Eduarda Graciano do Nascimento 09/01/2018Um nome apropriado Jack é um poeta americano que vive na Cidade do México e nutre uma paixão pela colega Tristessa, uma mexicana nativa viciada que sucumbe cada vez mais às drogas.
Temos por Kerouac, nessa novela, um povo mexicano abandonado e marginalizado. A história não se passa nas ricas mansões das novelas e sim nos espaços urbanos símbolos de decadência e pobreza: os guetos, becos e calçadas encardidas.
Seu protagonista - que tem o mesmo nome, pois se trata uma autobiografia - é um jovem americano, poeta, que vive há algum tempo no país vizinho e divide sua realidade com Bull, outro estrangeiro melancólico e viciado, e Tristessa, que vive para e pela morfina.
Acompanhamos, durante as andanças de Jack, suas angústias e preocupações com aquela que dá nome à obra, por quem ele nutre um amor quase platônico, e com quem sabe que não poderá ficar, já que sempre perderia para a heroína, a morfina e para as bolas (tive que pesquisar e pelo que entendi se trata de anfetamina) na preferência da garota.
" [...] Ou ela vai morrer em meus braços ou vão apenas me contar sobre isso."
Esse é meu primeiro Kerouac e apesar de um livro curtíssimo, a leitura não é assim tão fácil, já que o autor derrama seus pensamentos numa espécie de fluxo de consciência. Achei a narrativa bastante poética e viva, visto que estamos imersos ali naquele mundo das drogas, do sexo e, porque não dizer, da sujeira.
Tess vive para isso. E Jack sabe que em algum momento ela sucumbirá. Só resta a ele estar ali então.
Os personagens (além de Tess, Bull e Jack, podemos destacar El Indio e Cruz) estão todos absorvidos por essa sobrevivência sem sentido, vagando de bar em bar, de beco em beco, sempre em busca da próxima dose.
" Porque Tristessa precisa de minha ajuda mas não vai aceitá-la e eu não vou dar - mas, supondo que todos no mundo se dedicassem a ajudar os outros o dia inteiro, por causa de um sonho ou de uma visão de liberdade de eternidade, o mundo não seria então um jardim?"
Está aí um livro que te faz sentir. Pulsar. A melancolia permeia toda a história e nós leitores vamos seguindo Jack e Tristessa, pelas duas partes em que ela é dividida, torcendo o tempo todo para que esses personagens, tão queridos à nós então, rumem para outro destino que não a decadência.
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