Maurino 14/02/2011
A viagem do poeta beat.
Muita atenção, incauto leitor, nem sequer se aproxime deste livro se você for uma pessoa particularmente sensível ou se sofrer de problemas estomacais! Caso contrário, esse "Almoço nu" será a leitura mais indigesta de sua vida. Entretanto, se você tiver a coragem de se aventurar nesse clássico da literatura marginal, dispa-se de toda a sua semântica e da sua sintaxe, pois as representações, que até então o ajudaram, de agora em diante não lhe serão mais de nenhuma serventia. De longe o mais pirado protagonista da tresloucada Geração Beat, William Burroughs (Bill Burroughs para os íntimos), apresenta aqui a sua obra prima - que inspirou o conceito de "corpo sem órgãos drogado", do filósofo francês contemporâneo Gilles Deleuze.Narrando as suas experiências de junky pesado,através de um discurso indireto livre, delirante e intestinal, o autor ao mesmo tempo em que expõe as suas entranhas, deslinda uma das mais lúcidas e brilhantes análises do que ele chama de "lógica da droga". Aviso-o desde já que você não gostará desse livro assim tão facilmente; provavelmente nem passará do primeiro capítulo, mas caso queira se deixar assombrar pela fúria deste poeta beat, leia-o com coragem e humildade, pois ele é, como diria Nietzsche, humano, demasiado humano.