filipetv 24/09/2023
Esta foi minha primeira incursão na obra de Rubem Fonseca, e logo no conto que abre a coletânea - e que dá nome a ela -, fui fisgado pela ação quase ou totalmente cinematográfica do texto, uma marca que permeia os 15 contos da obra e que varia de ritmo, desde o frenesi automobilístico de "Passeio Noturno" até a tranquilidade sofisticada de "Nau Catrineta".
Publicado em 1975, "Feliz Ano Novo" é uma obra objetiva, crua e violenta. Os personagens dos textos que a compõem são cínicos, desprovidos de empatia e, alguns, bastante sádicos. Assassinato, estupro, violência doméstica e até canibalismo são temas tratados com uma naturalidade que chega a incomodar.
Essa trivialização de temas tão pesados pode ser decorrente da atuação do autor como comissário de polícia, quando provavelmente teve contato com um sem-número de crimes que o inspiraram a escrever suas histórias. Porém, nem só de crimes sobrevive "Feliz Ano Novo". Ao longo dos textos, encontramos reflexões sobre literatura, sociedade, relacionamentos, homossexualidade e diversos outros temas.
A crueza e objetividade transcendem o tema e são também aspectos da forma. A tendência geral é de linearidade, um começo meio e fim aristotélico claro, com exceção de "74 degraus", em que o autor arrisca uma experimentação diferente. Finalmente, "Feliz Ano Novo" é um livro obrigatório pra quem tem afinidade com o gênero "noir" e policial. E pra quem tem um estômago pouco sensível também.