixão por ler foi despertada por causa desse livro, eu já era uma leitora voraz antes da alfabetização por encorajamento dos meus pais. Não falo isso para me gabar. É mais para explicar minha relutância na época em seguir a moda de ler este livro, e como fiquei pasma ao ver as crianças ao meu redor descobrindo que ler era... legal. Tipo, sim, é maravilhoso, você só descobriu AGORA, aos ONZE anos?!
Na mesma época em que lia esta série, estava vidrada na série A mediadora, da Meg Cabot. Bons livros, mas não tão complexo quanto Harry Potter.
Aliás, Harry Potter foi sim a primeira obra que peguei que achei extremamente bem escrita, amarrada e complexa. Nunca havia pego um livro que tinha mais para contar do que o primeiro da série demonstrava e foi uma surpresa descobrir que estava tudo conectado e caminhando para os eventos de Harry Potter e as relíquias da morte. Certamente foi uma viagem divertida - e pouco solitária desta vez já que tinham uma multidão de leitores do bruxinho.
Quando JK Rowling foi desagradável a ponto de atacar a marginalizada comunidade trans a troco de nada, muitos disseram que a prosa dela em sua obra mais famosa nem era tão boa. Básica, simples. Mas para uma não-nativa de ingles, achei maravilhosa, encantadora e bem amarrada. Toda frase parecia ter sido pensada para se encaixar perfeitamente na história e fazer um conjunto harmonioso com o resto do livro. Eu gosto disso e vi poucas vezes em livros. Parecia que a escritora não queria desperdiçar nenhuma palavra e não as colocava à toa.
Harry Potter and the sorcerer's stone me fez companhia durante esse isolamento social em que, pela primeira vez, tinha ataques de ansiedade e pânico. Confesso que demorei muito para abraçar meu carinho e amor pela série, e infelizmente essa decisão veio quando a escritora não podia mais segurar seus preconceitos para si - custava 0 libras fazer isso.
Nesta releitura eu vi que me lembrava basicamente de todos os acontecimentos, mas isso não me surpreende. É um livro pequeno sem muitos enigmas e revelações. Porém é um alívio ler sabendo das respostas, então minha ansiedade diminui.
Mantive a mesma opinião da minha versão de 9 anos sobre os personagens; gosto das mesmas pessoas e desgosto também dos mesmos personagens (sim, estou olhando para você Snape e Malfoy). Mas agora olho com mais atenção para as intenções de Dumbledore, para as informações que a escritora acrescenta e tenho um carinho especial por Rony Weasley, tão injustiçado nos livros, nos filmes e pelos fãs - ele é apenas um garoto numa gigantesca família, à sombra dos melhores amigos, que quer se destacar - e talvez ter certeza de que sua família e amigos o amam em primeiro lugar, pra variar.
Espero que um dia JK Rowling reveja sua visão sobre pessoas trans e pare de atormentá-las. Esta saga foi muito importante para muita gente - embora não seja perfeita, mas erros dos passados podem ser corrigidos. - e é uma pena que agora esteja maculada.