Priscilla 03/05/2012Tinha me esquecido como é mergulhar em um livro do King. Li Duma Key em 10 dias e aí me lembrei. Como sempre, a narração prende de tal forma que você nunca cansa da leitura.
Conhecemos Edgar Freemantle, um homem que deveria estar morto, mas acaba sobrevivendo. Ele era empreiteiro e em uma obra, sua picape é amassada por um guindaste. Teve o lado direito do crânio rachado, costelas quebradas, o quadril estilhaçado e perdeu o braço direito.
A recuperação é difícil. Além da dor, ele tem de lidar com a sua memória que foi estilhaçada de tal forma que ele não se lembra do nome das coisas simples. E isso o deixa muito puto.
“Eu estava puto da vida por ela estar de pé quando havia algo em que podia se sentar bem ali.
— Traz a amiga – disse eu – Senta na amiga.
— Do que você está falando, Edgar? – perguntou ela.
— A amiga, a colega! – gritei – Traz a porra da companheira pra cá, sua piranha zurra!”
Pg. 12
Confesso que ri nessas partes de “troca de nomes”. É uma coisa desesperadora, mas que King retrata com certo humor. Ou então meu humor é totalmente negro.
Ele acaba perdendo a esposa nesse processo de recuperação. Ela pede divórcio depois de Edgar tentar estrangulá-la em um dos momentos de raiva. Está desanimado, deprimido e pensa seriamente no suicídio, quando seu terapeuta lhe recomenda fazer algo que o deixe feliz.
“— Edgar, existe alguma coisa que o deixe feliz?
Refleti sobre o que havia na superfície daquela pergunta (a única parte que parecia segura) e falei:
— Eu costumava desenhar.”
Pg. 26
Então Edgar vai para a Flórida, para uma ilha chamada Duma Key, onde planeja construir uma nova vida. Lá ele começa a se transformar, a estabelecer metas para si mesmo, como caminhar na praia e, o mais importante, ele começa a desenhar.
Os desenhos de Edgar são diferentes logo no início. Eles tem um certo peso, um realismo que chega a ser assustador. Ele vive em uma casa alugada que dá o nome de Casarão Rosa, que fica de frente para o golfo do México. Ele começa pintando pores do sol e vai evoluindo... Chega a um ponto que ele percebe que está fazendo algo além de pintar, algo mais poderoso. E seu braço direito, o braço perdido, tem uma forte relação com isso.
Com o tempo ele conhece Wireman, um homem que seria um grande amigo de Edgar. Wireman cuida da Sra. Elizabeth Eastlake, uma senhora simpática, mas que está começando a sofrer com o Alzheimer. Porém, ela está sempre tentando conversar com Edgar, alertá-lo. E com isso ele descobre que seus desenhos, seu braço direito, tudo o que vem acontecendo tem a ver com a ilha, Duma Key. E, com o que dorme nela. Algo que acordou quando Edgar chegou.
“— Olá Sr. Freemantle, bem vindo a Duma Key. Foi um prazer vê-lo naquele dia, mesmo que brevemente. É de se imaginar que a jovem que estava com o senhor era sua filha, levando-se em conta a semelhança [...] No fim das contas, Duma Key nunca foi um lugar de sorte para filhas.”
Pg. 111
O livro e Edgar se desenvolvem de uma forma muito boa. No começo, Edgar é um homem aleijado e com raiva. Muita raiva de si mesmo, da situação e de quem tentasse ajudá-lo a lembrar o nome de uma cadeira. Com o passar do tempo, ele aprende a dominar a raiva e aceitar sua nova vida. Torna-se forte.
King sempre preza muito a amizade em seus livros e em Duma Key ela acontece entre Edgar e Wireman, que o ajuda em vários aspectos.
E a parte sombria é daquele jeito que te prende a leitura, lhe dando todos os detalhes para que a cena fique mais real e assustadora.
“Havia um homem na minha cozinha. Ele estava do lado da minha geladeira. Usava trapos encharcados que talvez um dia tivessem sido uma calça jeans azul e o tipo de camisa que a gente chama de gola canoa. [...]
Ele sorriu para mim, os lábios rachando ao se retraírem, revelando duas fileiras de dentes amarelos presos a gengivas pretas e antigas. “
Pg. 491
Leia o livro e descubra o que dorme em Duma Key. O que faz com que um navio apareça à noite. Um navio com uma tripulação muita antiga. O navio dos mortos.
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