spoiler visualizarRonaldo Thomé 03/06/2021
"O Homem Nasce Livre, e Em toda Parte é Posto a Ferros"
Classicaço cujos dias atuais tornaram ainda mais essencial!
Rousseau, o filósofo de Genebra, nos brinda aqui com a fina flor do pensamento político que rendeu, à sua geração, o nome de "Século das Luzes". Aqui, ele faz uma impressionante dissertação que perpassa os caminhos da Filosofia, do Direito e muitos outros acerca da relação entre o homem, a liberdade e a sociedade.
O autor parte da premissa que o homem, em si, é livre, nasce em liberdade, mas com o tempo, tudo parece conspirar para que ele se torne prisioneiro de uma estrutura superior a ele. E o que seria esse tudo? Bem, nas suas proposições, ele primeiro procura separar os limites entre escravidão, servidão, obediência e necessidade - e o faz com um didatismo interessante, que deve ter parecido algo de outro mundo na sua época.
O mundo vinha de eras em que a violência, a submissão do homem era algo natural, e até estimulado; porém, como muitos outros, o filósofo se levanta contra tudo isso. Em suas ideias, ele ensina que desde o início dos tempos, a sociedade como a conhecemos nasce da necessidade natural do homem em sobreviver. Assim, os homens passaram a se reunir em grupos, com direitos e deveres bem estabelecidos. Aqui, os pré requisitos e limites entre cada um são analisados, de forma incrivelmente moderna e acessível.
O livro trata, também, da estrutura de poder que se convencionou denominar Estado - e qual a sua diferença com o governo, que é o grupo de pessoas que se ocupa da gestão do Estado. Ele elucida, também, a questão da divisão dos poderes Executivo e Legislativo, comparando-os ao coração e ao cérebro do poder, respectivamente. O escritor é bastante claro e rígido ao afirmar que quem legisla e quem executa NÃO podem nem devem ser as mesmas pessoas (tantos anos depois, parece que muitos governos não aprenderam a lição, não é?).
O livro finaliza com a questão da relação entre a religião e o poder. Apesar de Grécia e Roma, por exemplo, terem muitos deméritos ao longo do tempo sobre essa questão, o filósofo defende que o ideal é sempre a separação dos dois. Isso, porque, por uma questão ética, a relação entre o líder de Estado e seus liderados tem a ver com questões terrenas e sociais, sendo que a religião não deve, de forma alguma, ser usada para legitimar o poder do Estado, nem do Governo. O que dá poder e legitimidade ao Estado é, tendo por base a convenção de aceitação social (o Contrato Social propriamente dito), a sua força vem das leis promulgadas e da aceitação que essas leis têm entre esse povo. Nas entrelinhas, ele deixa claro que as leis podem durar milênios, porem, o que as valida é a sua conexão com a sociedade em que as pessoas vivem.
Rousseau se levanta firmemente contra a escravidão, declarando que o escravo não pode fazer parte do pacto social - afinal, ele é privado de sua liberdade à força, não tendo a oportunidade de se adequar ao pacto social, inclusive porque os direitos que os outros têm lhe são negados.
Enfim - tudo isso faz desse livro um clássico, e sem dúvida um dos grandes pilares da modernidade. O que de melhor foi escrito para nossos dias, sem dúvida, se baseou na geração do Iluminismo - e na obra de Rousseau, também.
Por tudo isso, mesmo não o considerando o melhor, digo sem dúvidas que esse até agora é o MAIS IMPORTANTE livro lido em 2021!
Indicado para: entender o que é o Estado e de onde surge seu poder, bem como a importância de conhecer seu papel, abrangência e limites.
Nota: 10,0 de 10,0.