José Milton Júnior 15/01/2024
Mustafá, o eleito e o amado
Mustafá, durante os doze anos em que esteve hospedado em Orfalese, sempre foi alguém que nas aparências jamais atraiu o interesse do povo. Mas em seu último dia na cidade, quando estava de partida, atraiu a cidade inteira ao seu encontro, que se apresentava sedenta por mensagens de sabedoria e esperança. Comovido e surpreendido, Mustafá então respondeu cada pergunta com carinho, assertividade, criatividade e poesia.
Mustafá é uma figura que difere das características dos profetas bíblicos do antigo testamento, pois não realiza milagres e não profetiza acontecimentos, se assemelhando mais com a figura de um apóstolo cristão, proporcionando uma curiosa e gostosa sensação de estar lendo uma reimaginação da figura dos profetas do antigo testamento, como se manuscritos de Melquisedeque estivessem a disposição para o deleite dos olhos contemplativos da sabedoria do Anjo do Senhor.
Destaco o discurso de despedida de Mustafá para o povo de Orfalese, um dos meus trechos literários favoritos de todos os tempos...
"Foi apenas ontem que nos encontramos em um sonho.
Vós cantaste para mim em minha solidão, e de vossos desejos construí uma torre no céu.
Mas agora nosso sono sumiu e nosso sonho acabou, e já não é mais aurora.
O meio-dia está sobre nós e nosso meio despertar transformou-se em dia, e devemos nos separar.
Se, no lusco-fusco da memória nos encontrarmos mais uma vez, falaremos de novo e vós cantareis para mim uma canção mais profunda.
E se nossas mãos se encontrarem em outro sonho, construiremos outra torre no céu."
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