Eric Vinicius 17/04/2021
Feliz leitura acabada
Eu me aproximei de "Feliz Ano Velho" meio por acaso. Achei-o perdido na estante e pensei: "Por que não?". Nem sequer tinha ouvido falar da história de Marcelo Rubens Paiva e o que me despertou o interesse - embora romances autobiográficos não sejam exatamente o meu estilo favorito - foi a premiação do Jabuti, em 1983. "Deve ser bom!"
Que decepção!
Ok, é um playboy de 20 e poucos anos que acaba de sofrer uma baita tragédia e ainda está tentando juntar os cacos do que sobrou da própria vida. Talvez fosse inapropriado esperar muita coisa.
Para não falar que nada pude aproveitar da leitura, o tempo descrito no hospital me trouxe à memória as angústias de uma experiência do tipo, que tive há 12 anos. E a escrita é bem leve, por vezes engraçada, num ritmo bom.
Mas, à parte isso, o romance é uma obra sem propósito ("... não estou a fim de passar nenhuma lição. Não quero que as pessoas me encarem como um rapaz que apesar de tudo transmite muita força. Não sou modelo para nada." - muito bem, meu parceiro, isso foi algo que, pelo menos, você fez muito bem!), descomprometida e permeada por leviandades. Não vou criticar o lado ridículo dos autoelogios de moleque-safado-pegador porque, com a mesma energia que o autor o faz, ele também se detona, ao expor corajosamente as próprias misérias. Mas achei imperdoável o trecho em que sua desencanação irresponsável o leva a escrever "Pode até ser que tenha ressuscitado um escravagista, mas não sou muito de ficar encanado com as coisas que penso". Pô, Marcelo!
Não julgo o autor pela obra - sei diferenciar bem uma coisa da outra, mesmo em relatos tão pessoais como um desse. Marcelo Rubens Paiva tem uma história de superação que poderia inspirar muitos de nós. Mas seu primeiro romance, apesar de aclamado pela crítica, definitivamente não me convenceu.