Victor Almeida 21/03/2014O AMOR VERDADEIRO É O MAIS INCOVENIENTEEu, realmente, não sei como começar essa resenha. A Seleção foi um livro que me causou diversos sentimentos conflitantes bons e ruins. A história conta a trajetória de America, uma garota humilde de uma casta social baixa, que deixa sua casa, sua família e seu relacionamento secreto com um rapaz de casta inferior para competir com outras 35 garotas pelo coração do príncipe. A primeira coisa a saber sobre o livro é que ele foi erroneamente apresentado por muitas pessoas como uma ficção distópica — pode até ser, mas pelo menos não inteiramente.
Muitas pessoas — e quando eu digo muitas, são muitas MESMO — afirmam que o livro em si é uma combinação de Jogos Vorazes com o programa de TV The Bachelor (um reality show que gira em torno de um rapaz solteiro que se encontra e convive com um grupo de 25-30 mulheres, também solteiras, viúvas ou divorciadas, para escolher uma delas como sua esposa ao final do programa). Apesar de achar a comparação um pouco grotesta demais, vou deixar claro: na minha opinião, A Seleção realmente nos traz uma sensação de Jogos vorazes no sentido das transformações de personagens humildes em beldades prontas para a televisão, entrevistas e coberturas transmitidas por toda a nação do continente, um personagem carismático famoso responsável por realizar as entrevistas (que mais de uma vez me pareceu muito similar ao Caesar), elementos do mundo distópico criado, entre outros. Quanto ao programa The Bachelor, vemos a competição amorosa, namoros, saídas, e eliminação de concorrentes até que reste apenas uma. Entretanto, esse livro é mais do que uma simples combinação desses dois elementos.
Consigo ver a protagonista America como uma personagem fácil de se gostar, uma vez que sua proximidade com o público a faz ser lembrada como uma pequena princesa, apesar de sua casta. A forma como ela trata todas as pessoas à sua volta e até suas empregadas no castelo, me fez admirá-la. Ela é uma boa candidata para a realeza, considerando sua confiança. Existem muitas coisas boas a serem ditas sobre o livro que me fizeram virar as páginas de madrugada. Porém, America é uma drama queen nata, e isso me fez entrar em conflito. A caracterização estelar do Principe Maxon o tornou o único personagem que eu realmente gostei do começo ao fim. Mesmo que não estivesse gostando de America na primeira metade do livro, o fato de se tornarem grandes amigos me fez gostar um pouco mais dela. Quando os dois personagens se encontram, sua amizade é sincera e o diálogo fluente.
A divisão da sociedade em castas é muito importante para o estabelecimentos das regras do mundo distópico, e tem efeito no ritmo e ações dos personagens. Apesar do livro se passar no futuro, é lido como um romance histórico. As pessoas são desencorajadas a se casar com outras pessoas fora de sua casta, e cada uma possui uma atividade predominante designada à sua classe. Esses fatores tornaram o mundo bem mais interessante.
Mas, então, qual é o problema? Acredito que a autora se perde no que diz respeito à caracterização dos personagens e às cenas de ação. America, apesar de espirituosa e honesta (na maioria das vezes) se tornou descontroladamente errática e um pouco boba quando se tratava de diálogos internos. Chegando ao final do livro, suas atitudes e pensamentos mimados simplesmente passaram de condizer com sua realidade. Quanto às cenas de ação, elas são quase inexistentes (principal fato do meu questionamento sobre o livro ser considerado distópico) e, na minha opinião, não adicionaram muito à trama. O que realmente me deixou frustrado é a falta de uma explicação mais aprofundada sobre as razões de muitas coisas inseridas no mundo. Eu entendo que é apenas o primeiro livro, mas os buracos criados pela autora trazem insatisfação para os leitores novos à trilogia, e tudo parece apenas posicionado ali para enfeitar o cenário.
Essa parece ser uma resenha extremamente negativa, mas não me entendam mal. Não detestei o livro, pelo contrário, achei a leitura muito divertida e fui incapaz de fechar o livro tão cedo. A escrita é fácil e engajante, e a história principal corre em uma velocidade confortável permitindo ao leitor entrar e visualizar cada detalhe desde os belos vestidos à decoração magnífica do palácio. Acredito que Kiera Cass estava tão interessada no que estava escrevendo e confiante em sua escrita que acabou por criar uma voz única. Ponto para a autora por tudo isso. Entretanto, foi algo muito simples pra alguém que foi ao livro esperando mais conflitos, drama, complexidade e devidas explicações. Sim, algumas respostas foram dadas, mas não o suficiente para investir completamente na história de America. Espero que os pequenos defeitos aqui e ali possam ser melhor discutidos e desenvolvidos no segundo volume da trilogia.
site:
http://olhosderessaca.com.br/a-selecao-kiera-cass/