Eduardo Mendes 30/12/2022
O filósofo ataca a ideia de que o homem de hoje seja superior aos antigos
Depois de perder o medo e encarar os escritos de Nietzsche no ótimo “Genealogia da Moral” resolvi conferir “O Anticristo.” Ao contrário da sugestão do título, a obra não critica propriamente Jesus Cristo e sua doutrina, mas sim o que foi feito do cristianismo a partir do momento em que a vida de Jesus se torna o fundamento para uma religião.
A experiência de leitura foi bem interessante, esta edição da Nova Fronteira tem uma tradução fluida, deixando o texto claro e objetivo. São capítulos curtos e a obra não é muito grande.
Assim como em Genealogia da Moral a análise passa pelo conceito de bom e mal, pro filósofo “mal” é o que se origina da fraqueza e “bom” é tudo o que aumenta no homem o sentimento de poder, a vontade de potência. Sendo assim, Nietzsche acusa o cristianismo de ser a religião do ressentimento; uma doutrina que torna o homem cada vez mais fraco e alienado, alimentando um ódio impotente contra aquilo que ele não pode ser ou não pode ter. Colocando homem contra homem.
O filósofo ataca a ideia de que o homem de hoje seja superior aos antigos, pra ele o cristianismo está desenvolvendo um tipo ainda mais elevado de barbárie; que a ideia de “progresso” é uma ideia moderna e falsa; e que tudo o que o homem considera hoje como virtuoso é na verdade pura decadência. Que os valores morais na verdade estão subvertidos pelo cristianismo.
Para Nietzsche deus é nada mais do que uma projeção de nós mesmos, logo, um povo que acredita em si e tem também seu próprio deus, projeta nele as condições que o fez estar acima de nós; tudo nele é elevado e inatingível: seus valores, seu prazer, seu sentimento de potência. Assim, a representação de um deus que só tem virtudes significa na verdade a perda da fé em si mesmo e no próprio futuro.
Ele defende que ninguém se torna cristão livremente, pois é preciso estar doente o suficiente para isso. Assim, o ideal cristão pregar o evangelho ao mundo é o projeto da igreja de transformar o mundo inteiro em um hospício. Qualquer visita a um hospício irá mostrar que a fé não move montanhas, mas que as coloca onde não existiam.
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