Brina.nm 02/06/2016Resenha pelo blog Gordinha AssumidaA maior dificuldade de um blogueiro, é trazer uma resenha de um livro que gostou bastante, ainda mais quando o autor deste é alguém que você segue (tieta) e admira tanto como cantor e compositor.
Nas entrelinhas do horizonte, é um livro de crônicas de Humberto Gessinger, cantor e compositor da banda Engenheiros do Hawaii, que trás músicas muito conhecidas até hoje. Nas páginas deste livro vemos a personalidade de Humberto refletida em cada página: alguém que não é dado ao senso comum, que não liga pra marcas, que prefere andar pelas ruas ao invés de ir de carro, que prefere fotografar sua sombra com a câmera do celular ao invés de usar uma super câmera e registrar um super cenário por onde ele passou.
O livro é dividido em 36 capítulos –crônicas- de poucas páginas onde o autor coloca pequenos poemas, frases emblemáticas ou abstratas, e suas crônicas do dia a dia: pensamentos aleatórios em torno de um tema central, onde Humberto divaga desde assuntos de ‘deixei de ser criança’ a ‘modernizações que ele não conseguiu acompanhar’.
Vemos que muitos dos textos foram escritos em quanto ele caminhava, no trecho de 50 min. entre sua casa e a quadra de tênis, esporte que ele pratica a mais de 20 anos. Nesses pequenos momentos de reflexões aprendemos muito sobre “Quem é Humberto Gessinger” e sobre como ele observa a vida, que passa cada dia mais rápido, principalmente para quem tem compromissos de shows e turnês a cumprir.
O autor também faz alguns questionamentos, que deixam o leitor refletindo sobre o assunto, seja ele sério e melancólico, ou coisas banais sobre as marcas, a influência da internet (chamada de ‘www’ por ele) na vida das pessoas e mais…
A parte gráfica desse livro é espetacular, como tantas outras da editora. As crônicas são intercaladas entre páginas amarelas e pretas, e as fontes também. Um cuidado todo especial com cada texto, posicionamento das palavras e trechos de destaque, que imerge o leitor ainda mais na obra. A capa trás o autor bem no estilo que estamos acostumados a vê-lo: cabeludo e de óculos, e por dentro das capas há fotos do cantor em uma paisagem muito linda (que se não me engano é sua casa).
Há momentos divertidos também, onde as crônicas são sobre comportamentos engraçados do ser humano, comportamentos engraçados na ‘www’ e principalmente sobre experiências de vida do cantor/autor, como quando ele era moleque e passava os 60 dias de férias na praia – sendo que 59 eram curando as queimaduras por ser tão branquelo –.
Dentre todas as crônicas separei as que mais gostei, e tenho certeza que mesmo para os leitores que não curtem muito o gênero, vão se identificar com as palavras.
O DIA EM QUE DEIXEI DE SER CRIANÇA
Deixamos de ser crianças quando descobrimos que, todos e para sempre, andamos em círculos. Voltamos a ser crianças quando notamos que nem todos os círculos têm o mesmo raio. É possível andar em círculos tão grandes que sua curvatura, de tão longa, parece uma reta. Pág. 7
Points of no return, daqui não tem mais volta, pra frente é sem saber. O elástico, esticado demais, se parte. Ainda bem que, na vida real, sempre dá pra voltar a ser criança, né? Sim: às vezes é a única forma de sobreviver. Pág. 24
O ÍMPAR, O PADRÃO QUE NÃO HÁ
A gente faz as contas, projeta uma vida na outra, tenta se enxergar como se fosse outra pessoa… A gente busca espelhos porque viver é solitário. Busca simetrias porque a vida é torta. A simetria acalma. Talvez acalme porque nós mesmos somos simétricos. Uma linha imaginária, dos pés à cabeça, nos divide em duas partes iguais. Buscamos o que já somos? Esquecemos que essa simetria nunca é perfeita. Pág. 33
UM BAND–AID PARA A ALMA
Não acho que minha música seja boa trilha sonora para autoajuda. Não tenho nada a ensinar e não quero que minha melancolia ou minha excitação, minhas crenças ou meu cetismo, sirvam de exemplo pra ninguém. (…) Não acho que música melancólica aumente a melancolia. Na verdade, ela faz companhia.
MOZART NOS DEVE UM RÉQUIEM PARA O IPOD
Não acredito que as respostas aos problemas de um mundo novo estejam na volta ao passado. Escolhi ter fé nas ferramentas que o ser humano cria. Escolhi ter esperança de que aprendemos a usar essas ferramentas. Para o bem e para todos. Pág. 87
MESTRE E DISCÍPULO, UM HOMEM SÓ
Por que essa pressa? O caminho mais curto entre dois pontos pode ser uma bênção ou uma maldição. Cada caso é um caso (e isso continua valendo para todos os casos). Pág. 94
Perder o rumo é bom / Se perdido a gente encontra / Um sentido escondido em algum lugar Pág. 94
AUTORRETRATO (NAS ENTRELINHAS DO HORIZONTE)
O fascínio dos autorrretratos está na mistura do que somos e do que queremos ser. Sob a aparência simples e direta de um formulário, há um mapa do que escolhemos e do que não podemos evitar. As entrelinhas podem revelar mais do que as palavras.
Afinal, o que faz a beleza do horizonte? As coisas objetivas, que estão lá longe (prédios recortando o céu, montanhas, nuvens) ou nossa subjetiva capacidade de enxergá-las? Pág. 157
Para os amantes de Engenheiros, tietes do cantor ou mesmo para aqueles que amam – ou nunca leram- crônicas com temas cotidianos, recomendo muito esse livro, e recomendo também o blog do autor, que possui outras crônicas ótimas. - BloGessinger
site:
http://www.gordinhaassumida.com.br/2016/06/nas-entrelinhas-do-horizonte-humberto.html