Roberta 04/04/2020
Ando farta de livros com teor machista
Sabem por que dei a nota 2.5 a este livro (no fundo, querendo dar até menos)? Não foi devido à má elaboração de enredo ou personagens, não foi por falta de criatividade do autor ou problemas de estrutura, coerência textual, nem nada do tipo... foi simplesmente devido ao fato de que as mulheres são praticamente nulas na história. Isso mesmo: nulas. Mudas e surdas, quando não putas, más, vingativas e perversas... o perfeito estereótipo, não acham?
Mesmo a personagem Yennefer, considerada poderosa e de personalidade forte, é tratada de modo humilhante e degradante. Há uma cena que me chamou particularmente a atenção, pois, quando vão à caça do dragão (não se preocupem, não haverá spoilers significativos), alguns caçadores rasgam a parte da frente do vestido de Yennefer e a deixam exposta. Logo em seguida, outro personagem, Jaskier, começa a se aproveitar do momento vexatório de Yennefer e permanece encarando seus seios descobertos. Ainda que ela peça para ele parar, ele segue com comentários insolentes e ri da sua situação. Pode parecer pouco, pode parecer uma cena de mal gosto qualquer, mas vocês não sabem como eu me senti humilhada junto com a Yennefer, como se fossem meus próprios seios lá expostos a um bando de idiotas, que ainda acham graça do momento e caçoam de mim.
Não foi um fato isolado. No livro, as mulheres quase não têm falas. Quando têm, são ínfimas participações. Estão lá apenas como rostos bonitos, ou como bocas escancaradas para gritar de medo quando algum monstro aparece. Mesmo a rainha Calanthe não possui participação significativa na trama. O que dizer disso tudo? Seria demais pedir que os escritores parem de retratar as mulheres como coisas expostas a seu bel prazer? Seria muito pedir que tenham participação maior do que quando chega a hora do sexo? Nós somos muito mais do que um corpo, do que um monte de carne. E não suporto pensar que este livro, dentre tantos outros livros, não foge à regra de pensar na mulher como um estereótipo.
Não me levem a mal, eu gostei da história de um modo geral. Ela é divertida na maioria das vezes, mas este fato particular me incomodou e muito e estragou qualquer encanto que pudesse me fazer apaixonar. Na minha opinião, os livros devem servir como uma espécie de crítica social, devem apontar o que está errado, devem contestar e levantar os problemas sociais, não apenas reprisá-los ao pé da letra como se fossem normais. Eu quase não leio livros que tenham este tipo de conotação, pois me sinto enojada e com raiva. E me decepcionou imensamente o fato de este livro que escolhi para ler por diversão ter me proporcionado tamanha repulsa.
Eu lerei os próximos livros da série, todos eles, pois quero avaliar se esta minha percepção da obra realmente estava entranhada na cabeça do autor ou se era apenas uma tentativa de realizar um retrato fidedigno da Idade Média, mas com intenção de criticá-lo. Quero ter a certeza de que não estava enganada. Porém, também quero deixar clara minha opinião para que futuros leitores possam refletir se realmente desejam se expor a este tipo de trama.