Rafaelle 19/09/2018ExcepcionalFazia muito tempo que eu estava louca para ler esse livro. Como o preço dele é salgado, eu acabei precisando esperar até que finalmente ganhei ele de aniversário (obrigada mãe!) e minha gente, esse livro vale cada centavo investido!
Eu nunca comento a parte física do livro, mas essa edição da Pedrazul é realmente apaixonante, principalmente pela capa dura e ilustrações, fiquei completamente apaixonada!
Vamos à história agora: Amy Dorrit é filha de William Dorrit, um cavalheiro bem educado que foi preso devido às suas dívidas. Ela nasceu e cresceu dentro da prisão. Possui um irmão e uma irmã mas velhos, porém Amy que é o alicerce da família e toma a incumbência de cuidar de seu pai e ajudar seus irmãos. Sua vida dá uma virada quando ela vai trabalhar para Mrs. Clennam e posteriomente conhece o filho dela, Arthur Clennam. Arthur está retornando da China onde viveu os últimos anos e está convencido que existe algum segredo de família que leva a sua mãe demonstrar bondade para com a pequena Dorrit.
Uma das coisas que eu admiro nos romances clássicos é a quantidade de histórias entrelaçadas que existem em um único livro, mas o trabalho de Dickens em A Pequena Dorrit é algo difícil de ser superado. São muitos personagens e todos com suas personalidades marcantes e bem desenvolvidas. Mesmo personagens que eu achava que não teriam relevância alguma se mostraram essenciais na construção da trama.
Amy é maravilhosa. É uma menina doce, que coloca as necessidades dos outros acima das suas, que ama incondicionalmente e sem interesses e é extremamente forte apesar de sua frágil aparência. Arthur Clennam se destaca como um dos melhores mocinhos que já conheci também. Ele teve uma infância difícil nas mãos de sua austera e religiosa mãe, seu amor da juventude lhe foi negado e mesmo assim ele é um homem de coração verdadeiramente bom.
A relação de Amy e Arthur é muito gostosa de acompanhar. Ele se mostra um verdadeiro amigo para ela porém se recusa a vê-la como mais que uma criança devido à diferença de idade entre eles. Arthur possui 40 anos e Amy pouco mais de 20, entretanto quando conhecemos ambos mais de perto, logo vemos que Arthur ainda tem o coração de um rapaz que anseia ser amado e Amy é uma mulher já madura por conta de sua história difícil. O sentimento dos dois se desenvolve de forma lenta e contínua e é impossível não torcer para que ambos encontrem a felicidade.
Não tem como falar muito mais do enredo sem soltar spoilers. O livro é cheio de reviravoltas e surpresas. Eu amei, odiei, ri, me emocionei. Temos muito sobre amizades, sobre o amor, sobre paixões, sobre gratidão... Além de Amy e Arthur, outros personagens roubaram meu coração como a doce Maggy, o persistente Doyce, a tagarela Flora, a família Plornish, o alegre Cavaletto... Enquanto outros me irritavam profundamente, mostrando facetas terríveis do homem.
Diferente de muitos autores ingleses, tive a sensação de que Dickens não usou apenas levemente da ironia para questionar a sociedade da época, Dickens zomba abertamente de tudo que estava errado, desde a falsa superioridade dos "bem nascidos", a forma como os ricos conseguem se inserir em sociedade tão preconceituosa até a ineficiência e má vontade do governo em fazer. Ele questiona a prisão dos endividados, questiona a moral das sociedade, questiona a especulação financeira e pincela questionamentos até mesmo sobre a religião. É uma obra excepcional, que nos faz sentir a impotência dos personagens perante tantas adversidades e injustiças da época e torcer para que mesmo assim encontrem seu caminho.
Acho que todo amante de literatura deve dar-se o prazer de ler essa preciosidade e garanto que não será nem preciso pesquisar o porquê de Dickens ser um dos maiores nomes da literatura inglesa. A leitura desse livro deixa clara sem a necessidade de explicações. Com certeza um dos melhores e mais bem desenvolvidos livros que já li.