Digão Livros 14/06/2020Ousadia e coragem não são iguais. Talvez nem sejam irmãs. Não sentam à mesma mesa.
A ousadia vem da imprudência, da impaciência, do desprezo pela vida ou pelo desespero.
O ousado muitas vezes não conhece o tamanho do seu feito ou desafio. Não planeja seus atos. O impulso, a sorte e a audácia os acompanham.
Não pode- se dizer que o ousado enfrentou o medo, pois o medo vem da autoconsciência, e o ousado não a possui.
Já a coragem possui valor elevado. Sua nobreza vem do planejamento, da paciência, da resiliência, da disciplina e treino extenuante. Do esforço e da labuta.
O corajoso não se vangloria do seu feito. Possui retidão de caráter.
O corajoso minimiza os riscos. Reconhece seu oponente, seus valores e pontos fortes. Planeja seus atos para minimizar o potencial de seu adversário, e domina seu medo perante o inimigo.
É mais fácil ser ousado do que corajoso. Demanda menos esforço, muitas vezes é mais intenso e provoca mais paixões. É mais fácil ser Nero do que Marco Aurélio. Contudo, nada é mais sólido e perene que a coragem.
Alcebíades era a encarnação da Ousadia. Inebriante, intenso, apaixonante. Sua chama iluminava o coração dos seus pares em uma Atenas que louvava a igualdade entre seus cidadãos, mas não conseguia disfarçar o fascínio provocado por seu filho mais querido.
Ciente do seu poder de sedução, a ansioso por deixar sua marca na história, Alcebíades convence sua Nação a enfrentar batalhas e a busca de conquistas grandiosas que conduziriam Atenas a um verdadeiro Império.
Nosso herói é impulsivo, conquistador e mulherengo. É erudito, inteligente e mulherengo.
Imprevisível - o melhor amigo, e o pior canalha.
Suas qualidades e defeitos o permitiram liderar Atenas, e ser temido por Atenas.
A linha entre o amor e o ódio é tênue. O filho amado de Atenas viu-se expulso de sua terra mãe. Seu ego, maior que suas virtudes, o colocou no comando dos soldados de Esparta. A dor do abandono ardia em seu peito, e só seria curado com vingança.
Alcebíades seduziu Esparta e também a esposa do Rei. Não demorou muito a fazer inimigos e ser expulso dessas terras também.
Alcebíades foi uma verdadeira metamorfose. Habitua-se aos costumes do povo a que servia, desde que conduzisse seus exércitos.
A sua inquietude foi a sua ruína.
O tempo passou e Alcebíades viu-se em meio a tribos selvagens, observado seu futuro algoz, Lisandro, espartano aliado dos Persas, impor seguidas e definitivas derrotas a Atenas.
A ousadia encontrou a coragem. A coragem foi paciente, resiliente e sistemática.
Atenas não aceitava Alcebíades pois temia a sua chama que era maior que os alicerces da Nação. Ao mesmo tempo, Alcebíades era a última esperança de Atenas e, quando Atenas caiu, eliminar a esperança foi preciso.
A Deusa da Necessidade foi responsável pelo assassinato desse gigante incompleto.